ENTREVISTA

Aparecida: Vilmar dá como certo apoio de Caiado e diz que faltou sinceridade a Alcides

Prefeito também falou pela primeira vez em uma entrevista sobre a operação da Polícia Civil que mirou aliados e investigou eventuais irregularidades no período que esteve frente a presidência da Câmara dos Vereadores de Aparecida

Alçado à condição de prefeito de Aparecida de Goiânia às vésperas da eleição em 2022 quando o então titular Gustavo Mendanha (PRD) renunciou para disputar o Governo de Goiás contra o atual governador Ronaldo Caiado (União Brasil) – que foi reeleito – Vilmar Mariano (MDB) terá a missão de em 2024, encabeçar a chapa governista que irá disputar a eleição.

Quis o destino que o até então principal nome da oposição goiana, Gustavo Mendanha levantasse bandeira branca ao governador Ronaldo Caiado e meses após o período eleitoral, ambos se aliassem no mesmo palanque convergindo os mesmos projetos políticos. No alto da Cidade Administrativa, Vilmar Mariano observou essas movimentações com otimismo a ponto de projetar uma “frente ampla”.

É o que ele revela nesta entrevista ao portal Mais Goiás publicada na manhã desta terça-feira (21/11). “Tenho certeza absoluta que esse grupo estará junto. Gustavo [Mendanha], Daniel [Vilela], [Ronaldo] Caiado, Veter [Martins] e todas as lideranças do município. Vamos fazer uma frente ampla de quase 20 partidos para o ano que vem”, diz confiante do apoio do governador e de seu vice.

O fato de encabeçar a chapa também não o incomoda. “Eu pedi voto ao Gustavo e agora o Gustavo vai pedir pra mim. Temos um relacionamento de muita cumplicidade aqui em Aparecida. Pedir voto pra gente é sempre mais fácil do que pedir para os outros”, brinca. 

Mas o destino – ou a articulação política – não reservaram apenas aglutinação no grupo do prefeito. Até o final do primeiro semestre de 2023, Vilmar e o deputado federal Alcides Ribeiro (PL) caminhavam juntos de mãos dadas para 2024. No entanto, a relação começou a azedar e o rompimento foi consolidado no começo de agosto deste ano com exonerações de indicados do parlamentar na Cidade Administrativa. 

Era o começo de uma polarização entre o atual prefeito e o deputado federal que afirma ter o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como trunfo para sua campanha que teve seu pré-lançamento marcado no fim de outubro com presença de inúmeras lideranças bolsonaristas em Aparecida de Goiânia.  

Vilmar não vê erro em sua articulação política que tenha favorecido o rompimento junto ao então aliado e joga a responsabilidade no deputado federal. “O professor nunca chegou em mim e disse que não estaria comigo. Faltou a ele um pouco de sinceridade e honestidade comigo em chegar em mim e dizer que não estaria comigo, falar para mim: “olha, Vilmar eu não vou estar com você porque decidi ser candidato”, revelou. “Ele não teve a hombridade de chegar em mim e dizer: “Vilmar, eu decidi e vou ser candidato”, desabafou.

Nessa entrevista exclusiva, Vilmar também falou sobre polarização entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reforma administrativa, demandas administrativas, a expectativa do empréstimo junto ao Novo Banco do Desenvolvimento (NBD), também conhecido como Banco do Brics, além de comentar pela primeira vez em uma entrevista sobre a operação da Polícia Civil que mirou aliados e investigou eventuais irregularidades no período que esteve frente a presidência da Câmara dos Vereadores de Aparecida.


LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA COM O PREFEITO DE APARECIDA DE GOIÂNIA, VILMAR MARIANO (MDB)

Domingos Ketelbey: Prefeito, o senhor assumiu o cargo a partir de uma renúncia de Gustavo Mendanha, que foi eleito em 2020. O que muda entre uma campanha e outra?

