ELEIÇÕES

Apenas sete mulheres concorreram a prefeita de Goiânia desde a redemocratização

Até as convenções partidárias, que tiveram prazo final na última quarta-feira (26), Goiânia teria o…

Até as convenções partidárias, que tiveram prazo final na última quarta-feira (26), Goiânia teria o maior número de mulheres candidatas à prefeitura de Goiânia desde a redemocratização: quatro. No entanto, manobras para costura de alianças interpartidárias retiraram duas do pleito: Dra. Cristina (PL) e Maria Ester (Rede). Deixando o quadro de 14 candidatos com apenas duas mulheres. O pequeno número é comum na história das eleições da capital.

A participação feminina nas eleições é parca quando comparada com a masculina. Dos 10 pleitos realizados desde a redemocratização (a partir de 1985), apenas seis contaram com candidatas e somente sete nomes participaram com postulantes à prefeitura de Goiânia. Nenhuma delas chegou ao segundo turno.

A primeira participação feminina após a redemocratização foi em 1988, quando Maria Valadão concorreu pelo PDS e obteve 25,9% dos votos. Na ocasião, ela ficou em terceiro lugar, atrás de Nion Albernaz (PMDB) e Pedro Wilson (PT).

A ex-senadora Lúcia Vânia, que concorreu pelo PSDB, foi a candidata que obteve mais votos (123.594) ficando em terceira nas eleições municipais de 2000. Eleição essa que também teve o maior número de mulheres candidatas. Além de Lúcia Vânia, concorreram Isaura Lemos, pelo PDT, e Miriam Ribeiro, pelo PSTU.

Dificuldades

A historiadora e professora de Educação da PUC Goiás, Lúcia Helena Rincón, avalia que as mulheres, por vários fatores, têm dificuldades para lidar com a participação político-partidária. Seja pela educação que tiveram, seja pela cultura, além de situação de vida que impõe dupla ou até tripla jornada às mulheres. Fatores esses que dificultam participação no espaço público.

Lúcia Rincón, que é feminista e compõe o Centro Popular da Mulher, afirma que falta ainda histórico de participação política para as mulheres. Assim, salienta que a maioria das que conseguiram vencer na política têm garantias familiares de passado e estrutura de apoio.

“Essas dificuldades são grandes e no dia-a-dia da vida partidária se manifestam. Quero manifestar minha solidariedade e minha indignação com a utilização da luta que construímos, pelo espaço das mulheres na vida pública para ser respeitado, para poder angariar atenção da sociedade e depois afetar as companheiras com golpe sujo. Algo comum nas estruturas partidárias”, disse em referência às candidaturas de dra. Cristina e Maria Ester.

Manobras

Dra. Cristina reforça que para as mulheres é sempre mais difícil a participação política, pois têm menos tempo neste tipo de atividade e estão em menor número. Essas questões fazem diferenças em como são vistas. A vereadora diz que o processo que viveu, em que sua candidatura foi negada pelo partido em prol de aliança com Maguito Vilela (MDB), foi uma “demonstração clara de como é difícil fazer política de maneira séria e correta em Goiânia”.

“Acreditava ser importante apresentar um projeto distinto desse que está sendo divulgado como polarizado. Não aceitei fazer parte de conchavo, de negociatas. Havia um compromisso do partido e meu com a chapa. Rejeitei acordos e foram direto nos donos do partido. A velha política mostrando como que se faz para retirar alguém com chances de se tornar a terceira via”, aponta.

A arquiteta e urbanista Maria Ester, da Rede, também esbarrou em negociações partidárias. Ela afirma que houve desorganização do partido e chegou até o último dia de registro da chapa sem que a executiva nacional deixasse claro quais os recursos financeiros Goiás teria para fazer a campanha. Ela diz ainda que a condição da coligação, de acordo com a Rede, seria para viabilizar a campanha, desde que não houvesse a candidatura majoritária.

“Eu não acreditei nos argumentos, tentei argumentar mas a executiva municipal impôs a condição: ou eu abriria mão ou o porta-voz municipal se retiraria”, afirma.

Maria Ester ainda diz que é preciso considerar a estrutura machista da sociedade. Ela relata que ouviu frases como “seu lugar não é aqui…”; “isso você não vai conseguir fazer…”; “devia procurar outra coisa para ocupar o tempo…”.

“Então a dificuldade que eu tenho toda mulher que se atreve a furar essa bolha machista, tem. E não é na política, é em toda atividade que envolve produção e liderança”, aponta.

Candidatas a prefeita nas eleições em Goiânia:

1988

Maria Valadão (PSD)

2000

Lúcia Vânia (PSDB)
Isaura Lemos (PDT)
Miriam Ribeiro (PSTU)

2004

Rachel de Azeredo (PFL)
Isaura Lemos (PDT)

2012

Isaura Lemos (PCdoB)

2016

Adriana Accorsi (PT)

2020

Adriana Accorsi (PT)
Manu Jacob (Psol)