Bolsonaro diz que cometeu ato falho e que jamais pensou em sair da ONU
Presidenciável, que já se referiu a organização como um antro de comunistas, disse agora que, caso eleito, Brasil sairia apenas do Conselho de Direitos Humanos da entidade
Dois dias depois de ter afirmado que sairia da ONU caso seja eleito presidente, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, voltou atrás e disse ter cometido um ato falho em Resende (RJ), no sábado (18).
“Em Resende eu não falei conselho, houve um ato falho meu e ai já se começou dizendo que eu sairia da ONU. Eu jamais pensaria em sair da ONU. É sair do conselho de direitos humanos da ONU”, disse.
Ao participar de uma cerimônia de cadetes da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), na cidade fluminense, o candidato se referiu a organização como antro de comunistas. “Não serve para nada essa instituição”, disse, ao criticar uma recomendação feita pelo comitê de direitos humanos da ONU em favor do ex-presidente Lula.
Antes de dar a declaração sobre o caso do petista, o deputado federal havia publicado mensagem em sua conta no Twitter, afirmando que deixaria o conselho da ONU, sem especificar a qual conselho se referia. “Há mais ou menos 2 meses falei em entrevista que já teria tirado o Brasil do conselho da ONU, não só por se posicionarem contra Israel, mas por sempre estarem ao lado de tudo que não presta. Este atual apoio a um corrupto condenado e preso é só mais um exemplo da nossa posição”, escreveu.
Em conversa por telefone com a reportagem nesta segunda-feira (20), o presidenciável disse que se referia, na verdade, ao comitê de direitos humanos apenas. “Eu vomitei aquilo sem falar de conselho de direitos humanos. Ai é onde houve uma falha minha.”
Questionado sobre a crise migratória de venezuelanos em Roraima, Bolsonaro defendeu que o Brasil adote postura mais dura contra o governo de Nicolás Maduro e propôs a criação de um campo de refugiados, que seria auxiliado pela ONU. “Quando você fala em refugiados você tem que buscar a ONU para apresentar uma alternativa”, afirmou.
Ele disse concordar com a governadora de Roraima, Suely Campos (PP), em relação à sobrecarga dos serviços públicos estaduais com a chegada dos venezuelanos. Mas discorda dela sobre o fechamento de fronteiras, afirmando que isso não é possível.
“Tem que abrir um campo de refugiados, você não pode simplesmente deixar um pessoal habitar lá todos os espaços vazios de Pacaraima, de Boa Vista. Não pode deixar o pessoal jogado na rua, deixar o pessoal fazendo necessidades fisiológicas na rua. Ficar na rua praticando atos de vandalismo ou de crimes”, afirmou.
O presidenciável disse também não ser favorável à política de interiorização feita pelo governo de Michel Temer, que tem transferido voluntariamente refugiados de Roraima para outros estados do Brasil. “O próprio venezuelano, no fundo, não quer vir para dentro do Brasil. Ele quer ficar próximo à fronteira para poder retomar pro seu país na primeira oportunidade.”
Segundo ele, não haveria espaço para os venezuelanos no mercado de trabalho já que o país tem cerca de 13 milhões de desempregados.
A fala de Bolsonaro, contudo, vai na contramão das estatísticas levantadas pelo governo brasileiro. Pelo menos 8 a cada 10 venezuelanos que entraram no Brasil por Pacaraima (RR) desde junho manifestaram intenção de ir para outras regiões do país. O dado faz parte de relatório do centro de triagem de Pacaraima e leva em conta 7.015 pessoas que foram acolhidas na fronteira de 18 de junho a 12 de agosto.
“Quando você faz um campo de refugiados você vai deixar esse pessoal lá em standby, pow. E buscar soluções para [eles voltarem] para o seu país. A primeira medida é essa. O governo tem que mostrar para a Venezuela o seguinte: não concordamos com o que está acontecendo ai. Tentar fazer com que esse governo do Maduro seja deposto legalmente.”