DESDOBRAMENTO

Acusações de fraude em cota de gênero criam tensão entre PL e União Brasil, de Caiado

Deputados alegam que o governador goiano conspira contra projeto de Wilder Morais, em 2026

Eduardo Prado: deputado estadual diz que tese do UB e do MDB é "teratológica" (Foto: Divulgação)

Um novo desdobramento no processo que acusa o Partido Liberal (PL) de fraudar a cota de gênero nas eleições de 2022 para a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) tem gerado forte reação na bancada do PL no legislativo goiano. O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e o União Brasil apresentaram um laudo pericial ao Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO), acusando o PL de adulterar fotografias e prints de conversas no WhatsApp.

A nova perícia, realizada pela Polícia Federal (PF) e encaminhada ao TRE por meio de petição assinada pelos advogados Anna Vitória Caiado, filha do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e seu marido, Alexandre Alencastro Veiga, além do ex-juiz Luciano Hanna, que representou o MDB, foi negada pelo desembargador Ivo Fávaro. Ele manteve a perícia inicial.  

O desembargador considerou desnecessária a nova perícia, pois a que já consta nos autos “é apta a comprovar suas teses” e destaca que os envolvidos devem aguardar a “audiência designada no contexto dos anexos”. A ação pode mexer na configuração da Alego, haja vista que os deputados estaduais Eduardo Prado, Major Araújo e Paulo Cézar Martins têm mandatos em curso. Eles contestam o novo fato e questionam a aproximação de Caiado com o presidente estadual do PL em Goiás, Wilder Morais, e até o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).

O que diz a ação?

Os partidos alegam que uma perícia revelou manipulações significativas nas imagens e documentos utilizados pelos investigados. Segundo o laudo pericial, há “robustos indícios de adulteração” que indicam a inserção posterior de adesivos e datas nas imagens, sugerindo que os registros de campanha foram forjados. A perícia destacou que essas manipulações foram feitas para simular a realização de atos de campanha pelas chamadas “candidatas laranjas”.

A petição reforça que a suposta adulteração de provas foi uma tentativa de ocultar a fraude ao cumprimento da cota de gênero. De acordo com o documento, as candidaturas femininas eram fictícias e não houve efetiva participação das candidatas na campanha, evidenciando uma tentativa de burlar as regras eleitorais.

Advogado de defesa do PL, Leonardo Pereira sustenta que não há fundamento na argumentação do União Brasil e do MDB. “A gente sustenta que não houve fraude porque uma das testemunhas depôs em juízo confirmando que fez campanha, comprovando que não é laranja”, disse ao Mais Goiás

“Além disso, quando a advogada não apresentou a documentação que o TRE exigiu, o partido quando tomou ciência do caso excluiu cinco homens para fazer a readequação da cota. Esses homens, três deles pediram à Justiça para retornar, porque queriam ser candidatos. O TRE aceitou. Então, se eles concorreram não foi a vontade do partido. O PL fez a parte dele e a readequação da cota foi feita para atender a legislação. Existem provas robustas que as duas candidatas que, apesar de terem os registros indeferidos, praticaram atos de campanha”, complementou.

Bancada do PL diz que Caiado quer enfraquecer Wilder

Líder da bancada do PL na Alego, o deputado estadual Eduardo Prado classifica a ação como “teratológica, sem fundamento jurídico qualquer”. O parlamentar afirma que o processo impede qualquer aproximação de Caiado com o PL, seja agora nas eleições municipais, ou mais adiante, em seu projeto presidencial para 2026.

“Isso, ao meu ver, inviabiliza o apoio de Bolsonaro a Caiado em 2026, que o governador vive pedindo. Como líder do partido, inviabiliza qualquer composição com o União Brasil em Goiânia”, pontua. Ele insinua, também, que é uma forma do governador tentar enfraquecer o projeto político de Wilder Morais para 2026. O senador ainda não confirma, mas nos bastidores trabalha sua pré-candidatura para a sucessão ao Palácio das Esmeraldas.

“Os três deputados estaduais que eles tentam derrubar, derrubam o PL em Goiás, um dos Estados em que o PL é mais forte. O governador age de forma equivocada e tenta derrubar a base de sustentação do PL em Goiás, prejudicando, inclusive, o senador Wilder Morais, que tem o projeto de se candidatar para governador em 2026”, crava. 

O deputado estadual Major Araújo também questiona a relação entre Caiado e Wilder. “Eu não entendo como o senador continua andando com o governador, mesmo após todos esses processos. Para mim, a relação política entre Caiado e o PL fica insustentável. Se depender dos deputados estaduais eleitos pelo partido, não haverá qualquer chance de diálogo”, pontua.