Vilmar Mariano: Não vai mudar nada. Eu pedi voto ao Gustavo e agora o Gustavo vai pedir pra mim. Temos um relacionamento de muita cumplicidade aqui em Aparecida. Pedir voto pra gente é sempre mais fácil do que pedir para os outros. Eu sei das minhas qualidades e da minha capacidade. Pedindo voto junto comigo vai estar o Daniel, o Caiado e o Gustavo. Todos pedindo voto para esse grupo que está à frente da prefeitura. 

Então tem a confiança e conta com o apoio do governador Ronaldo Caiado para esse projeto?

Vilmar Mariano: Eu não estou confiante. Tenho certeza absoluta que esse grupo estará junto. Gustavo, Daniel, Caiado, Veter e todas as lideranças do município. Vamos fazer uma frente ampla de quase 20 partidos para o ano que vem.

O Tesouro Nacional deu sinal verde para o empréstimo do BRICS na semana passada. Quais os próximos passos?

Vilmar Mariano: É um empréstimo internacional e tem suas burocracias. Nesses um ano e sete meses que estamos a frente do governo, acelerou muito. O Einstein Paniago, o Fábio Camargo e o Arthur têm ido a Brasilia constantemente. Teve dois encontros com o Fernando Haddad [ministro da Fazenda]. Já passou em todas as comissões e convalidou no Tesouro Nacional. Agora deve ir para a Comissão de Assuntos Econômicos para que os senadores convalidem e a gente assine o contrato na sequência.

Já falou com o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, o senador Vanderlan Cardoso?

Vilmar Mariano: Já falei com o senador Vanderlan Cardoso. Ele é um cara espetacular, tem nos ajudado muito. Estamos fazendo uma frente de asfalto lá no Jardim Dom Bosco que foi viabilizado por ele via Codevasf. Ele é muito focado, municipalista e que sabe o que o município precisa. Ele vai nos ajudar. Temos um relacionamento muito bom com os três senadores. Tanto com o Vanderlan, o Kajuru e o Wilder Morais. Não vejo dificuldade nenhuma dessa pauta no Senado Federal.  

Ele afirma que vai lançar candidato em Aparecida. O senhor não acha que isso pode ser um entrave lá na frente?

Vilmar Mariano: Eu nunca vi ele dizer isso. Para mim, Vanderlan fala que vai estar no nosso projeto político. Já estive com o Samuel Almeida também e sempre me garantem que estarão junto conosco. Sempre eles me dizem que estarão comigo em Aparecida. Eu e o senador temos uma amizade muito próxima. Ele é amigo de Aparecida, amigo pessoal meu. Tenho certeza que estaremos juntos. Independente de questões políticas o fato é que o município vai ganhar muito com isso, ele foi muito bem votado aqui e isso não vai ser um empecilho para aprovação do projeto na CAE.

Então acredita numa aliança com o PSD no seu projeto de reeleição?

O PSD vai estar conosco em Aparecida, não tenho dúvidas disso. 

O senhor fez uma grande reforma administrativa recentemente e há duas semanas promoveu trocas de cargos entre nomes do primeiro escalão, na Articulação Política, Articulação Metropolitana e Habitação. Vai promover novas mudanças?

Vilmar Mariano: A priori não. Não temos nada em vista. As mexidas que fizemos um tempo atrás foram para trazer para base partidos que já estavam conosco e o colocamos em espaços no primeiro escalão. Esses partidos vieram. Agora, fiz uma mexida dentro do próprio governo. O Marlúcio que estava na Articulação Política foi para Habitação, o Carlinhos foi para a  Articulação Política e o Divino que estava na Habitação foi para Metropolitana. Isso é para dar mais agilidade. O Carlinhos está à frente de montagens das chapas de vereadores dos partidos da base. O Marlúcio foi para a Habitação a pedido do próprio Adriano do Baldy.

Recentemente, houve uma especulação que o senhor trocaria a Valéria Pettersen na secretaria do Meio Ambiente. Isso irá acontecer?

Vilmar Mariano: Houve essa especulação sim, mas como a Valéria é vereadora, precisa se afastar em abril para se candidatar e não vai poder continuar como secretária. A partir deste momento vamos mexer, até lá, não tem nada definido.

