Brasil não comprou vacinas da Pfizer antes por ‘incompetência’, diz Fabio Wajngarten
O ex-secretário de comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, afirmou que o Brasil não comprou antes…
O ex-secretário de comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, afirmou que o Brasil não comprou antes vacinas da Pfizer por “incompetência” e “ineficiência”. Em entrevista à revista Veja, o ex-titular da Secom revelou reuniões que teve sobre a aquisição de imunizantes da Pfizer durante o ano passado e fez críticas à condução do tema pelo Ministério da Saúde, evitando citar diretamente o ex-ministro Eduardo Pazuello. Poupou, porém, o presidente Jair Bolsonaro. Wanjgarten é uma das autoridades que deve ser chamada a depor na CPI da Covid.
O ex-secretário relatou ter se envolvido nas negociações com a Pfizer ainda em setembro de 2020 e afirma que a falta de evolução na negociação atrasou o início da imunização no país, gerando mais mortes. Segundo o publicitário, o ministério tinha um “time pequeno, tímido, sem experiência” diante de uma negociação milionária com uma grande farmacêutica, que já fechava contratos com Europa, Estados Unidos e Israel e que, por isso, tiveram prioridade nas doses e progrediram na imunização.
— As negociações avançaram muito. Os diretores da Pfizer foram impecáveis. Se comprometeram a antecipar entregas, aumentar os volumes e toparam até mesmo reduzir o preço da unidade, que ficaria abaixo dos 10 dólares. Só para se ter uma ideia, Israel pagou 30 dólares para receber as vacinas primeiro. Nada é mais caro do que uma vida. Infelizmente, as coisas travavam no Ministério da Saúde.
Para o ex-secretário, apesar de ter criticado as vacinas reiteradamente e dito que quem recebesse a CoronaVac poderia virar jacaré, Bolsonaro se preocupou com a crise sanitária nos vieses sanitário e econômico. Os principais entraves, segundo ele, seriam as três cláusulas já amplamente divulgadas: escolha do tribunal em Nova Iorque para solucionar conflitos, isenção de responsabilização e indenização e publicação de medida provisória (MP) em que o país cedesse ativos potenciais no exterior em caso de ações.
— O presidente sempre disse que compraria todas as vacinas, desde que aprovadas pela Anvisa. Aliás, quando liguei para o CEO da Pfizer, eu estava no gabinete do presidente. Estávamos nós dois e o ministro Paulo Guedes, que conversou com o dirigente. Foi o primeiro contato entre a Pfizer e o alto escalão do governo. Guedes ouviu os argumentos da empresa e, depois, disse que “esse era o caminho”. Se o contrato com a Pfizer tivesse sido assinado em setembro, outubro, as primeiras doses da vacina teriam chegado no fim do ano passado.
Wajngarten também conta que entrou em contato com representantes dos Três Poderes a fim de destravar as negociações e que foi alvo de notícias falsas dentro do ministério acerca do interesse para importar os imunizantes. Também rebateu críticas sobre a falta de publicidade do governo a respeito das vacinas:
— Antevi os riscos da falta de vacina e mobilizei com o aval do presidente vários setores da sociedade. Já me acusaram até de não ter feito campanha publicitária para divulgar a importância da vacina. Como eu ia fazer campanha de vacinação se não tinha vacina. Se fizesse, seria propaganda enganosa — completou.