DESDOBRAMENTO

Acusado de corrupção e de grampear telefones, secretário diz: “tudo mentira”

Titular da secretaria de Segurança Pública diz que já tomou providências: registrou dois boletins de ocorrência e vai cobrar explicações na justiça

“Estou tomando providências”, afirma o secretário de Segurança Pública (SSP), Rodney Miranda, sobre o áudio em que Jorge Caiado, primo do governador Ronaldo Caiado (DEM),  acusa o titular da SSP de grampear telefones ilegalmente e de desviar R$ 1 milhão do Corpo de Bombeiros. “Tudo mentira, não sei porque fez isso, mas já registrei dois boletins de ocorrência e vou acioná-lo na Justiça para apresentar provas do que falou.”

Os boletins de ocorrência, explica, são dois: um contra Jorge e o outro para investigar quem está difundindo o áudio. Rodney afirma ainda que sabe quem e por que vazou a gravação, mas não pode adiantar. “No momento certo”, diz. “Estou fazendo um trabalho sério e honesto e não vou permitir que ninguém levante qualquer suspeita em relação a mim. Minha vida é limpa e absolutamente compatível com o meu trabalho”.

Caso antigo

Em um dia que ficou marcado pela repercussão do áudio, a oposição trouxe à baila um caso  antigo de grampos telefônicos que envolveu o secretário. Em 14 de dezembro de 2005, segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Rodney pediu demissão da Secretaria de Segurança do Espírito Santo depois que se descobriu que havia um caso de grampo telefônico na Rede Gazeta. Segundo Rodney, houve um erro por parte da operadora e ele, inclusive, diz que foi indenizado por isso, no ano passado. Ele diz ao Mais Goiás que deixou o cargo, naquele momento, para evitar o mal estar.

“Em 2003, a Polícia Civil fez uma série de requerimentos para investigar o assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, e um dos números enviados pela operadora foi errado. O número era para ser o da Telhauto, mas mandaram o da Gazeta.” De acordo com ele, a polícia descobriu o erro, informou o judiciário, mas o jornal achou por bem divulgar. “Então, eu resolvi me afastar, mas processei, junto com um delegado e uma promotora, e ganhamos.”

À época, inclusive, ele já havia alegado erro por parte de companhia telefônica, que teria fornecido o número de telefone errado, segundo reportagem da Folha. A interceptação foi autorizada pelo desembargador Pedro Valls Feu Rosa em 28 de março daquele ano, cinco meses depois de haver sido solicitada por dois delegados da Polícia Civil. O magistrado, porém, disse ter sido induzido ao erro. Segundo dito, ele acreditou que o pedido era para monitorar uma empresa de fachada chamada Telhauto.

O grampo errado foi descoberto após Suzana Tatagiba, então presidente do Sindicato dos Jornalistas do Espírito Santo, ter recebido um envelope anônimo com conversas transcritas com papel do governo do Estado. A investigação, que envolveu o grampo, tinha relação com o assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, morto a tiros em março de 2003, em Vila Velha (ES), e a Telhauto seria de um dos envolvidos.

Sem chance de pedir exoneração

Questionado sobre a possibilidade de pedir exoneração, ele diz que não existe. “Quem deve se retratar é quem falou”, declara. “Chegaram a dizer, antes, inclusive, que seria candidato, mas não tem nada disso”, expande o assunto.

Rodney afirma, ainda, que já conversou com o governador Ronaldo Caiado, que disse que estava tudo certo e que resolveria a questão. O titular da Segurança Pública disse ter avisado ao gestor sobre as providências que irá tomar.

Agora

No áudio atribuído a Jorge Caiado, o mesmo acusa Rodney der grampeado seu telefone e de pegar R$ 1 milhão que seria do Corpo de Bombeiros. Jorge também o ataca por querer “explodir o pessoal” dele que está no governo. A autoria do áudio foi confirmada pelo deputado estadual Eduardo Prado. “Mandei uma mensagem para o Jorge, que confirmou”, disse o parlamentar.

No áudio, a que o Mais Goiás teve acesso, Jorge Caiado diz o seguinte: “Oi secretário Rodney, tudo bem? Aqui é Jorge Caiado e eu quero falar com o senhor o seguinte: o senhor tem que largar de ser cabra safado (e mais uma série de palavrões). Você não vem querer grampear telefone meu, não sou bandido, o senhor me respeita seu filho da #$%&. Então, você está querendo explodir o governo do Ronaldo Caiado. Eu não admito e não aceito. Você fica levando todo mundo na conversa, você é um 171, um safado. E eu não sou Eurípedes não. Eu quebro a sua cara, seu moleque safado. Tá certo? Você que pegou dinheiro do governo, R$ 1 milhão do bombeiro. Você fez um trato e quer explodir o pessoal nosso todinho. Gente da minha confiança. (Palavrões). Você não é homem, você é frouxo, covarde. Marca um lugar que você quer ir, comigo. E chama seus amarra-cachorros, esses ladrãozinhos. Você me respeita (palavrões).”

O portal entrou em contato com Jorge Caiado, que disse que não gostaria de falar sobre o assunto. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás informou que “está tomando conhecimento do conteúdo do áudio e que tomará as providências cabíveis, já que possui conteúdo ofensivo e inverídico”.