ESTUDO

Brasil está em 9º, de 11 países em ranking de ação feminina na política

Indicadores do País no Índice de Paridade Política estão entre os piores da América Latina

Brasil está em 9º, de 11 países, em direitos políticos das mulheres

O Brasil não vai bem quando o assunto é paridade entre homens e mulheres na política e sobre os direitos políticos delas. O Índice de Paridade Política (IPP) do País é 39,5, de 100, o que o coloca em nono lugar entre os países da América Latina mapeados: México (IPP: 66,2); Bolívia (64); Peru (60,1); Colômbia (54); Argentina (44,7); Honduras (42,7); Guatemala (42,6); Uruguai (41,7); Chile (38,2); e Panamá (37) são os outros.

De fato, os indicadores do País estão entre os piores da América Latina, segundo o projeto Atenea, implementado na Região pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pela ONU Mulheres, com o apoio da organização Idea Internacional. Ao todo, são 40 indicadores analisados em oito dimensões relacionadas ao tema. Com estes, é possível calcular o IPP, com valores entre 0 a 100.

“O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer em direção à paridade de gênero e, para isso, é fundamental que ocorram mudanças institucionais, sejam estabelecidos compromissos sólidos e atuação coordenada entre distintas entidades, para que seja possível produzir e incrementar avanços em cada uma das oito dimensões abordadas”, afirma a representante da ONU Mulheres no Brasil, Anastasia Divinskaya.

Atenea

A maior nota foi a do México: 66,2. Katyna Argueta, representante do PNUD no Brasil, implementou o Atenea no México em 2017. Segundo ela, um ano e meio após a colocação do projeto, o país aprovou uma grande reforma para garantir que 50% dos cargos públicos fossem ocupados por mulheres. “Por lá, a regra vale para os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, nos órgãos federais, estaduais e municipais, além de órgãos autônomos. Nossa expectativa é contribuir para que o Brasil também consiga fazer suas mudanças estruturais”, disse.

Vale destacar, o Atenea existe desde 2014. O intuito é gerar mudanças para garantir a paridade de gênero na esfera política. Ele inclui países da América Latina e Caribe, reunindo informações sistemáticas, periódicas, comparáveis e sensíveis a gênero sobre a presença das mulheres nas diferentes áreas de participação política.

O projeto, que é um dos eixos de ação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (que trata sobre igualdade de gênero e empoderamento de mulheres e meninas), recomenda mudanças que contribuam para uma superação das desigualdades. Além dos países já citados, está prevista a aplicação na Costa Rica, Equador, El Salvador, Haiti, Nicarágua, República Dominicana e Venezuela.

Números

No Brasil, há somente 11,5% de mulheres ocupando prefeituras e 13,5% em Câmaras municipais. Nos Estados e no Distrito Federal, há apenas uma governadora, no Rio Grande do Norte. Em relação às Assembleias Legislativas e Câmara Legislativa do Distrito Federal, são 15,5%.

Em Goiás, dos 41 deputados estaduais, apenas duas são mulheres: Adriana Accorsi (PT) e Lêda Borges. Na Câmara de Goiânia, das 35 cadeiras, cinco são ocupadas por mulheres: Dra. Cristina (PL), Leia Klebia (PSC), Priscilla Tejota (PSD), Sabrina Garcêz (PSD) e Tatiana Lemos (PCdoB). Na cidade vizinha, Aparecida de Goiânia, nenhuma mulher foi eleita em 2016.

Goiânia

Sabrina Garcêz afirmou que a igualdade de gênero é um fenômeno estrutural que está longe de ser superado. “Mas se fizermos um trabalho em conjunto de poderes (Legislativo e Executivo) e a sociedade, a fim de buscar equidade entre homens e mulheres, acredito que podemos ter um município e até um País melhor”.

Ela afirma que, nesta legislatura, apresentou alguns projetos de lei, como a reserva de vagas de trabalho para as mulheres vítimas de violência doméstica no município, bem como outro que declara utilidade pública o grupo mulheres Dandara do Cerrado, que faz um trabalho voltado a busca de quantidade de gênero para mulheres. “Mas ainda tem muito pra ser feito.”

Sabrina lembra, ainda, que foi a primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) da Câmara e fez questão de ter todas as mulheres dentro do colegiado para fortalecer o trabalho. “Outra ação que acredito, enquanto parlamentar, é a criação ou fomento de uma escola de formação política para mulheres que se interessem em se candidatar ou trabalhar em uma campanha. Em Goiás existe o Goianas na Urna, que é um projeto suprapartidário e voluntário, mas acredito que o poder público também deve oferecer esse tipo de formação.”

Goiás

A deputada estadual Adriana Accorsi, que também é pré-candidata à prefeitura de Goiânia, cita que houve retrocesso no número de parlamentares no Estado. Contudo, a legisladora destaca que as mulheres têm se unido e mobilizado extra partidariamente para garantir maior presença em cargos eletivos, mas também na liderança de partidos, sindicatos e conselhos.

“Mas acredito que é preciso o incentivo da população e partidos para estimular a participação. Só com a presença das mulheres que nossas necessidades serão lembradas e contempladas”, expõe. Para a petista, é necessário, agora, cotas de cadeiras para garantir mulheres eleitas, e também que defenda políticas que auxiliem as candidatas, como orçamento obrigatório para elas. “É muito importante para a nossa participação.”

Segundo ela, os atuais políticos podem contribuir tratando as mulheres com respeito e consideração. “Precisam ser parceiros para que elas se sintam bem no ambiente da política. Mas também precisamos aprovar políticas que incentivem a participação, como a das cotas de 30%. Claro que há desvios, com o uso de laranjas, mas estes precisam ser combatidos e fiscalizados.”

Eixos e notas do Brasil

Dimensão 1: Compromissos nacionais com a igualdade na constituição e marco legal

Subíndice: 20

Dimensão 2: Exercício do direito ao sufrágio

Subíndice: 80,3

Dimensão 3: Cotas e paridade política

Subíndice: 13,3

Dimensão 4: Poder Executivo e Administração Pública

Subíndice: 51,7

Dimensão 5: Poder Legislativo

Subíndice: 59,1

Dimensão 6: Poder Judicial e Instâncias Eleitorais

Subíndice: 21,7

Dimensão 7: Partidos políticos

Subíndice: 45,1

Dimensão 8: Governos locais

Subíndice: 25