O senhor conta com a saída de outros secretários nesse período de descompatibilização?

Vilmar Mariano: Ainda não me falaram nada sobre isso. Nenhum outro secretário, superintendente ou secretário-executivo conversaram comigo sobre eventuais projetos de vereador. Mas isso há um prazo. Até o dia 30 de março quem quiser se descompatibilizar, poderá o fazer. A Valéria é única certeza porque ela tem o projeto político de se candidatar e quem vai se candidatar não pode continuar no cargo a partir do dia 6 de abril. Ela vai se descompatibilizar no dia 30 de março.

Qual sua principal prioridade com os recursos do empréstimo do BRICs em mãos?

Vilmar Mariano: O sonho meu é o do Maguito, do Ademir, Norberto, do Macedo, do Maguito, Gustavo e agora meu: é asfaltar todas as ruas habitáveis de Aparecida de Goiânia. Isso é possível. Posso não conseguir até ano que vem dado o tempo que não vamos ter suficiente. Mas já estará todo licitado para que após o período chuvoso de 2024 a gente comece obras em todos os bairros de Aparecida. Digo a você: vamos ser o maior canteiro de obras do país ano que vem.

O senhor já disse outras vezes que Aparecida vai se tornar o maior canteiro de obras do Brasil. Será o mote da sua campanha de reeleição?

Vilmar Mariano: Eu não tô nem preocupado com a campanha. Tô preocupado com gestão. Quando começar a campanha vou ‘caçar’ qual a minha bandeira mas minha bandeira é fazer o melhor para o povo de Aparecida. Eu disse a você lá trás que Aparecida iria virar o maior canteiro de obras após o período chuvoso e vou dizer de novo: temos 235 mil reais licitados, estamos licitando mais 370 milhões. Estamos falando de aproximadamente 700 milhões que vão ser investidos em Aparecida, mais contrapartidas que vão ser feitas com nossa própria estrutura e vamos chegar aos 900 milhões de reais em investimentos.

Até o fim do primeiro semestre deste ano você e o professor Alcides eram aliados mas a relação começou a azedar culminando com o rompimento. O que de fato ocorreu?

Vilmar Mariano: Ele estava apalavrado comigo, como eu trabalhei diuturnamente para que ele fosse eleito deputado em Aparecida. Ele foi eleito deputado em Aparecida e elegemos um deputado de Aparecida para estar na Câmara Federal nos representando. Não sei por qual motivo ele desistiu e desapalavrou conosco se lançando pré-candidato a prefeito. Independente de ser ou não ser candidato de Aparecida, temos de trabalhar para fazer uma grande gestão e lá na frente poder ganhar a eleição.

Não teve erro da sua articulação política?

Vilmar Mariano: Eu acho que não. O professor nunca chegou em mim e disse que não estaria comigo. Faltou a ele um pouco de sinceridade e honestidade comigo em chegar em mim e dizer que não estaria comigo, falar para mim: “olha, Vilmar eu não vou estar com você porque decidi ser candidato”. O que se via eram recados por veículos de comunicação que não concordava com nossa gestão. Que o André [Rosa] era ruim, que o Tatá [Teixeira], era ruim. A hora que os dois deixaram a gestão, já era bom, né? Porque ele [Alcides] convidou eles para compor o grupo dele. Por motivos de fidelidade ao Gustavo, no entanto, nem o André nem o Tatá vai estar com ele. Ambos vão estar comigo no nosso palanque e no nosso projeto.

Depois desse rompimento vocês chegaram a conversar?

Vilmar Mariano: Nenhuma vez. Ele não teve a hombridade de chegar em mim e dizer: “Vilmar, eu decidi e vou ser candidato”. Eu agiria dessa forma, até mesmo porque construímos um relacionamento muito sólido no período eleitoral. Fui um grande parceiro na reeleição dele. Não sei se sem o nosso apoio eu ganhava eleição. Elegeu um deputado para estar no Congresso Nacional. Infelizmente, o povo vai cobrar isso dele. Ele tá traindo os votos que o eleitor de Aparecida deu a ele para elegê-lo a Câmara dos Deputados. 

