Após tentar união da oposição, MDB e DEM seguem caminhos distintos rumo ao Executivo em Goiás
Íris intercedeu por aproximação, mas acabou declarando apoio com alinhamento partidário. Caiado mantém-se aberto a aliança contra Eliton e Vilela descarta possibilidade de vínculo no primeiro turno
O eleitor goiano pode esperar uma disputa acirrada pela chefia do Governo Estadual nas eleições de 2018. Além do aliado de Marconi no Executivo, o atual vice José Eliton (PSDB), o pleito terá nomes como o do senador Ronaldo Caiado (DEM) e do deputado Federal Daniel Vilela (MDB), que constituem oposição conservadora ao atual governo.
Nome forte da política estadual e principal líder partidário da oposição, o prefeito Íris Rezende (MDB) atuava, até semana passada, pela união entre Caiado e Vilela em uma só chapa. Apesar da vontade do político não ser concretizada, em conversa com ambos os postulantes, Íris sugere, segundo assessoria de imprensa, que a oposição faça um pacto de respeito mútuo no primeiro turno, o que abre as portas para renovação do vínculo numa provável segunda etapa.
Nesse contexto, o atual prefeito, afirma – ainda segundo assessoria – que, embora a aproximação não tenha ocorrido de forma ideal, a existência de duas candidaturas pode fortalecer a oposição, uma vez que serão duas estruturas trabalhando contra as propostas do atual governo. O ímpeto pela união, entretanto, foi encerrado com uma declaração do prefeito à imprensa de que iria apoiar o correligionário, Daniel.
Ambiguidade
A movimentação já era esperada pelos candidatos que, embora entendam a intenção de Íris, possuem interpretações distintas quanto à possibilidade de união da oposição contra a chapa governista. Segundo Caiado, a referida notícia foi recebida com naturalidade, no entanto, mantém o discurso de aliado.
“Vamos manter o diálogo para que a oposição possa estar unida, com respeito e humildade. O prefeito sabe que tem meu respeito, minha admiração e que estivemos o tempo todo juntos nos momentos mais difíceis das campanhas de 2014 e 2016”, lembra.
Para o democrata, ainda há muito tempo para alinhar os discursos com Daniel. “As convenções partidárias ocorrem até o dia 5/8. Até lá teremos as definições. Continuo acreditando na união da oposição. Não é fácil trabalhar contra a máquina do governo. Unidos teremos mais força para enfrentá-la. Daniel e eu somos aliados, nosso adversário está no Palácio das Esmeraldas”, aponta.
Caiado ainda elogia a atuação do colega, afirmando que este é uma jovem liderança que despontou na política goiana e que “tem feito um bom trabalho”. “Sou um homem confiante, acredito que estaremos unidos no primeiro turno das eleições”.
Com a aguardada “bênção” de Íris, Daniel revela ter uma interpretação distinta sobre a “união da oposição”. “Não há união prevista para o primeiro turno, já que Caiado foi categórico ao reforçar que não abriria mão de sua candidatura”, afirma, de modo a sugerir que um eventual vínculo dependeria da desistência de uma das partes. “Há uma possibilidade, no entanto, de no segundo turno isso [união] ocorrer, caso uma das partes não esteja presente, apoie a outra”, reconsidera.
Sintonias
Apesar das diferenças, ambos apregoam a necessidade de mudança e “ineficiência” do governo atual. Para Daniel, a gestão Marconi representa “retrocesso e não modernidade”. “Ao contrário do que é afirmado nas propagandas, as mesmas pessoas ocupam papéis de destaque no Executivo há 20 anos”, analisa.
Para ele, um dos pontos críticos da gestão é a Segurança Pública. “Não faltam exemplos para medir sua ineficiência. A segurança pública carece de investimentos na formação de agentes e de tecnologia e isso nunca foi feito. Além disso, a máquina está muito grande, buscando atender interesses de aliados. É nesse ponto que podemos reduzir custos para ampliar investimento nas áreas que forem necessárias”.
De acordo com Caiado, a gestão de Marconi é marcada pelo desequilíbrio nas contas. “[Precisamos] restabelecer o equilíbrio fiscal de Goiás. Hoje o Estado está com uma dívida consolidada de R$ 19,5 bi e arrecada apenas R$ 17,7 bi. Além disso, o boletim financeiro do Tesouro Nacional classifica o estado com a letra C no ranking, o que significa que Goiás não consegue mais contrair empréstimos com o aval da União. É um momento gravíssimo”, pondera.
O “desequilíbrio”, conforme expõe Caiado, se reflete em vários setores. Ele ressalta que a citada mudança será representada, no caso dele, pela transparência. “A Segurança Pública chegou a uma situação caótica e não é diferente na Saúde e Educação. O goiano hoje quer um governante que respeite o dinheiro dele. Vamos ter tolerância zero com a corrupção e para isso a transparência será uma bandeira muito forte. São mudanças como essas que vão trazer melhorias efetivas na vida do cidadão”, avalia.
