Cabe ao eleito rever tendência de aumento nos gastos públicos
Para o diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Felipe Salto, o atual contexto econômico exige uma combinação de medidas de ajuste fiscal. Para o próximo ano, o governo estima que vai fechar as contas com déficit primário de R$ 139 bilhões
A tradicional pressão do Congresso para que o governo amplie gastos públicos não deve mudar na gestão do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e pode dificultar o ajuste fiscal, avaliam economistas ouvidos pela reportagem.
O presidente Michel Temer, apesar de ter aprovado um teto para o crescimento do gasto e defender o ajuste, vem recebendo sucessivas faturas. Bolsonaro terá o desafio de mudar essa tendência.
Para o diretor-executivo do IFI (Instituição Fiscal Independente), Felipe Salto, o atual contexto econômico exige uma combinação de medidas de ajuste fiscal. Para o próximo ano, o governo estima que vai fechar as contas com déficit primário de R$ 139 bilhões.
“A pressão para crescimento do gasto não é nova, sempre foi assim. E vai ser sentida fortemente nesse contexto, porque o Brasil está crescendo muito pouco”, disse.
O economista lembra que o descumprimento do teto, regra que impede o crescimento das despesas acima da inflação, aciona gatilhos automáticos de ajuste, como a proibição de aumentos salariais e novas contratações.
Na avaliação do economista e ex-diretor do BC (Banco Central) Alexandre Schwartsman, a expansão de despesas no Congresso não está descolada da vontade popular.
“A sociedade quer subsídio, cada um quer o seu. A indústria automotiva pede, a Zona Franca de Manaus pede, o funcionário público quer um outro tanto, o caminhoneiro também. E o Congresso dá”, diz. “Cada um está em busca da sua ‘meia-entrada’ e os vários grupos de pressão estão conseguindo emplacar”.
“A sociedade não mudou. Então, o Congresso não vai mudar”, afirma.
Para o consultor Raul Velloso, a saída para o governo aliviar as contas públicas é reformar as regras da aposentadoria. “O que vem do Congresso, tem que avaliar. O que não puder evitar, terá que absorver de alguma forma. O pior é a Previdência”, diz.
Bernardo Caram/Folhapress | Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil