Campanha do MDB sem Maguito foi surpresa da eleição, dizem especialistas
Para cientistas políticos ouvidos pelo Mais Goiás, o fato da campanha do emedebista se manter forte mesmo com ele internado foi inesperado
O ritmo forte da campanha de Maguito Vilela (MDB) à prefeitura de Goiânia, mesmo com o candidato fora da vista do eleitorado, foi, segundo especialistas em política, a surpresa das eleições municipais de 2020. Em entrevista ao Mais Goiás, os cientistas políticos Guilherme Carvalho e Pedro Célio e o professor doutor Luiz Signates analisaram o cenário político e, entre outros pontos, destacaram o fato de o ex-governador ter se mantido bem no conceito do eleitorado, mesmo longe da campanha corpo a corpo – ele está internado com diagnóstico de Covid-19 desde o mês de outubro.
A última pesquisa do Instituto Real Time Big Data, divulgada na quinta-feira (12), mostrou Maguito em primeiro lugar com 28% das intenções de voto. Já Vanderlan Cardoso (PSD), candidato do governador Ronaldo Caiado, aparece em segundo, com 22%. No entanto, o cenário político ainda é incerto e as respostas só serão dadas após a apuração.
Veja o que disseram os especialistas.
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Qual a maior surpresa das eleições em Goiânia?
Guilherme Carvalho: Para Carvalho, a forte presença dos órgãos de controle, em especial, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), no indeferimento de figuras já tradicionais da política goianiense, é algo chamativo nestas eleições. “O que passa para a opinião pública é que há uma lisura no processo [eleitoral], e que os órgão de controle têm trabalhado de forma isenta de modo a analisar o mérito das questões”, pontua.
Além disso, Carvalho se disse surpreso pelo caso específico de Maguito que, mesmo internado com covid-19 em São Paulo, segundo o cientista, não perdeu o ritmo. “Maguito participou muito pouco da própria campanha, mas ele construiu uma rede de apoio extensa na cidade”, afirma.
Luiz Signates: O apontado “abandono” de Iris das questões eleitorais foi, segundo Signates, uma das surpresas deste pleito. Para o pesquisador, a aposentadoria de Iris já era aguardada, mas houve uma quebra de expectativa na composição de um sucessor que, no caso, seria Maguito. “Uma liderança desse porte sempre vai para casa, mas mantém a articulação e faz o sucessor. Sem dúvida, não esperávamos que ele simplesmente se ausentasse, abandonando o campo”, diz.
Signates, assim como Carvalho, também diz ter sido surpreendente o prosseguimento e consolidação da campanha de Maguito, mesmo com o candidato internado no hospital. No entanto, Signates afirma que é sabido, por outros exemplos, “que nem sempre um candidato internado em hospital representa derrota da candidatura, especialmente se o caso é tratado convenientemente”.
Pedro Célio: Mencionada por Carvalho e Signates, a solidez da campanha de Maguito Vilela foi, segundo Célio, a grande surpresa destas eleições. De acordo com o cientista, o fato de “parte do eleitorado que já declarou a preferência para o Maguito Vilela ter se mantido ainda alinhada, quando havia muitas expectativas de que ele iria perder apoio”, foi inesperada.
“A enfermidade sempre gera hipótese de fragilidade física, pessoal, quanto ao futuro do papel que o candidato pode desempenhar. Mas isso não abalou de maneira alguma [a campanha do emedebista]”, finaliza Célio.
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O comportamento de Iris ajudou quem e atrapalhou quem?
Guilherme Carvalho: Carvalho afirma que o fato de Iris Rezende (MDB), atual prefeito de Goiânia, não ter entrado de forma direta na corrida eleitoral desperta, no mínimo, curiosidade. Para o cientista, Iris tem “o DNA da política” e teve seus motivos para não fazer uma campanha aberta para Maguito Vilela.
“Se de um lado ele não se contrapõe a um grande aliado que já se vem construindo uma aliança há alguns anos, que é o governador Ronaldo Caiado […], por outro, ele não viu grandes vantagens em desagradar esse grupo [do governador] e apoiar um candidato que pode colocar uma barreira em Goiânia ao projeto caiadista em 2022”, pontua.
