Caiado, eu lhe entendo, fazer algo sem vontade é ruim demais
Caiado declarou apoio a Bolsonaro com a mesma vontade que eu saio da cama às cinco da manhã de uma segunda-feira
Caiado é uma figura peculiar da política brasileira. Mesmo seus adversários mais contundentes reconhecem nele a franqueza nos embates. Não é do seu feitio o jogo de duas caras. De sorrir de um lado e maldizer do outro. Do tapinha camarada nas costas quando a vontade real seria rolar em um octógono de MMA. Mas, na política, até mesmo Caiado tem seus dias de engolir sapos e fazer o que não deseja.
Declarar apoio a Bolsonaro não era a vontade de Ronaldo Caiado. A preferência do governador era ficar neutro, deixar o pau quebrar em âmbito nacional e cuidar de seu segundo mandato em Goiás com o qual ele almeja se projetar para a disputa presidencial de 2026. Mas a vida é como aquela música dos Rolling Stones que diz que you can’t always get what you want. E, experiente como é, Caiado sabe disso.
Toda linguagem corporal de Caiado revelava desconforto. A cara amarrada. O olhar para o horizonte. A fala protocolar. Os gestos comedidos. O ânimo de um ressaqueado que segue para o trabalho depois de míseras três horas de sono. O corpo de Caiado estava ao lado de Bolsonaro, mas seu coração não compartilhava aquele ambiente. E isso ficou nítido.
É claro que Caiado se lembrou do riso sádico no canto da boca de Bolsonaro em Rio Verde. O presidente e o governador estavam no palco. Quando o goiano se aproximou do microfone para sua fala, foi acintosamente vaiado por longos e constrangedores minutos pelos apoiadores do presidente. Bolsonaro tinha poder de acalmar a súcia. Mas nada fez. Caiado quase implorava por um gesto do presidente que fingia que não era com ele. Uma humilhação pública em solo goiano como Caiado pouquíssimas vezes foi submetido, se é que isso já aconteceu. E a culpa foi de Bolsonaro.
Brizola já dizia que a política é a arte de engolir sapos. Para poder sonhar com o futuro, Caiado, a contragosto, engoliu o indigesto sapo bolsonarista. E sabe-se lá como será essa digestão.
@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Isac Nóbrega / Presidência