Após convocar SMS por sete vezes, CEI da Saúde sabatina Iris Rezende na Câmara
Prefeito é acusado de ser conivente com má gestão de Mrué na Saúde Municipal. Íris afirma que pasta será exemplo de competência em 60 dias
Depois de convocar e ouvir a secretária municipal de Saúde Fátima Mrué por sete vezes, chegou a vez da Comissão Especial de Inquérito (CEI) da Saúde sabatinar o líder do Executivo goianiense. Na manhã desta sexta-feira (27), Íris Rezende é confrontado sobre irregularidades encontradas por parlamentares na gestão da pasta, que segundo a CEI, vive um momento de crise, como falta de insumos, superfaturamento de contratos, carência de leitos de UTI, por exemplo, causados por “falta de competência” na gestão dos recursos do município.
Na primeira etapa do crivo legislativo, Íris tentou justificar a permanência de Fátima Mrué no comando da secretaria. Acusado por parlamentares, como Elias Vaz (PSB) e Dra. Cristina (PSDB), respectivamente relator e vice-presidente da CEI, de ser conivente com a “falta de capacidade administrativa” de Fátima à frente da pasta.
Íris chegou a receber críticas até do correligionário e presidente da comissão vereador Clécio Alves (MDB), que fez questão de pontuar, com “a mão direita sobre a Bíblia”, que a CEI não foi instalada para prejudicar Mrué. “Em nome do povo, os trabalhos da SMS deixam a desejar. O intuito é ajudar a moralizar a Saúde, que o sr. Recebeu muito pior. Se a saúde estivesse em outra situação, a imprensa e a população não estariam apontando tantos fatos, como falta de ambulâncias, remédios, insumos”.
Para Clécio, não foi falta de aviso. “Alertamos a Fátima, que esteve aqui várias vezes, sobre os problemas e ainda não tomou providência nenhuma. Ao invés disso, ela chegou a dizer que, durante as inspeções nas unidades, os vereadores da CEI estavam levando contaminações aos pacientes”.
“Opinião distinta”
Segundo a vereadora, atendimentos da atenção básica estão sendo comprometidas por falhas de gestão. “Pacientes deveriam permanecer até 24h em espera por leito de UTI. Não conseguimos cumprir essa regra porque o software que gerencia as vagas é problemático. Isso é um problema de gestão na atenção básica. A secretária não tem competência. Desconstruiu um modelo que existia. Onde vamos a população pede por solução”.
Ao argumentar que embora a mídia, a população e parlamentares tenham uma “opinião distinta”, ele acompanha de perto o trabalho de Mrué e não se ausentaria da responsabilidade de remover um gestor, caso necessário, por incompetência ou incapacidade de suprir as expectativas.
“Vivo a administração dia e noite. Nunca titubeei em retirar auxiliar que tenha cometido erro grave ou que não tenha suprido expectativa. Sempre tive essa coragem. Errei ao ter deixado a prefeitura para disputar o governo. Me candidatei novamente, de última hora, para reparar esse erro. Só nós sabemos o que ela [Fátima] tem enfrentado, mas em 60 dias Goiânia será um espelho de competência nessa área”, defendeu
Nervosismo
Íris então apresentou dados oficiais da prefeitura sobre o número de atendimentos realizados em um dia, até as 8h desta sexta. “Só hoje, as unidades da rede municipal atenderam 6.680 pessoas. Temos registrado uma média de 8 mil diariamente”. Ele ainda questionou a eficiência do estado, que assumiu atendimentos de questões traumáticas e complexas. “O Estado assumiu e, de repente, o Hugo foi terceirizado. Um hospital que fazia 800 atendimentos por dia, passou a fazer 120. E só atende trauma. Infarto e outras coisas estão indo para os Cais, enquanto deveriam ir para os hospitais do Estado”.
Neste instante, Rezende foi interrompido por Dra. Cristina, que questionou a credibilidade dos dados apresentados. “Essas são informações distorcidas. Essa quantidade de atendimentos por dia? Dizer que o paciente tem que se direcionar a outra unidade por que onde ele está ele não é possível não é atendimento, é orientação. E isso está sendo contado como atendimento”.
Nervoso, Íris pediu que parlamentar não colocasse em dúvida a veracidade de dados oficiais e reforçou que, em encontro com o governador José Eliton (PSDB), fez um “combinado” para que juntos traçassem um plano para o atendimento á população. “Vamos sentar com secretários para dar essa contrapartida. Daqui 60 dias a população estará feliz. Estou vivendo mais de perto todos os atos da saúde”, afirmou. Clécio precisou intervir para acalmar os ânimos e passar a palavra a Elias Vaz.
Raio X
O relator Elias Vaz, por sua vez, lembrou que a comissão identificou superfaturamento na frota, com gasto de cerca de R$ 14 milhões em cinco anos com a Útil Pneus. Foram encontradas planilhas que detalhavam alto custo de manutenção de ambulâncias que, durante inspeções, foram encontradas sucateadas no pátio do Centro de Zoonoses. “Tem veículo que custa R$ 40 mil, recebeu manutenção de até R$ 84 mil e, após um ano e meio, encontramos o carro com o motor fundido. Esse contrato é uma coisa fraudulenta”, ressaltou.
Vaz também sublinhou o gasto de mais de R$ 11 milhões em dois anos com a terceirização do serviço de Raio X. Segundo ele, enquanto equipamentos novos estão parados e encaixotados no almoxarifado da prefeitura, exames deixam de ser feitos por falta de manutenção e insumos para as máquinas, que também estão deterioradas. “Notificamos a secretária de Saúde sobre essa situação, ela disse que iria tomar providências, mas fizemos nova diligência no início deste mês e os aparelhos continuam lá, do mesmo jeito. Nada foi feito. É de uma incompetência assustadora”.
Em resposta, o prefeito retomou o argumento de que “acompanha de perto” o trabalho desenvolvido por Mrué. “Quando a pessoa assume uma responsabilidade administrativa, passa a viver uma realidade que o legislador, a imprensa e a população, muitas vezes não tem alcance do que se passa. Quem assume tem que ter cautela para amanhã não responder processo por improbidade”. Sobre os equipamentos e o contrato de terceirização, Íris assume que o trabalho “não funcionou”, embora redirecione a responsabilidade para o antecessor Paulo Garcia (PT).
“Os equipamentos novos foram adquiridos pelo meu antecessor com a melhor das intenções. Contratou uma empresa para montar, mantê-los, inclusive com insumos, mas não funcionou. Estamos promovendo contrato emergencial para contratar empresa que aproveite os equipamentos novos. Estamos agindo diuturnamente para corrigir distorções. Qualquer passo em falso, o cidadão pode comunicar porque eu tomarei atitudes imediatamente. Vamos encaminhar a Saúde a uma situação exemplar. Estou ciente porque acompanho de perto”, comentou Íris.
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