Alcides aposta na polarização nacional como trunfo para sua campanha. Chegou até a trazer o ex-presidente Jair Bolsonaro no lançamento da pré-campanha. O senhor também vai explorar ela de alguma forma?

Vilmar Mariano: Eu particularmente, não acredito nisso. Se você falar da eleição entre presidente e governador, pode ser que polarize sim. Eleição municipal é outra história, completamente diferente. O povo quer saber se o prefeito fez uma obra, tá fazendo uma boa gestão, se tem relacionamento direto com a população. O povo não quer ver questão do Bolsonaro ou Lula não. A vinda do Bolsonaro aqui eu acho que não influenciou em nada a campanha do Alcides, até mesmo que o Bolsonaro disse em alto e bom som: ‘não estou aqui para lançar ninguém, estou aqui para o aniversário do Alcides’. Se essa polarização existisse ele já tinha falado nessa ocasião.

Lá em 2024, se for pra ter o palanque de Lula ou Bolsonaro em Aparecida, vai preferir qual cabo eleitoral?

Vilmar Mariano: Eu vou precisar dos 57% que votaram no Bolsonaro e vou precisar dos 43% que votaram no Lula. Eu sou um cara de centro-direita mas não vou tomar partido. Meu partido é o povo de Aparecida de Goiânia.

Recentemente, uma operação da Polícia Civil fez diligências  na casa de assessores do senhor e de aliados políticos como o ex-prefeito Gustavo Mendanha e seu atual secretário de Desenvolvimento Urbano, Davi Loureiro. A apuração era da época que o senhor era presidente da Câmara dos Vereadores de Aparecida. Como viu essas diligências?

Vilmar Mariano: Com muita naturalidade. Visitou dois ex-funcionários da Câmara, foi na casa do Gustavo Mendanha. Não encontraram nada que pudesse comprometer. Agora nós ganhamos na Justiça, o desembargador deu ganho de causa para paralisar as investigações pois haviam muitos vícios. Temos total certeza que tudo foi transparente com relação a licitação, não vejo nenhum problema com relação a isso. Tô muito tranquilo com relação a isso.

Considera uma vitória essa decisão do desembargador? Teve gente nos bastidores que dizia que essa operação tinha objetivo de afetar principalmente a sua imagem…

Vilmar Mariano: Eu fico triste por fazer uma investigação dessas que não deu em nada. Sabemos que foi na casa do Gustavo, de dois assessores meus. Eu fico triste com a forma como agiu essa investigação. 

Para o prefeito chegar competitivo em 2024 é necessário uma grande estrutura. Como está se preparando para o pleito? 

Vilmar Mariano: A gente tá montando uma grande aliança. Temos 15 partidos apalavrados conosco. Acredito que podemos chegar a 20. Estamos com apoio integral do Gustavo e do Daniel. O governador ainda não me disse que estará conosco, mas vai estar dado as conversas que tenho com o Gustavo e com o Daniel e dado o acordo que existe entre o MDB e o União Brasil. Onde um estiver na cabeça de chapa o outro estará junto na vice. Aqui em Aparecida, eu serei o cabeça de chapa do MDB em Aparecida e certamente o União Brasil estará conosco. Estou muito tranquilo. Pesquisa não me incomoda nem empolga. O que me empolga dia-dia é trabalhar diuturnamente para fazer de Aparecida a melhor cidade para se viver do país. Aí estarei capacitado para ser candidato a prefeito.

E qual o perfil do vice dos sonhos?

Vilmar Mariano: O vice dos meus sonhos é o que mais agregar na chapa. Eu não escolho vice, ele será definido no período das convenções eleitorais. Eu nunca pensei no vice porque eu nunca pensei na eleição em si. A partir de abril, pode ser que me venha a cabeça. Se será uma mulher, um empresário, um religioso. Agora eu não posso dizer isso. Vice é peça de composição e ouvirei todos os partidos da base no período certo.