Bolsonaro mobiliza evangélicos, ruralistas e empresários para 7 de Setembro
Aliados esperam atos focados nas eleições, mas não descartam ataques do presidente contra Moraes
O presidente Jair Bolsonaro (PL) quer usar o feriado de Independência, em 7 de Setembro, para dar uma demonstração de força e aglutinar suas bases eleitorais mais fiéis a menos de um mês do primeiro turno.
Bolsonaro e seus aliados têm mobilizado empresários, em especial do agronegócio, e lideranças evangélicas para tentar garantir que as manifestações tenham um público significativo.
Com isso, planejam insistir na tese apelidada por eles de “Datapovo”: tentar contrapor as pesquisas de opinião —em que Bolsonaro aparece atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)— com imagens de manifestações de rua de grande adesão.
Pesquisa do Datafolha divulgada na última quinta-feira (2) mostrou Bolsonaro 13 pontos atrás de Lula. O petista lidera com 45% das intenções de voto, contra 32% do presidente.
No ano passado, o 7 de Setembro foi marcado por declarações golpistas de Bolsonaro e por ataques contra ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). As ameaças do mandatário em 2021 aprofundaram a crise entre o Planalto e o Judiciário. A temperatura começou a baixar após Bolsonaro, que foi fortemente criticado na ocasião, divulgar uma carta em que negou que tivesse qualquer intenção de agredir os demais Poderes.
Assessores do presidente dizem que neste feriado, ao contrário do que ocorreu no ano passado, os atos devem ter um teor mais eleitoral. Há receio, no entanto, de possíveis novos ataques de Bolsonaro contra instituições e ministros do Judiciário, o que pode reforçar junto ao eleitorado a imagem do presidente como um líder radical.
Do ponto de vista da campanha, o temor é de que uma eventual radicalização sirva para aumentar a rejeição ao chefe do Executivo — hoje no alto índice de 52%.
Levantamentos a que aliados tiveram acesso mostram que o eleitor indeciso, que Bolsonaro busca, não gosta quando ele adota comportamento mais agressivo ou golpista.
A hipótese de radicalização do discurso de Bolsonaro ganhou força no sábado (3), quando ele se referiu ao ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), como “vagabundo” por causa da ação contra empresários bolsonaristas que, num grupo de WhatsApp, defenderam um golpe de Estado caso Lula vença as eleições.
Entre os alvos da operação está Luciano Hang, aliado de primeira hora do presidente da República.
Bolsonaro deve acompanhar o desfile cívico-militar em Brasília pela manhã. À tarde, ele deve viajar ao Rio para uma manifestação de apoiadores em Copacabana que também terá demonstrações de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) e de navios da Marinha.
Nas últimas semanas, lideranças evangélicas passaram a convocar com mais ênfase pessoas para irem às ruas. O pastor Silas Malafaia, por exemplo, deve participar dos atos em Brasília e no Rio.
“Não acho que ele [Bolsonaro] vai usar o mesmo tom do 7 de Setembro do ano passado”, disse, destacando que o presidente agora está em campanha. “Se ele falar, não acredito que ele vá dizer alguma coisa de Supremo. Vai falar de Brasil, de governo.”
Após a operação contra os empresários bolsonaristas, Malafaia divulgou um vídeo nas redes sociais dizendo que Moraes é um “desgraçado que rasga a Constituição” e chamando as pessoas aos atos.
Bolsonaro participou nos últimos meses das principais edições da Marcha Para Jesus em capitais, em que aproveitou para convocar os fiéis para irem às ruas no feriado da Independência.
“No próximo dia 7, vamos todos, às 15h, estarmos presentes em Copacabana, onde vamos dar um grito muito forte, dizendo a quem pertence essa nação e o que nós queremos, que é transparência e liberdade”, discursou, na marcha do Rio.
Além disso, lideranças evangélicas bolsonaristas, como o pastor Cláudio Duarte e JB Carvalho, iniciaram uma campanha de jejum e oração até a data da eleição.
Bolsonaro também buscou fidelizar outro apoio importante na sua busca pela reeleição: o agronegócio. Não por acaso, a convite do Planalto, 28 tratores devem participar do desfile cívico-militar que ocorrerá na Esplanada dos Ministérios. A ideia é que eles representem a importância econômica do agro.
Em Mato Grosso, onde a economia é baseada neste setor, líderes políticos e empresários devem custear o transporte e, em alguns casos, até alimentação de quem quiser viajar do estado a Brasília para o 7 de Setembro.
“Devemos encher um ônibus, mas outras cidades devem levar mais pessoas também”, disse o presidente do sindicato rural de Sinop, Ilson José Redivo.
O vice na chapa de Bolsonaro, Braga Netto, visitou a cidade na última semana. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), na semana anterior.
Líder do Movimento Brasil Verde e Amarelo, que foi criado por ruralistas e bancou outdoors espalhados por Brasília para convocar para a manifestação no dia da Independência, o empresário Antônio Galvan também deve comparecer ao evento em Brasília.
“Vamos tentar levar muita gente para lá. Mas também deve haver atos nas cidades para quem não puder ir e [for] ficar no estado”, afirmou Galvan —que foi citado no inquérito que investiga os atos antidemocráticos do ano passado.
Outro nome do bolsonarismo que deve comparecer aos atos do Rio e de Brasília é Hang, dono das lojas Havan. Notório apoiador do presidente, ele foi convidado por Bolsonaro para participar ao seu lado nas manifestações. Um gesto para o empresário, que foi alvo da operação autorizada por Moraes.
“Recebi o convite e estarei lá, como fiz em 2019, para celebrar os 200 anos de nossa Independência e liberdade”, disse Hang.
Segundo membros da campanha, a ida do empresário simboliza o discurso pela liberdade de expressão que o presidente busca reforçar. Mas admitem que sua presença no palco pode ser entendida como uma afronta a Moraes e um sinal de que Bolsonaro pode adotar tom crítico contra o ministro em seu discurso.
Em 2021, além de ameaças golpistas contra o STF, Bolsonaro exortou desobediência de decisões da Justiça.
As semanas em que antecederam o feriado da Independência no ano passado foram das mais tensas na gestão Bolsonaro. O presidente estava politicamente isolado, pressionado pela crise entre os Poderes e pela alta da inflação e crise energética. A avaliação de aliados é que ele precisava projetar força após sucessivas notícias negativas para o governo.
Cartazes levados por manifestantes pediam intervenção militar, voto impresso (depois de o Congresso ter derrotado a proposta), impeachment de ministros do STF e dissolução do TSE.
Um ano depois, o Bolsonaro que busca reeleição chegou a pedir para apoiadores que não levem cartazes defendendo golpe. O que não significa que não fará críticas às urnas eletrônicas e a Moraes.
Os vídeos que circulam de convocação para o ato falam em “liberdade” e “eleições limpas e transparentes”, duas palavras de ordem que o bolsonarismo costuma usar contra o sistema eletrônico de votação.