Contudo, a ausência de posicionamento firme no apoio a um candidato, segundo Carvalho, deixou a disputa “mais equilibrada”, não beneficiando ou prejudicando os candidatos do pleito. “Como ele anuncia a aposentadoria, automaticamente a memória afetiva das pessoas aparece e isso faz com que a popularidade dele aumente. E quando ele decide não entrar no pleito, ele não transfere essa popularidade para ninguém”, avalia.
Luiz Signates: O cientista relata que a apontada neutralidade de Iris viabiliza um “resultado ambíguo”. Segundo Signates, a ausência de Iris “no palanque” com Maguito, por um lado, fragilizou a candidatura do candidato “ao gerar a impressão de um MDB com fratura exposta”. “Por outro, concedeu a oportunidade para que os Vilela mostrassem musculatura política própria, independente do efeito Iris na cidade”, diz.
Para Signates, mesmo que perca a eleição, “Maguito, com covid-19 e internado, terá um bom álibi e, caso vá ao segundo turno, terá gerado um efeito demonstração de que é significativo não apenas para Aparecida e de que não depende tanto do irismo para se afirmar”. Mas se ganhar, “não terá dívidas a solver com o lado de lá do partido”. “Como Iris aposentou-se, o espólio político dele estará disponível por inteiro para um Maguito prefeito da capital”, conclui.
Pedro Célio: Enquanto Carvalho e Signates veem Iris distante da campanha de Maguito, Célio afirma que não enxergou “neutralidade em momento algum da campanha”. Para o cientista, o fato de Maguito ter contado com o aval para sair candidato já foi um sinal de apoio. “Não vi o pronunciamento dele, mas o fato do Maguito Vilela ter saído candidato com a legenda do MDB já significou que não há neutralidade do Iris em ponto algum, porque o comando do Iris no partido é muito forte”, avalia.
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O apoio de Caiado mais ajudou ou atrapalhou Vanderlan?
Guilherme Carvalho: De acordo com Carvalho, Caiado tem “intenções próprias” ao bancar Vanderlan no pleito, que seria justamente a reeleição em 2022. Segundo o cientista, o apoio do governador ao candidato do PSD foi essencial no quesito de construção de grupo, uma vez que, segundo Carvalho, Vanderlan era carente de um. “Vanderlan tentou constituir uma terceira via no estado. Enquanto candidato ao governo ou à prefeitura, ele sempre tentou montar seu próprio grupo”, diz.
Além disso, para o cientista, a articulação política feita pelo governador que levou Wilder Morais, ex-secretário do governo caiadista, a aceitar ser vice de Vanderlan fez com que os votos de Wilder, não tão expressivos, migrassem para Vanderlan. Com isso, o apoio de Caiado teve um grande peso.
Luiz Signates: Para Signates, o apoio de Caiado a Vanderlan foi “ousado, ajuda pouco e, possivelmente, atrapalha”, uma vez que, segundo ele, é da história das eleições de Goiânia votar contra o governador, não importa o nível de aceitação dele. “Só o Santillo fez o prefeito de Goiânia, quando governou Goiás, elegendo Nion Albernaz em 1988”, conta.
Signates diz acreditar que o ‘desafio da tradição’ perpetrado por Caiado requereu coragem, mas o governador não perde nada com o apoio, ao contrário. “Se o Vanderlan ganha, o Caiado terá participado da vitória e terá como influir para não tê-lo como adversário na reeleição. Se ele perder, a estatura política do Senador saíra menor”, afirma.
Pedro Célio: Já para Célio, o fato de Caiado ter uma “administração sem grandes atropelos” e ter o comando da máquina pública já conta pontos para a candidatura de Vanderlan. Todavia, para o especialista, a vantagem do apoio não está em necessariamente ele partir de Caiado. “Quem está numa campanha eleitoral, quanto mais a pessoa somar apoio, melhor”, conclui.