STF

Acervo deixado por Celso de Mello tem processos sobre Bolsonaro e Flávio

Cerca de dois mil processos estão nessa situação. Em alguns casos, há pedidos para que relator seja sorteado antes da posse de Kassio Cunha Marques

Ceslo de Mello chama Bolsonaro de "medíocre" que tem "aversão" à democracia (Foto: STF)

O ex-ministro Celso de Mello se aposentou do Supremo Tribunal Federal (STF) deixando um acervo de cerca de dois mil processos, entre eles alguns de grande repercussão. O mais conhecido é o inquérito que apura se houve interferência indevida do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal, mas também estavam no gabinete, entre outros casos, uma ação que questiona a decisão de dar foro privilegiado ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na investigação sobre a suspeita de “rachadinha” no período em que era deputado estadual no Rio.

Há ainda um recurso apresentado pela Advocacia-Geral da União (AGU) pedindo à Corte que esclareça qual o alcance da decisão a respeito da criminalização da homofobia sobre o princípio da liberdade religiosa.

Em geral, quando um ministro deixa o STF, os processos vão para seu substituto. O desembargador Kassio Nunes Marques foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a vaga e será sabatinado quarta-feira (21) no Senado. Mas, caso seu nome seja aprovado, não necessariamente ele herdará todas as ações.

No caso do inquérito que envolve o presidente, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, também parte da investigação, pediu que seja designado logo um novo relator entre os atuais ministros do STF, em vez de se aguardar a posse do novo integrante. A petição foi encaminhada ao presidente da Corte, ministro Luiz Fux, que ainda não tomou uma decisão.

Há um precedente no STF. Em 2017, quando morreu o ministro Teori Zavascki, que cuidava dos processos da Operação Lava-Jato, houve sorteio, e Edson Fachin se tornou o novo relator. Por isso, quando Alexandre de Moraes assumiu a vaga, ficou com a maior parte dos processos de Teori, mas não com os referentes à Lava-Jato.

Além do caso envolvendo o presidente, Celso tinha sob sua relatoria poucos inquéritos ao se aposentar, relacionados a parlamentares de menor expressão. E não havia nenhuma ação penal.

No acervo do ex-ministro, porém, há outro caso que envolve diretamente a família Bolsonaro. Estava com Celso uma ação apresentada pelo partido Rede questionando decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) que deu foro privilegiado ao senador Flávio Bolsonaro no caso da “rachadinha”.

Outro recurso sobre o mesmo tema, apresentado pelo Ministério Público do Rio, é relatado pelo ministro Gilmar Mendes.

Celso era responsável ainda por alguns processos que discutem questões relacionadas à pandemia de Covid-19, como uma ação que solicita providências para conter a disseminação da doença em presídios; outra que pede para o governo federal parar de recomendar a cloroquina — que não tem eficácia comprovada contra o coronavírus —; e duas que questionam restrições impostas a atividades religiosas.

Pela proximidade da aposentadoria, Celso foi excluído do sorteio de novos processos desde setembro, mas, mesmo assim deixou a Corte tendo o quarto maior estoque. Nas suas últimas semanas de trabalho, ele levou a julgamento processos antigos, da década de 1990, como uma ação na qual se decidiu manter a proibição do trabalho para menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz.