Bolsonaro cai e Moro sobe em popularidade nas redes após prisão de Queiroz
O ex-juiz, que deixou o governo em abril e passou a criticar Bolsonaro, fechou a semana na terceira posição do ranking, atrás de Bolsonaro e de Abraham Weintraub
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) perdeu 25% de popularidade digital com a prisão de Fabrício Queiroz e viu seu ex-aliado Sergio Moro se aproximar novamente dele no quesito alcance em redes sociais, segundo ranking da consultoria de dados Quaest.
No sábado (20), dois dias após a ação que mirou o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Bolsonaro registrou no IPD (Índice de Popularidade Digital) 58,7 pontos, seu pior resultado na série histórica.
Na segunda-feira (15), ainda sem a sombra do escândalo que envolve seu núcleo familiar, o presidente tinha alcançado 79,3 pontos no ranking, em que as notas variam de 0 a 100.
O principal beneficiado com a captura do amigo dos Bolsonaros, de acordo com a Quaest, foi Moro, que teve um incremento em sua presença digital e chegou a 41,4 pontos no sábado, ante a marca de 22 do início da semana —salto de 88%.
LEIA MAIS: Prisão de Queiroz enfraquece Bolsonaro, afirma cientista político da UFG
O ex-juiz, que deixou o governo em abril e passou a criticar Bolsonaro, fechou a semana na terceira posição do ranking, atrás de Bolsonaro e de Abraham Weintraub, que ganhou notoriedade em meio à sua saída do Ministério da Educação.
Para o coordenador do IPD, Felipe Nunes, a ascensão de Weintraub espelhou um pico de interesse por seu nome, mas tende a ser passageira, repetindo o que ocorreu com Luiz Henrique Mandetta, que disparou no ranking ao deixar a pasta da Saúde, mas logo perdeu força.
O índice, criado pela empresa em 2019 para medir o tamanho de figuras do universo político na internet, é baseado em dados de Twitter, Facebook e Instagram, além de YouTube, Google e Wikipédia. Com as informações, a Quaest gera desde março um relatório diário.
Bolsonaro ocupa o topo desde o início, mas foi ameaçado em dois momentos isolados. Na primeira vez, em dezembro de 2019 (quando a classificação ainda não era diária), foi ultrapassado pelo apresentador Luciano Huck, que é tido como provável candidato em 2022.
Na segunda vez, foi superado por Moro. Isso ocorreu em 28 de abril, em meio ao impacto da acusação do ex-ministro de que o presidente tentou interferir na Polícia Federal.
Depois disso, o ex-magistrado entrou em uma tendência de baixa, perdendo mais de 50% da influência alcançada no auge da crise. Moro, no entanto, voltou a crescer em meados de junho e disparou depois da aparição de Queiroz.
“O ator político que mais capitalizou esse fato foi Moro, e não alguém da oposição de esquerda, como Lula [PT] ou Ciro Gomes [PDT]”, diz Nunes, que também é professor de ciência política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
“Moro é quem está herdando essa fatia antes pertencente a Bolsonaro”, resume ele, acrescentando que apoiadores do governo mais ligados à pauta morista, como o combate à corrupção, migram agora para a base do ex-juiz.
“Para esse grupo, a saída de Moro deu a impressão de que o governo não deu certo. Essa parcela acaba se aglutinando em torno do ex-ministro, o que gera o resultado positivo.”
O quadro mostra ainda, na opinião do analista, uma dificuldade de Huck para mobilizar as pessoas. “Ele é o nome no IPD que mais pontua no quesito fama. É amplamente conhecido e está presente nas principais redes sociais, mas ainda é muito associado à sua carreira na TV.”
O índice da consultoria é calculado com base em seis aspectos, entre eles: mobilização (total de compartilhamentos de conteúdos), interesse (buscas por informação no Google e na Wikipédia), presença digital (número de redes sociais ativas) e fama (público total nas redes).
São ainda avaliados: engajamento (volume de reações e comentários ponderado pelo número de postagens) e valência (proporção de reações positivas e negativas).
A prisão de Queiroz, segundo o responsável pelo índice, foi o momento mais crítico em uma sequência de acontecimentos que têm abalado a reputação de Bolsonaro. O contexto, no geral, é negativo para o mandatário, que chegou ao Planalto com um empurrão das redes sociais.
O presidente teve na segunda semana de março, ainda no início da crise do novo coronavírus, seu melhor resultado no IPD, com média de 83,5. Na semana passada, caiu para 58,7 pontos —uma diferença de 29%.
As principais quedas, na comparação entre os dois períodos, se deram no quesitos valência (35%) e fama (26%), o que significa menos reações às postagens e menos seguidores. O interesse (procuras feitas por seu nome) diminuiu 17%. Nos demais campos do levantamento, ele ficou estável.
A Quaest diz que optou por destacar no relatório de junho figuras do universo político que poderiam ter o desempenho afetado pelas crises no governo, que estão relacionadas a embates com outros Poderes e investigações que atingiram apoiadores de Bolsonaro.
Além dos já citados, foi avaliada a performance do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que ocupa a última posição.