Aava Santiago foi apresentada ao Brasil em entrevista à Globonews

Aava Santiago ocupa um lugar bem peculiar no debate político brasileiro. E o país para além do Paranaíba começa a perceber isso. A entrevista que a vereadora de Goiânia concedeu na tarde de ontem ao Estúdio I da Globonews foi o momento em que ela se apresentou ao establishment tupiniquim. E ela chegou chegando.

Quem está ligado nas nuances do noticiário local já sabe das potencialidades de Aava há tempos. Ela tem talento pra coisa. Sua capacidade argumentativa, clareza de posicionamentos e formação teórica a colocam em local diferenciado no árido cenário político goiano. E ela ainda tem mais camadas a serem observadas.

A grande sacada de se autointitular como “malocrente” é um gol no ângulo. Mix de maloqueira com crente, a forma popular/vulgar como os evangélicos são chamados, a palavra sintetiza o que a Aava é. Mulher criada na periferia do Rio de Janeiro e construída na militância por uma escola pública de qualidade em Goiás, Aava tem DNA evangélico. Seu pai foi pastor da Assembleia de Deus, sua mãe é uma das maiores autoridades em Bíblia do meio evangélico brasileiro. Não é conversinha fake: Aava é realmente uma “malocrente”.

Só que ela também é outras coisas. Socióloga formada pela UFG, se conectou ao mundo da cultura alternativa de Goiânia nos tempos universitários. É totalmente de Humanas. Circula entre os culturetes com a mesma desenvoltura que anda pelas igrejas. Estabelece conexão entre o Martim Cererê e o púlpito, sai da Parada LGBTQIA+ e vai para o culto. Pertence aos dois ambientes com a mesma legitimidade.

Logo, estabelece pontes entre mundos que normalmente não se conectam. O feminismo satanizado por líderes religiosos picaretas é abraçado por Aava e traduzido pra realidade das igrejas. A defesa das minorias difamadas por pastores mequetrefes é pauta da ação pública da vereadora que compreende a essência do ato cristão de acolher.

E a cereja do bolo do perfil peculiar de Aava é sua filiação partidária: presidenta do PSDB em Goiânia. O óbvio seria, por seu discurso, estar em um partido de esquerda raiz. Mas ela optou por ser tucana e tentar resgatar a origem social-democrata da legenda depois de décadas abraçada à direita.

Depois da Globonews, acho que veremos Aava mais vezes na imprensa nacional. E talvez ontem tenha sido seu “born a star” à la Lady Gaga para a política brasileira. A ver.

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Reprodução