JOGO DURO

“Caiado sozinho não faz verão”, alerta cientista político sobre debate da reforma tributária

Especialista avalia que outros governadores têm cometidos 'erros primários' no debate

Jorge Ramos Mizael (Foto: Domingos Ketelbey/Mais Goiás)

O cientista político e especialista em projeções de cenários, Jorge Ramos Mizael brinca que ficou conhecido como ‘mãe Dináh da política’, nos corredores de Brasília, por conta de seus prognósticos acertados. Ele crava que a reforma tributária em tramitação no Senado Federal deverá ser votada em no máximo 70 dias. “E vai passar”, crava. “Se governadores contrários ao texto não subirem o tom, a matéria será aprovada sem grandes alterações”.

Mizael esteve em Goiânia nesta quinta-feira (3) em evento promovido pelo Sindicato dos Funcionários do Fisco do Estado de Goiás (Sindifisco-GO) para debater os impactos da reforma tributária na economia goiana. “Aprovada, ela vai mudar todas as nossas vidas”, destaca. “Não me pergunte como”, brinca.

Jorge considera louvável a peregrinação que o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) fez em Brasília. O chefe do executivo goiano foi uma das únicas vozes contrárias ao texto. Entre os principais desconfortos do gestor estava a criação do Conselho Federativo, que vai definir como os tributos serão distribuídos aos estados.

O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos) também mostrava-se contrário ao texto, mas em certo momento da tramitação do texto, passou a minimizar as críticas e apoiá-lo em certo grau. Hoje, ele é “95% favorável”. O que muda entre um e outro?

Atuações diferentes

Jorge postula que a trajetória de ambos os governadores são diferentes. “Caiado foi um parlamentar ativo enquanto Tarcísio não passou por essa experiência. A experiência que Caiado teve no Congresso tanto como deputado federal ou como senador, dão a ele uma visão e atuação muito mais enérgica quando dá para ser.”, pontua Mizael.

“Ele estava tratando na Câmara num momento que antecedia a apresentação de um substitutivo que foi apresentado pouquíssimos minutos antes de ser colocado em votação. Ele percebeu a urgência do fato e entrou em campo. O Tarcísio, do outro lado, também foi fazer uma jogada de bastidor onde ele é muito bom, mas por outra lógica. Isso dá a eles um histórico de atuação bem diferentes”, pontua.

Toda essa atuação prévia não servirá se Caiado continuar isolado como uma voz contrária ao texto. ‘A experiência no legislativo o ajuda bastante, mas sozinho também ele não faz verão, se outros governadores não entrarem com a ênfase devida, vai passar o momento e não se conseguirá grandes alterações no Senado.”, destaca.

Porque outros governadores não entram no jogo?

Se o tal do Conselho Federativo minimiza o poder dos governadores, porque a maioria está passiva quanto ao texto? Jorge credencia – de novo – a trajetória política de Caiado. “De forma geral, talvez o governador seja o único que tenha inúmeros anos de experiência no legislativo. Não me lembro de outro que tenha tanta experiência quanto ele.”, salienta.

De modo que Jorge acredita que a estratégia da maioria dos gestores hoje, está equivocada. “O que eu ouvi na semana da votação é que alguns governadores iriam esperar o texto chegar no Senado para começar a participar, o que do ponto de vista legislativo é um erro abissal. Você esperar a casa revisora para fazer uma alteração é dizer que sua alteração tem de ser confirmada pela casa iniciadora. É uma casa bicameral. Tem que ser aprovada pelos dois lados.”, ponderou. 

Daí, as experiências como deputado federal e senador ajudaram o governador goiano. “O Caiado percebeu isso lá atrás e disse que era necessário resolver isso naquele momento, de forma antecipada. Outros governadores, sentem-se muito grandes, cheios de pompas e firulas acharam-se muito acima, vamos dizer assim, para visitar a Câmara dos Deputados.”, salientou.

Há aqui, dificuldades também entre os governadores de dialogarem com os divergentes. “É muito difícil para o governador reunir com sua bancada. Existem muitas diferenças partidárias, colorações e mundos diferentes. Para ele se reunir lá é muito difícil. No Senado é mais fácil. Ao invés de se reunir com 8, 12, 70 deputados como no caso de São Paulo, no Senado são três, então é mais fácil compatibilizar divergências.”, pontua.

De todo modo, Jorge reforça: a estratégia que a maioria dos governadores têm adotado é muito frágil e pode trazer consequências negativas aos entes. “De novo: é um erro que só principiantes deixam acontecer e muitos governantes estão mostrando-se principiantes no tratamento com o legislativo”, conclui.