Caminhoneiros de Goiás reclamam que valor do frete não acompanha alta do diesel: “conta não bate”
“Não vai ter jeito, nós vamos ter que parar", diz Wallace Chorão, que representa a categoria no plano nacional
Entidades que representam os caminhoneiros de todo o País organizam uma manifestação para derrubar o preço de paridade de importação (PPI), política de preço da Petrobras que é responsável pelos reajustes constantes dos combustíveis no Brasil. Durante a semana, eles definirão as datas e o formato das manifestações, que podem ser, inclusive, paralisações. A informação foi confirmada pelo presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Goiás (Sinditac-GO), Vantuir Rodrigues, ao Mais Goiás.
A decisão de protestar foi tomada após o novo anúncio da Petrobras, nesta segunda-feira (9), de aumento de 8,87% do diesel. O PPI, que mudou a política de preços da empresa de capital misto em 2016 (governo Temer), é um sistema baseado na paridade internacional de preços dos combustíveis, conforme já explicou ao portal o economista Aurélio Troncoso, coordenador do centro de pesquisa de mestrado da UniAlfa.
Segundo Troncoso, os valores estão ligados diretamente ao câmbio (dólar) e ao barril de petróleo. E a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) faz uma média mundial de preço entre os maiores exportadores. Com isso, o Brasil compra o barril do petróleo em dólar.
Ato dos caminhoneiros
Para Vantuir, se a sociedade tiver engajamento nesse ato dos caminhoneiros, é possível derrubar o PPI. “O aumento do combustível impacta todos os produtos e afeta todos os brasileiros”, ressalta. Questionado se a paralisação será o modelo de manifestação, ele afirma que ainda não está definido. Contudo, ele afirma que muitos motoristas já estão parando.
“A conta não bate. O frete, que deveria subir por causa da lei junto com o combustível, não sobe”. Vale citar, a política do frete mínimo citada por Vantuir foi uma das reivindicações dos caminhoneiros que paralisaram as estradas de todo o país em maio de 2018. A lei, contudo, está judicializada. Segundo o sindicalista, ela não estaria suspensa, mas não é aplicada, apesar disso.
Além de Vantuir, o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Chorão, também declarou (ao site Congresso em Foco), que a categoria não consegue trabalhar com o novo aumento. “Não vai ter jeito, nós vamos ter que parar. Só estamos aguardando a posição de outros segmentos do transporte.”
Bolsonaro culpava presidente, em 2018
Há cerca de quatro anos, durante manifestação de caminhoneiros contra os aumentos constantes de preços dos combustíveis, o então deputado federal Bolsonaro (PL) apoiava a categoria na paralisação. Segundo ele, os aumentos eram por omissão do Executivo e a greve forçaria o presidente a dar uma solução.
“Os caminhoneiros buscam soluções para esses problemas, que interessam aos 200 milhões de brasileiros. Não têm encontrado eco no Legislativo. Sobrou-lhes o Executivo, que teima a se omitir. Assim sendo, apenas a paralisação prevista poderá forçar o presidente da República a dar uma solução para o caso”, disse em vídeo nas redes sociais, à época.
Hoje, na cadeira de presidente, Bolsonaro argumenta que a responsabilidade é da Petrobras. Porém, os representantes dos caminhoneiros, como Vantuir, culpam o gestor federal. “Lucrando bilhões com essa política de preços”, disse o líder sindical ao Mais Goiás.
No primeiro trimestre deste ano, a Petrobras conseguiu converter 31,6% das suas receitas em lucro, perdendo apenas para a chinesa CNOOC (37,7%). Mas no ranking de lucro ela está em primeiro, com US$ 8,6 bilhões (R$ 44,6 bi) registrados de janeiro a março. O montante supera grandes petroleiras, como Shell, ExxonMobik, BP, Chevron e mais, conforme o Poder360.