Bolsonaro tenta fidelizar com centrão após troca de ministros
Ministros que saem do governo questionavam em caráter reservado medidas polêmicas do presidente
A troca de ministros anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta segunda-feira (29) teve como objetivo fidelizar o apoio do bloco de partidos do chamado centrão, diminuir resistências dentro do próprio governo e aumentar o controle sobre estruturas com capacidade de fazer um embate mais assertivo com governos estaduais e municipais.
Ao mesmo tempo em que tenta agradar a sua base aliada, presidente coloca aliados de extrema confiança em três áreas estratégicas: Defesa, Justiça e Advocacia-Geral da União. Bolsonaro tem protagonizado embates com governadores e prefeitos em relação a medidas restritivas para o combate da Covid-19.
Ao todo, foram feitas trocas em seis pastas ministeriais. O bloco do centrão, que já tinha o controle das Comunicações e da Cidadania, agora também chefiará a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política.
Segundo assessores presidenciais, a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) para a Secretaria de Governo (coordenação política) foi sugestão do ministro Luiz Eduardo Ramos (agora na Casa Civil) para agradar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que se reuniu na manhã desta segunda-feira (29) com o presidente no Palácio da Alvorada.
O esforço do presidente, de acordo com auxiliares palacianos, foi tanto de acalmar os ânimos de Lira, que na semana passada fez um discurso crítico e com ameaças ao Executivo, como o de tentar amarrar o PL em sua candidatura à reeleição em 2022.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou recentemente a integrantes do centrão o interesse em ter como seu candidato a vice-presidente o empresário Josué Alencar, do PL. A entrega de um cargo ministerial à legenda, no entanto, não é considerada por dirigentes da sigla como uma garantia de um apoio em 2022.
Na dança das cadeiras, o presidente demitiu ainda dois ministros que vinham questionando, em caráter reservado, decisões de Bolsonaro. Um deles foi José Levi do Amaral que, há meses, já sinalizava a intenção de deixar a o comando da AGU, pasta responsável pela defesa jurídica do governo e do próprio presidente.
Bolsonaro se irritou com o fato de Levi não ter aceitado assinar ação ingressada no STF (Supremo Tribunal Federal) que pedia a suspensão de decretos publicados pelos governos do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul com medidas de restrição para o combate do coronavírus.
No ano passado, Bolsonaro e Levi também entraram em confronto na decisão do presidente de recorrer ao Supremo contra a suspensão da posse de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal. Na época, o presidente desautorizou o ministro e disse que quem mandava era ele.
A demissão do general Fernando Azevedo do comando da Defesa também se deveu, segundo integrantes da cúpula militar, a desavenças com Bolsonaro. Segundo relatos feitos à Folha, o presidente vinha pressionando o ministro para que as Forças militares atuassem contra medidas de lockdown, algo que Azevedo era contra.
Além disso, o presidente defendia, em conversas reservadas, uma troca do general Edson Pujol do comando do Exército, alteração da qual Azevedo vinha resistindo. Segundo militares do governo, Pujol sempre defendeu a independência das Forças Armadas em relação à atual gestão.
A expectativa no Palácio do Planalto é que, com a nomeação do general Braga Netto para a Defesa, Bolsonaro terá um controle maior sobre os efetivos militares, sobretudo em sua atuação contra medidas de restrição decretadas por estados e municípios.
A mudança do comando da Justiça também passaria por uma maior ascendência do presidente sobre as forças policiais. Para o lugar de André Mendonça, Bolsonaro nomeou o secretário da Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres.
O nome do delegado da PF foi indicado ao presidente pelo ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), amigo de longa data de Bolsonaro.
Além de tentar reforçar a bandeira da segurança pública para a disputa presidencial, a nomeação de Torres passa, segundo aliados do presidente, por uma nova tentativa de Bolsonaro de emplacar Ramagem para o comando da Polícia Federal.
Com Mendonça na AGU, a expectativa do presidente é voltar a contar na estrutura com um nome que não se oponha às suas decisões. Como prêmio de consolação, por ter deslocado Mendonça para uma pasta de menor peso político, Bolsonaro avalia indicá-lo em julho para a vaga no STF a ser aberta com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello.