‘Brasil não fez nada para evitar entrada do vírus’, diz presidente da CPI da Covid
Além disso, Omar Aziz (PSD-AM) disse que não fará 'negociata' com o governo federal
Opção do Palácio do Planalto para comandar a CPI da Pandemia, o senador Omar Aziz (PSD-AM) avisou neste domingo que não está disposto a fazer qualquer tipo de “negociata” com o governo para mudar o escopo da investigação. Com discurso duro, o futuro presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a apurar possíveis omissões da União durante a crise sanitária disse que o Brasil “não fez absolutamente nada para impedir a entrada do vírus” no ano passado.
– A CPI vai ter início, meio e fim. Não dá para uma pessoa como eu, do estado do Amazonas, que foi um dos estados que mais sofreram com a pandemia, fazer de conta que não aconteceu nada. O Brasil tem em torno de 2,5% da população mundial, e nós representamos 26% de óbitos. Vamos chegar em uma semana a mais de 400 mil óbitos. Em outubro de 2019, todos os cientistas, as pessoas que trabalhavam no Ministério da Saúde já sabiam que a pandemia ia chegar no Brasil O Brasil não fez absolutamente nada para impedir a entrada do vírus no início. E eu vou ficar pensando em negociata com o governo? Com pessoas morrendo de oxigênio no meu estado? Não tem como. Não tem a menor possibilidade disso – disse em entrevista à GloboNews.
Aziz disse que tem postura independente e que suas ações mostrarão isso na condução dos trabalhos. Também afirmou que tem interesse de ouvir explicações do ex-chanceler Ernesto Araújo sobre as tratativas internacionais e integrantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a demora para atestar a segurança da vacina Sputnik. Ele afirmou que quer saber, ainda, por que faltou oxigênio em Manaus e por que faltam acordos para a compra de vacinas.
– Não queremos crucificar ninguém antecipadamente, e sim investigar os fatos. Por que não teve oxigênio pro povo do Amazonas? Por que não fizemos acordo para comprar vacina? Nós temos relações comerciais com o mundo todo, o Brasil não tem inimigos, e nós temos dificuldade de trazer insumos para produzir vacinas. Eu sei, eu perdi um irmão, há 40 dias atrás, mas eu não culpo ninguém, porque essa doença é fatal para qualquer pessoa. Eu não posso dizer que o presidente foi responsável pela morte do meu irmão, que o governador fez isso, eu quero é que mais vidas sejam salvas. E aí, não tem cargo no governo, não tem recurso para o estado que faça eu mudar um centímetro dessa nossa linha de investigação – afirmou o senador amazonense.
Renan: ‘Vamos apurar fatos’
Na mesma entrevista, Aziz confirmou que vai indicar o senador Renan Calheiros (MDB-AL) para a relatoria da CPI. Renan, que também estava na conversa, disse que não entende a reação negativa do Planalto ao seu nome e que vai defender a investigação de todos, até mesmo de parentes, se for preciso. O filho do parlamentar é governador de Alagoas.
– É um despropósito inusitado. Sinceramente não sei por que isso acontece (resistência do governo). Quero dizer que sou parlamentar de longo curso. Não cheguei agora. Não quero fazer fama na CPI. E tenho, tanto quanto o presidente Omar, responsabilidade com relação ao aprofundamento dessa investigação. Vamos fazê-la com absoluta responsabilidade, com isenção. Não tem por que o presidente (Bolsonaro) ficar preocupado. Não vamos fazer força-tarefa, não vamos fazer powerpoint contra o presidente da República, nada. Vamos apurar fatos – declarou, em referência à investigação feita sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Renan disse que as subrelatorias que devem ser criadas na comissão para diferentes temas vão garantir ainda mais isenção nas decisões. Também defendeu a punição de autoridades por eventuais falhas na gestão pública:
– Não vamos pré-datar investigação, mas vamos apurar tudo, absolutamente tudo. E tendo que responsabilizar alguém, nós vamos responsabilizar. A CPI não pode punir, não pode fazer força-tarefa, mas pode investigar e responsabilizar. E depois que ela responsabilizar aqueles que por erro ou omissão contribuíram com esse morticínio, a sociedade não vai tolerar que aqueles que colaboraram pra a morte de 360 mil pessoas hoje, essas pessoas não podem gozar da mesma liberdade daqueles que acertaram. A sociedade não permite essa equiparação. Confio em todos da comissão e especialmente no presidente Omar que essa comissão não vai dar em pizza.