Bolsonaro troca diretor-geral da Polícia Federal mais uma vez
A troca surpreendeu auxiliares palacianos e aliados do governo
O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) trocou nesta sexta-feira (25) o diretor-geral da Polícia Federal.
Em edição extra do Diário Oficial da União, saiu a exoneração de Paulo Gustavo Maiurino e a nomeação de Márcio Nunes de Oliveira.
A troca surpreendeu auxiliares palacianos e aliados do governo. Segundo a Folha apurou, trata-se de uma escolha do ministro da Justiça, Anderson Torres. A PF está sob sua alçada na pasta.
Nunes era, até então, secretário-executivo de Torres. No Twitter, o ministro da Justiça, Anderson Torres, disse que Maiurino irá assumir o comando da Secretaria Nacional de Política sobre Drogas.
Torres, que também é delegado, vinha sendo colocado como pré-candidato ao Senado ou à Câmara pelo Distrito Federal. Mas, recentemente, auxiliares passaram a admitir que talvez ele continue até o final do governo.
A troca no comando da PF é uma demonstração de força do ministro, que entrou no governo em março do ano passado, quando André Mendonça deixou a pasta. Torres era secretário de Segurança Pública do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.
Com a mudança, será o quarto diretor-geral que assume a corporação e a quinta nomeação do presidente. Houve ainda um delegado que chegou a ser nomeado, mas não assumiu. Bolsonaro tentou colocar o aliado Alexandre Ramagem no cargo, mas foi impedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Neste mês de fevereiro de 2022, uma decisão de Maiurino de rebater declarações do ex-ministro e presidenciável Sergio Moro (Podemos) empurrou a instituição para dentro do debate eleitoral.
Torres não explicou a razão da mudança no comando do órgão.
“Ao Dr. Maiurino, meu reconhecimento pelo trabalho diário de reforçar o papel da PF como instituição autônoma sim, mas com respeito a preceitos fundamentais da corporação, como hierarquia e disciplina”, escreveu o ministro nas redes sociais.
“Sua experiência profissional será fundamental à frente da Senad”, afirmou ainda.
O comando da PF é tido como cargo estratégico por Bolsonaro por diversas apurações e manifestações do órgão.
Por meio de nota divulgada neste mês, a PF acusou Moro de mentir nas declarações que tem feito sobre o trabalho que o órgão desempenha nos últimos meses.
A PF atacou também o ex-juiz por sua atuação na passagem no Ministério da Justiça, do qual a polícia é subordinada.
Segundo o texto da Polícia Federal, Moro desconhece a corporação e não se envolveu quando teve oportunidade, ficando fora de todos os debates que tratavam de interesses dos servidores.
A nota provocou polêmica dentro e fora da corporação. Moro deixou o ministério em abril de 2020 ao acusar Jair Bolsonaro de inferência na PF e hoje se apresenta como pré-candidato à sucessão do presidente.
A saída de Maurício Valeixo do comando da PF foi estopim para empurrar o ex-juiz da Lava Jato para fora do governo Bolsonaro.
Como mostrou a Folha, a cúpula da PF vinha desde o ano passado sustentando internamente um discurso de preocupação com eventual exploração da atuação do órgão durante a campanha eleitoral.
Bolsonaro já demonstrou incômodo com a atuação da PF em algumas ocasiões, como por duas investigações que concluíram que Adélio Bispo agiu sozinho no atentado contra o presidente.
No fim de janeiro, o órgão também disse ter visto crime de Bolsonaro na atuação do presidente atuação no vazamento de dados sigilosos de investigação de suposto ataque ao sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).