DENÚNCIA

Bolsonaro manda PF investigar deputado que apontou suspeita sobre Covaxin

De acordo com o deputado Luís Miranda, ele apresentou documentos que apontavam irregularidades

Luis Miranda diz que seu irmão, chefe de logística da Saúde, pode dar mais informações em uma sessão secreta da CPI (Foto: Najara Araújo/ Câmara dos Deputados)

O ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência, disse nesta quarta-feira (23) que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) determinou à Polícia Federal que investigue a declaração do deputado Luís Miranda (DEM-DF) sobre as suspeitas quanto à compra da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech.

Na última terça-feira (22), em entrevista a O Estado de S. Paulo, Luís Miranda disse ter alertado Bolsonaro e o então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, sobre um suposto esquema de corrupção envolvendo a compra da Covaxin. Ele explicou ter se encontrado com o presidente em 20 de março para levar a denúncia sobre o caso — um mês após o governo assinar o contrato para aquisição da vacina.

De acordo com o parlamentar, ele apresentou documentos que apontavam irregularidades.

“O governo tomará medidas, e o presidente determinou que a PF abra uma investigação para apurar a declaração do deputado. Vamos solicitar uma perícia do documento. Vamos também pedir a abertura de investigação do deputado e do servidor Luís Ricardo Miranda [chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, irmão do deputado], por denunciação caluniosa, fraude processual e prevaricação”, disse Onyx em pronunciamento, que não foi aberto a perguntas de jornalistas.

“Por que, depois de três meses, esse cidadão vem a público e fala isso? Isso caracteriza a má-fé, denunciação caluniosa, a interesse de quem e por quê? Não vai ser um qualquer, que inventa mentiras, falsifica documentos, e assaca contra um presidente e um governo. Senhor Luís Miranda, Deus está vendo. Mas o senhor também vai pagar na Justiça tudo o que fez hoje. Que Deus tenha pena do senhor.”, disse Onyx Lorenzoni.

Segundo o ministro, as declarações de Luís Miranda são “mentirosas” e foram construídas para “atingir a imagem do presidente Jair Bolsonaro”.

“Quero alertar ao deputado Luís Miranda que o que ele fez hoje é denunciação caluniosa, e isso é crime. Sobre as acusações, quero dizer: não houve favorecimento a ninguém, porque essa é a prática desse governo. Não houve sobrepreço, não houve compra alguma. Portanto, o governo tomará medidas e o presidente determinou que a PF abra uma investigação”, reforçou.

O “sobrepreço” citado por Onyx também foi revelado pelo Estadão. Segundo reportagem publicada ontem, documentos do Ministério das Relações Exteriores mostram que o governo comprou a Covaxin por um preço 1.000% maior do que, seis meses antes, era anunciado pela própria fabricante.

Um telegrama sigiloso da embaixada brasileira em Nova Délhi de agosto do ano passado, ao qual o jornal teve acesso, informava que o imunizante produzido pela Bharat Biotech tinha preço estimado em 100 rúpias (US$ 1,34 a dose). Em dezembro, outro comunicado diplomático dizia que o produto fabricado na Índia “custaria menos do que uma garrafa de água”.

Em fevereiro deste ano, porém, o Ministério da Saúde pagou US$ 15 por unidade (R$ 80,70, na cotação da época) — a mais cara das seis vacinas compradas até agora.

Em uma publicação em sua conta no Twitter no início da noite, Miranda afirmou que na próxima sexta-feira (25) “o Brasil saberá a verdade e os documentos falam por si só”. Os depoimentos do deputado e do irmão à CPI estão previstos para essa data.

“Perseguição”

Vice-presidente da CPI da Covid, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) criticou as declarações de Onyx, que, segundo ele, indicam uma perseguição por parte do governo contra o deputado Luís Miranda.

“Acho que o governo deveria se preocupar em responder a mensagem, e não atacar o mensageiro”, disse o senador em entrevista à GloboNews. “A Anvisa considerou, em primeira análise, que o laboratório onde essa vacina [Covaxin] é produzida não tinha condições higiênicas. O governo, em vez de instaurar um procedimento em relação a isso, o que é que o governo faz? Anuncia uma investigação e uma perseguição contra o mensageiro, no caso, contra o denunciante [Luís Miranda].”