Articulações e apoios
Em viagens pelo estado desde meados de 2017, o senador avalia que há um pensamento comum entre prefeitos do interior. “Os prefeitos estão cansados de serem pressionados e chantageados pelo governo, que cobra apoio político em troca de verba para as prefeituras. Eles mais que ninguém estão ansiosos por uma mudança”, expõe.
A receptividade às propostas do pré-candidato, segundo ele próprio, tem sido positiva. “Tenho viajado muito pelo interior de Goiás para conversar com estes prefeitos e lideranças e a receptividade tem sido enorme”. De fato, Ronaldo tem obtido apoios declarados de prefeitos emedebistas, como o caso das lideranças de Catalão, Adib Elias; Formosa, Ernesto Roller; e Goianésia, Renato de Castro. Este último, inclusive, chegou a atacar Daniel, ao afirmar à imprensa que ele “não veste a camisa da oposição”.
Para ser bem-sucedido, Daniel revela se apoiar na capilaridade do MDB no interior do estado. “Nossas articulações vem mostrando um desgaste do governo atual. Como estamos nas lideranças dos Executivos de Goiânia e de Aparecida, as duas maiores cidades do Estado, temos mais influência na capital. No entanto, acreditamos que o modelo de gestão liderado por Marconi mostra pouca modernidade e eficiência. Acreditamos que a população sabe reconhecer isso e optará por uma renovação”.
Daniel retruca a declaração do prefeito de Goianésia, criticando os critérios que o fazem considerá-lo ou não um membro da oposição. “Não sou oposição porque saio fazendo discursos verborrágicos, mas porque realmente me identifico. Está na minha história de 20 anos de atuação. Nunca estive do lado do atual governo, nunca indiquei nem fui indicado para nenhum cargo nele. Ao contrário disso, quem tem/teve laços com o governo atual é Caiado, que ficou 16 anos do lado de lá. O prefeito também, que já foi do PFL e já constituiu a base de Marconi. Então esse critério está equivocado e só compromete a ele mesmo”.
Como emedebista em disputa de um estado que circunscreve a Capital Federal, Daniel ainda deve atrair o apoio de Michel Temer. De acordo com consultoria proprietária do Índice de Positividade Brasil (IP Brasil), Map, a popularidade de Temer está estacionada em 2%. O resultado foi elaborado a partir da análise de 1,2 milhão de posts publicados nas redes sociais e de 250 artigos de formadores de opinião.
Questionado se o apoio do líder do governo federal seria bem recebido, Daniel é evasivo, porém considera que o panorama negativo sobre Temer pode mudar. “Acreditamos que tudo pode mudar em questão de meses. Como todo governo, o atual possui equívocos, mas também boas características. Entre elas está a atuação pela redução da crise, diminuição da taxa de juros e de desemprego, entre outras. De modo geral, acreditamos que o eleitor goiano diferencia as esferas nacional da estadual e votará de acordo com as necessidades regionais”.
Composição das chapas
Outro lugar comum entre os pré-candidatos é a indefinição da composição das chapas, porém ambos divergem quanto ao ritmo empregado para consolidação de nomes para os postos de vice. Daniel reforça a necessidade de composição partidária. “Estamos dialogando com legendas que convergem para essa proposta de mudança que queremos para Goiás. PP, PSD, A Rede e Solidariedade estão entre eles. Porém ainda não há nenhum nome, isso é coisa para definir mais para o fim do semestre.
Enquanto isso não ocorre, o deputado é cotado para assumir a presidência da maior comissão da Câmara Federal, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o que pode render visibilidade em nível nacional. “Fui indicado pela bancada do partido, espero que não haja nenhum concorrente. Sem dúvidas revela prestígio meu frente à bancada do MDB, que tem 63 parlamentares e é a maior da casa. Isso quer dizer que pela minha articulação e pelos meus relacionamentos, julgaram meu perfil apto para assumir o desafio”.
Caiado, por outro lado, tem pressa na definição do nome. Entretanto, descarta a possibilidade de disputar o pleito ao lado do médico Zacharias Calil para a vice governadoria. “Este ano teremos uma eleição curta, de pouco mais de 40 dias. Estou trabalhando para definirmos a chapa o quanto antes para trabalharmos na pré-campanha. Zacharias é um amigo, um médico a quem tenho enorme respeito e admiração. Tenho conversado com muitos partidos. Ele acredita em nosso projeto e possui uma grande obra de serviços prestados ao estado. E tem grandes chances de ser muito bem votado para deputado federal. Acredito que ele aceitará essa missão”.
A correria para a definição, segundo Caiado, tem mais um objetivo: fazer as propostas chegarem aos eleitores no que chama de “curto período”, contando com auxílio da internet. “Por isso, acredito no poder de mobilização das redes sociais. Outro desafio é o certo cansaço do eleitor em relação à política, por conta dos escândalos. Creio que o candidato que mostrar que tem histórico ilibado, que é honesto, que tenha autoridade moral, que seja aliado da população, vai sair na frente neste processo”, avalia.