CONTRADIÇÕES

Bolsonaro defendeu uso de cloroquina em 23 discursos oficiais; leia as frases

Ao longo da primeira parte de seu depoimento à CPI da Covid, na quarta-feira, o ex-ministro…

Ao longo da primeira parte de seu depoimento à CPI da Covid, na quarta-feira, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello defendeu em várias respostas a versão de que o governo federal não prescreveu nem incentivou o uso de cloroquina por pacientes da Covid. O histórico de declarações públicas do presidente Jair Bolsonaro desde o início da pandemia, porém, atrapalha essa narrativa. Desde março do ano passado, em levantamento feito apenas em discursos oficiais, o presidente fez apologia do medicamento sem eficácia comprovada pelo menos 23 vezes.

Crítico de medidas de restrição e distanciamento social, Bolsonaro apostou no discurso de que os medicamentos ajudam no combate à doença a um baixo custo e sem necessidade de paralisação da economia. No início da pandemia, pesquisadores estudaram a possibilidade de usar o remédio para tratar a Covid-19. Em outubro, no entanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou estudos que comprovavam a ineficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina para o fim.

A primeira vez que Bolsonaro mencionou o assunto, ainda extraoficialmente, foi em 21 de março, quando anunciou que o laboratório do Exército ampliaria a produção do medicamento. Em discursos oficiais, a defesa da cloroquina começou em 9 de junho, durante a abertura da 34ª Reunião do Conselho de Governo, em meio a mudança na forma de divulgação de casos e mortes por Covid-19 pelo ministério da Saúde.

A defesa do chamado “kit Covid”, coquetel com remédios sem comprovação científica contra o coronavírus, ganhou uma nova narrativa após o presidente contrair a doença. Bolsonaro passou a afirmar em seus discursos em inaugurações obras no interior do país, solenidades do Executivo e encontros com autoridades, que tinha sido curado pelo uso da hidroxicloroquina e de outro medicamento sem eficácia comprovada, Annita, um vermífugo a base de nitazoxanida.

No início de agosto, Bolsonaro usou a solenidade de assinatura da Medida Provisória da Vacina contra a Covid para voltar a falar sobre o uso preventivo da cloroquina e para criticar governadores que rejeitavam o chamado tratamento precoce.

Naquele momento, o presidente já estava convencido de que a hidroxicloroquina era eficaz contra o vírus, mesmo com médicos e sanitaristas apontando o contrário. O primeiro ministro da Saúde a ser demitido por discordar da posição de Bolsonaro sobre o uso dos remédios foi Luiz Henrique Mandetta. Ele deixou o ministério em abril.

O sucessor de Mandetta, Nelson Teich, médico oncologista, também não convenceu Bolsonaro sobre a ineficácia do medicamento. Caiu menos de um mês depois por falta de autonomia, como afirmou em depoimento à CPI da Covid.

Para garantir uma estabilidade no ministério, a aposta foi em um general alinhado. Eduardo Pazuello assumiu e Bolsonaro voltou a pregar o uso dos remédios. Com a queda de Teich, Pazuello, que era ministro interino, liberou um protocolo para o uso da hidroxicloroquina em casos leves.

Neste ano, já sob pressão da instalação da CPI e de contestações na Justiça pelo repasse e discursos a favor da cloroquina, Bolsonaro evitou citar o nome do remédio em algumas declarações, preferindo se referir ao “tratamento precoce”.

09 de junho de 2020

Reunião do Conselho de Governo

Discurso de Bolsonaro em 9 de junho de 2020 Foto: Reprodução

 

06 de agosto de 2020

Ato de assinatura de Medida Provisória

 “Não existia medicamento, apenas a promessa, num primeiro momento, da hidroxicloroquina, depois outras coisas apareceram. Lamento que em alguns locais do Brasil, o respectivo chefe do Executivo continua proibindo isso, repito, sem apresentar alternativas.”

13 de agosto de 2020

Ato em Belém

Discurso de Bolsonaro em 13 de agosto de 2020 Foto: Reprodução
Discurso de Bolsonaro em 13 de agosto de 2020 Foto: Reprodução

18 de agosto de 2020

Evento em Corumbá (MS)

 “Aí eu saúdo agora o nosso deputado Ovando, que desde o primeiro momento esteve conosco na questão da hidroxicloroquina. É um remédio para algumas coisas, mas que serviu também para que vidas fossem salvas em todos aqueles que fossem acometidos da covid-19.”

 24 de agosto de 2020

Ato no Palácio do Planalto

 “Fomos vendo devagar que existia sim, uma sinalização, que se ministrando precocemente esse protocolo, por assim dizer, não é? Usar hidroxicloroquina com azitromicina, as pessoas tinham muito mais chances de viver.”

25 de agosto de 2020

Evento em Brasília

“E eu apostei na hidroxicloroquina. Apostei mas, obviamente, com médicos do meu lado, com pessoas que não estavam preocupadas com a sua biografia, a preocupação era em salvar vidas. E, logicamente, eu comecei a pregar isso no Brasil, a dar exemplo, e comecei a andar no meio do povo.”

29 de agosto de 2020

Agenda em Caldas Novas (GO)

“A hidroxicloroquina tem salvo milhares e milhares de vidas pelo Brasil.”

