Bolsonaro diz que Queiroz pagava suas contas e está sendo injustiçado
Presidente diz que questionou Heleno sobre supostos relatórios da Abin para ajudar Flávio e que ministro negou produção
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta terça-feira (15) que Fabrício Queiroz, seu amigo e ex-assessor de Flávio Bolsonaro, pagava suas contas e está sendo injustiçado na investigação que aponta o ex-policial militar como operador de um esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio.
“O Queiroz pagava conta minha também. Ele era de confiança. Está com esse processo agora. Desde que estourou o processo eu não tenho conversado com ele. Agora, ele está sendo injustiçado também, por quê?”, afirmou Bolsonaro, em entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes.
“Tem que ser investigado e dar a devida pena se for o culpado. E não prender esposa… Quebraram o sigilo de 90 pessoas, não tem cabimento isso. Parece que o maior bandido da face da terra é o senhor Flávio Bolsonaro.”
Na entrevista, Bolsonaro foi questionado pelo jornalista José Luiz Datena sobre a suposta existência de relatórios elaborados pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), seu filho, no caso das “rachadinhas”.
“A pressão em cima meu filho é para me atingir. Não é só em cima do meu filho, é em cima de esposa, de ex-mulher, outros filhos, parentes meus, amigos que estão do meu lado. Você vê essa questão da Abin. Estive com o General Heleno, perguntei se alguma coisa foi feita e ele falou ‘não’.”
Na mesma entrevista à Band, mesmo sem ser indagado sobre o assunto, Bolsonaro mencionou os repasses que somam R$ 89 mil feitos por Queiroz e sua esposa, Márcia Aguiar, para a conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
“Vamos apurar? Vamos. Mas cada um com a sua devida estatura. E não massacrar o tempo todo como massacram a minha esposa, como eu falei desde o começo, que aquele cheque do Queiroz, ao longo de dez anos, foram para mim. Não foram para ela. Divide aí, Datena, R$ 89 mil por dez anos. Dá em torno de R$ 750 por mês. Isso é propina? Pelo amor de Deus.”
Flávio Bolsonaro foi denunciado sob acusação dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e de ter liderado uma organização criminosa. O Ministério Público do Rio de Janeiro suspeita que ele recolhia o salário de parte de seus antigos funcionários na Assembleia do Rio para benefício pessoal.
Segundo a revista Época, a Abin teria produzido documentos para ajudar o parlamentar a ser absolvido.
Apontado pelo Ministério Público do Rio como operador do esquema, Queiroz teve seu sigilo bancário quebrado no período de 2007 a 2018. Até a quebra do sigilo do ex-assessor se sabia de repasses que somavam R$ 24 mil para a mulher do presidente.
Em entrevistas após a divulgação do caso, Bolsonaro disse que Queiroz repassou a Michelle dez cheques de R$ 4.000 para quitar uma dívida de R$ 40 mil que tinha com ele (essa dívida não foi declarada no Imposto de Renda). Também afirmou que os recursos foram para a conta de sua mulher porque ele “não tem tempo de sair”.
No período de 2007 a 2018, porém, não há depósitos de Jair Bolsonaro na conta do ex-assessor que comprovem o empréstimo alegado. Assim, se o empréstimo ocorreu depois de 2007, foi feito em espécie.
Segundo reportagem da revista Crusoé, os cheques de Queiroz que caíram na conta de Michelle somavam R$ 72 mil, e não os R$ 24 mil até então conhecidos nem os R$ 40 mil ditos pelo presidente.
A Folha confirmou as informações obtidas pela revista e apurou que o repasse foi ainda maior. Queiroz depositou 21 cheques na conta de Michelle de 2011 a 2016, no total de R$ 72 mil.
De outubro de 2011 a abril de 2013, o ex-assessor repassou R$ 36 mil à primeira-dama, em 12 cheques de R$ 3.000. Depois, de abril a dezembro de 2016, Queiroz depositou mais R$ 36 mil em nove cheques de R$ 4.000.
A reportagem também apurou que a mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, repassou para Michelle R$ 17 mil de janeiro a junho de 2011. Foram cinco cheques de R$ 3.000 e um de R$ 2.000. Assim, no total, Queiroz e Márcia depositaram R$ 89 mil para primeira-dama de 2011 a 2016, em um total de 27 movimentações.
Queiroz foi preso em junho deste ano em Atibaia (SP), em um imóvel do advogado Frederick Wassef, então responsável pelas defesas de Flávio e do presidente.
Em 10 de julho, Queiroz deixou o Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio, para cumprir prisão domiciliar. Aliado de Bolsonaro, o então presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), João Otávio de Noronha, concedeu o benefício a pedido da defesa.