Análise: Ainda não há candidaturas competitivas
É a primeira vez, desde as eleições de 1989, que o país chega tão perto de uma campanha ao Planalto sem candidaturas fortemente ancoradas em intenções de voto e máquinas pluripartidárias
A pesquisa Datafolha divulgada neste domingo demonstra que, a cerca de cinco meses das eleições deste ano, o Brasil ainda não tem candidatos presidenciais claremente competitivos. É a primeira vez, desde as eleições de 1989, que o país chega tão perto de uma campanha ao Planalto sem candidaturas fortemente ancoradas em intenções de voto e máquinas pluripartidárias.
O Datafolha apresenta três tipos de pré-candidatos:
1) Aqueles com número (Jair Bolsonaro, Marina Silva), mas sem estrutura partidária; 2) Aqueles com estrutura partidária, mas sem número (Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles); e 3) Aqueles sem número e estrutura partidária (a renca).
A condenação de Lula e sua consequente prisão eliminaram o único candidato que reunia intenções de voto e estrutura partidária. Há candidatos promissores do ponto de vista eleitoral, é evidente – como Jair Bolsonaro, Marina Silva e Joaquim Barbosa. Mas candidatos promissores não se configuram, automaticamente, em candidaturas competitivas, com chances de ganhar as eleições. Especialmente em tempos de incertezas, em que boa parte dos brasileiros não sabem em quem votar – e no qual a herança dos votos em Lula permanece, em larga medida, sob disputa.
Candidaturas competitivas precisam, no mínimo, de uma combinação virtuosa entre número, estrutura partidária e discurso. Neste momento do país, baixo risco de ser alvo da Lava Jato também é importante.
Bons números nas pesquisas – no mínimo 10% – indicam a viabilidade de um candidato. Os meses de exposição na pré-campanha, até julho, oferecem a chance de se alcançar esse patamar mínimo. O trio Bolsonaro, Marina e Joaquim já atingiu esse piso. Mas eles ainda precisam de máquinas políticas que os sustentem durante a campanha. (Ciro Gomes está quase lá, mas a língua e a mão dele – vide a confusão do pescotapa em Porto Alegre – mantêm o pré-candidato do PDT com um dígito nas pesquisas).
Estrutura partidária é crucial. Sempre foi. Nesta campanha, ainda mais. Ela será mais curta na TV (35 dias, ante 45 em 2014). Como o Supremo proibiu doações de empresas, o dinheiro será mais escasso. E ele será centralizado pelos donos dos partidos. Quanto maior a legenda, mais dinheiro e tempo de TV ela tem para o candidato que lançar – ou apoiar. O que se chama de máquina partidária também é fundamental para montar palanques em estados e cidades; o apoio de chefes políticos locais fatura votos, especialmente em cidades médias e pequenas.
Até julho, e mesmo depois, entre agosto e novembro, haverá a Lava Jato. Segue como fator de instabilidade eleitoral, sobretudo para os candidatos lançados pelos maiores partidos, como PT, PSDB e PMDB – os mais investigados na operação.
Estamos em pré-campanha. Nesse período, os candidatos buscam afirmar-se e encontrar um discurso – algo que os identifiquem com os eleitores. Os partidos começam a se organizar em torno de quem parece ter mais chances. Até julho e agosto, nas convenções que definirão as chapas, haverá balões de ensaio e manobras mil, para que partidos possam vender mais caro seu apoio aos que exibam mais chances.
É o caso, sobretudo, das legendas que integram o chamado centrão, como PP, PR, PTB e PSD. Os chefes desses partidos ainda aguardam a definição do cenário pré-eleitoral para decidir quem apoiar. São políticos que farejam poder. Atrelarão suas máquinas – com tempo de TV, palanques regionais e, talvez, dinheiro – ao candidato de centro ou centro-direita que parecer mais promissor e melhor souber negociar. Não necessariamente será o tucano Geraldo Alckmin, embora ele siga como favorito dessa turma. Depende, como sempre, do desempenho nas pesquisas.