Saúde

A saúde não precisa de mais dinheiro

O escândalo do SAMU mostra que há dinheiro até bem aplicado, mas servindo a interesses que não são do poder público.

Toda crise financeiro do setor público acaba afetando investimentos em áreas básicas. A saúde acaba sendo um chamariz, uma vez que mexe com a vida de pessoas. E o sistema público cuida, mal, de pessoas que necessitam dele. E não tem outra saída.

Uma vez, questionado sobre a necessidade de aumento de verbas para a saúde, o promotor Marcelo Celestino, que coordenava as investigações sobre o setor em Goiás, me surpreendeu. Disse que era contra. E justificou dizendo que era precisa gastar melhor os recursos que já existem.

O escândalo envolvendo o SAMU de Goiânia assina embaixo do argumento do promotor. O SAMU é uma das mais interessantes inovações do sistema público de saúde. Foi incentivo com o dinheiro federal, estimulando municípios de médio e grande portes a formar suas frotas para aprofundar o atendimento em emergência. É uma ideia que continua salvando vidas, diariamente, em todo o Brasil.

Quando os profissionais que juraram, um dia, salvar vidas se entregam à disputa por um lucro mais fácil e mais seguro, aparentemente, é hora de repensar. O SAMU continua certo. Ele tem que ser renovado. Se for preciso, zerar e começar de novo.

Os envolvidos devem ser processados e punidos, exemplarmente. O que mais choca é uma investigação confirmar que um médico é capaz de aplicar um remédio apenas para piorar o quadro de um paciente para dar entrada na UTI. Ou que outro médico tenha a capacidade de atender um paciente na porta de um hospital e atender à ordem de rodar alguns bairros com o paciente em uma ambulância para atender a essa máquina de fazer dinheiro.

Outro dia, outra notícia chocou. A existência de uma OS ligada a membros de uma igreja, recebendo dinheiro para tratamento de dependentes químicos que ainda não estão no sistema.

Pode criar CPMF, pode dobrar o recurso destinado a saúde. Se os governos e as sociedades não criarem mecanismos e controle, será tudo jogado pelo ralo.

A lição do promotor é mais do que correta. Antes de mais verbas, precisamos aplicar melhor o que não tem. Aparentemente.