03 de setembro de 2020

Evento em Eldorado (SP)

“Estudei a hidroxicloroquina, não sou médico, sou capitão do Exército, e estudei, procurei embaixadas, procurei a Anvisa norte-americana, o FDA, e sobrou apenas isso, e não tínhamos nada pela frente. Hoje em dia se comprova, pelo menos de forma observacional, que era o que tinha naquele momento. E acabou dando certo, como dizem muitos estudos que, com toda certeza, brevemente terão a sua comprovação.”

16 de setembro de 2020

Posse de Pazuello no Ministério da Saúde

 

Discurso de Bolsonaro em 16/09/2020 Foto: Reprodução
Discurso de Bolsonaro em 16/09/2020 Foto: Reprodução

22 de setembro de 2020

Assembleia Geral da ONU

Discurso de Bolsonaro em 22/09/2020 Foto: Reprodução
Discurso de Bolsonaro em 22/09/2020 Foto: Reprodução

24 de setembro de 2020

Cerimônia na PF no Rio

“Tem um coronel do Exército  do meu lado aqui que é  diretor do IBEX, Instituto de Biologia do Exército, onde fabrica ali a cloroquina, que desde o primeiro momento nós falamos que tinha que dar certo com ela.”

01 de outubro de 2020

Evento em São José do Egito (PE)

“Deus foi tão abençoado que nos deu até a hidroxicloroquina, para quem se acometeu da doença. E quem não acreditou, engula agora. Eu não sou médico, mas sou ousado, como cabra da peste e nordestino.”

19 de outubro de 2020

Evento no Palácio do Planalto

“O cidadão chegava no hospital com malária e Covid e tomava hidroxicloroquina e se livrava dos dois problemas. Será que é difícil entender porque nós começamos a falar na hidroxicloroquina? Fui massacrado pela mídia, não tem problema, eu tenho que estar com a minha consciência em paz  e quem  criticava a hidroxicloroquina não apresentava alternativas.”

21 de novembro de 2020

Cúpula do G20

“O Brasil se soma aos esforços internacionais para a busca de vacinas eficazes e seguras contra a covid-19, bem como adota o tratamento precoce no combate à doença.”

10 de dezembro de 2020

Evento em Barra do Ribeiro (MS)

Discurso de Bolsonaro em 10/12/2020 Foto: Reprodução
Discurso de Bolsonaro em 10/12/2020 Foto: Reprodução

18 de dezembro de 2020

Agenda em Porto Seguro (BA)

“Será que precisa ter muita inteligência para entender que a hidroxicloroquina serve para as duas coisas (coronavírus e malária), é coisa simples, por que politizaram? Por que em alguns estados se perseguiu, se proibiu a hidroxicloroquina, ivermectina a troco de quê? Se podia até proibir, mas tivessem uma alternativa.”

04 de março de 2021

Evento em Estrela d’Oeste (SP)

“Virou crime falar em tratamento precoce. É direito do médico, não tendo um remédio para aquele mal, ele receitar, se chama off-label, fora da bula.”

10 de março de 2021

Ato no Palácio do Planalto

“Muitos têm sido salvos no Brasil com esse atendimento imediato, neste prédio mesmo, mais de 200 pessoas contraíram a Covid e quase todas, pelo que eu tenha conhecimento, inclusive eu, buscou esse tratamento imediato com uma cesta de produtos como a ivermectina, a hidroxicloroquina, a Anita, a Azitromicina, vitamina D, entre outros, que não tiveram sucesso, desconheço que uma só pessoa deste prédio tenha ido ao hospital para se internar.”

05 de abril de 2021

Evento em Brasília

“O médico tem a liberdade total para trabalhar com o paciente, total esse é o dever do médico, é uma obrigação e um direito dele, não ter o remédio específico ele trata da melhor maneira possível, por isso os índices foram lá para baixo.”

07 de abril de 2021

Reunião com o prefeito de Chapecó

“Na África não existe nada. Existe ivermectina, para combater a cegueira dos rios, combater outras coisas, junto com a hidroxicloroquina para combater a malária e procurem saber, o que acontece com aquele povo, no tocante à covid. Não vou entrar em detalhes aqui. Daqui a pouco vão me chamar de negacionista ou terraplanista. Não tem mais do que me acusar, depois daquelas quantidade de acusações que sofri durante a pré-campanha e a campanha de 2018. Mas nós temos que buscar alternativas. O próprio ministro disse, liberdade para o médico.”

07 de abril de 2021

Evento em Itaipu

“Há pouco falei agora na última passagem minha em Chapecó, se tem médico aqui, lá eu defendi o direito de vocês na ponta da linha em não havendo o medicamento específico que usem aquilo que vocês acharem que devem usar, é o tratamento off label, o fora da bula. A imprensa me massacrou quase que unanimemente dizendo que eu defendia medicamentos não previstos prezado ministro Queiroga, o que eu defendi e defendo é um médico na ponta da linha receitar aquilo que ele achar mais conveniente.”

05 de maio de 2021

Evento no palácio do Planalto

Discurso de Bolsonaro em 05/05/2021 Foto: Reprodução
Discurso de Bolsonaro em 05/05/2021 Foto: Reprodução

14 de maio de 2021

Evento no Mato Grosso do Sul

“Daí pintou o caso da cloroquina nesta pandemia. Quem é contra, é um direito dele. Agora, não vai querer criminalizar quem a use.”