BRASÍLIA

Bolsonaro contrata advogado que o acusou de estar por trás da tentativa de golpe

Vilardi assinou um texto que dizia que o país estava "à mercê de uma ação genocida do presidente" Bolsonaro em 2022

Celso Vilardi, advogado contratado por Bolsonaro (Foto: Reprodução)
Celso Vilardi, advogado contratado por Bolsonaro (Foto: Reprodução)

(Folhapress) O advogado Celso Vilardi, que assumiu a coordenação da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acumula posicionamentos e declarações contra o governo do ex-presidente, além de já ter feito elogios à investigação da Polícia Federal sobre a tentativa de um golpe de Estado no país em 2022.

As manifestações do passado destoam da estratégia que Vilardi indica querer usar no STF (Supremo Tribunal Federal). Embora tenha endossado a ideia de que o ex-mandatário estimulava um golpe enquanto estava no poder, ele hoje sustenta que o cliente jamais participou de articulação para isso.

Vilardi, que também é professor de direito da FGV-SP, foi um dos quase 700 advogados e personalidades do mundo jurídico que assinaram em 2020 o manifesto “Basta!”. A iniciativa repudiava ataques de Bolsonaro às instituições e sua omissão na pandemia de Covid-19.

O texto não o mencionava nominalmente, mas afirmava que o presidente da República usava o cargo para “arruinar com os alicerces de nosso sistema democrático, atentando, a um só tempo, contra os Poderes Legislativo e Judiciário, contra o Estado de Direito, contra a saúde dos brasileiros”.

A conclusão dos subscritores era que o país estava à mercê “de uma ação genocida do presidente” e que ele descumpria leis e ordens judiciais porque se intitulava “a própria Constituição“.

Vilardi também endossou a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito”, lida num ato na Faculdade de Direito da USP em agosto de 2022 em reação ao golpismo de Bolsonaro, que questionava o sistema eleitoral e ameaçava contestar o resultado do pleito.

O documento, sem menção explícita ao ex-presidente, descrevia um “momento de imenso perigo para a normalidade democrática” e pedia união contra “retrocessos autoritários”.

Os dois manifestos também tiveram a adesão de José Luis de Oliveira Lima, conhecido como Juca, que é advogado do general Braga Netto, outro alvo do inquérito da PF sobre o golpe.

A entrada de Juca e Vilardi nas equipes de defesa teve como pano de fundo a tentativa de distensionar a relação com o STF, já que ambos são reconhecidos na carreira e têm bom trânsito em tribunais superiores. A tendência é que o enfrentamento aos magistrados dê lugar ao diálogo.