Outra página destacada pelo presidente, intitulada “Conversando sobre sexualidade…”, tem a ilustração de três casais de jovens. Segundo o texto, “é na adolescência que também se inicia o interesse pelas relações afetivas e sexuais. Por isso, é normal que os adolescentes manipulem o próprio corpo (masturbação) em busca de sensações prazerosas”.
Folheando a caderneta, Bolsonaro destaca que ela foi feita durante o governo Dilma Rousseff e foi impressa “em grande quantidade”.
— São 40 páginas, tem muitas informações boas, precisas, mas o final dela fica complicado, no meu entendimento. Se você, pai ou mãe, achar que não, é direito teu — ressalta o presidente, ao lado dos generais Otávio Rêgo Barros, porta-voz do governo, e Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. — Então, é uma sugestão. Quem tiver a cartilha em casa, dá uma olhada porque vai estar na mão dos seus filhos, e, se você achar que é o caso, tira essas páginas que tratam desse tipo de assunto.
Bolsonaro, então, disse que discutiu o assunto com o ministro da Saúde, Luiz Mandetta:
— Expus o problema e então a solução, a decisão que ele tomou: vai fazer uma nova cartilha, com menos páginas, mais barata, sem essas figuras aqui no final, e vamos rapidamente distribuir, recolher essas anteriores.
Prevenção de doenças
Especialista em reprodução humana, Georges Fassolas avalia que rasgar a caderneta ou suprir informações é um “retrocesso” e priva os adolescentes de “informações fundamentais” para seu desenvolvimento sexual.
— Estamos em um mundo onde há muitos problemas relacionados a gravidez na adolescência e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), e isso seria de fácil prevenção caso houvesse uso de preservativos. É difícil explicar esse processo sem ter uma figura — pondera Fassolas, que é diretor da Clínica de Reprodução Humana Vivitá. — Não podemos desprezar um conteúdo tão importante devido a questões moralistas sobre órgãos sexuais.
A opinião é endossada pelo ginecologista Thomaz Gollop, professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí e membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia:
— No momento em que se retira da cartilha um material que fala sobre educação sexual, infringem-se princípios básicos de saúde — argumenta. — O preservativo tem uma função importante para a prevenção às DSTs. Como vamos ser a favor de não prevenir doenças? A educação sexual integra o processo educativo de qualquer indivíduo. Não sabemos o alcance da difusão dessa caderneta, mas ainda que seja limitado, qualquer processo nessa direção é absolutamente benéfico.
Mestre em Psicologia Comportamental pela UnB, Kenia Xaxito também reprova a retirada de informações sobre educação sexual da caderneta:
— O adolescente precisa ter referências embasadas, didáticas, que usem uma abordagem direta mas que não sejam vulgares. Tirar de circulação um conteúdo bem feito, como o disponibilizado pela caderneta, é uma atitude desnecessária.