Episódios recentes de violência relacionados à política aumentaram a preocupação das pré-campanhas com a segurança dos pré-candidatos à Presidência da República e fizeram com que agendas fossem readequadas. Na quinta-feira, um artefato com explosivos e fezes foi detonado em ato do ex-presidente Lula no Rio. Um evento com o petista já tinha sido alvo de um drone com “água de esgoto” em Uberlândia (MG), segundo a militância. E o carro do juiz responsável pela ordem de prisão contra o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro foi alvo de um ataque com excrementos e ovos. Nos dois primeiros casos suspeitos foram presos, e a Polícia Federal abriu inquérito para investigar o atentado contra o juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal de Brasília.
No ato na Cinelândia, no Centro do Rio, na noite de quinta-feira, Lula usou um colete à prova de balas. Além da polícia, seguranças privados contratados pela organização do ato atuaram no local. Em eventos pelo país, a própria militância tem sido usada para fazer cordões de isolamento e dar uma “ajuda extra” nessa área.
O general Gonçalves Dias, que ficou conhecido como a “sombra” de Lula em seus dois mandatos presidenciais, voltou a fazer parte da equipe de segurança do petista, segundo a colunista Bela Megale, do GLOBO. Chamado de GDias, sua função é cuidar dos eventos externos da pré-campanha.
A Polícia Federal e as pré-campanhas à Presidência começaram a definir os nomes que estarão à frente da segurança dos candidatos durante o período eleitoral. No caso da campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro, a segurança fica sob responsabilidade do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão vinculado ao Palácio do Planalto.
A tensão no período eleitoral já preocupa o entorno de Bolsonaro. Segundo interlocutores, o titular do Palácio do Planalto tem feito perguntas acerca dos riscos a locais a que tem viajado pelo país. Atingido por uma facada na campanha de 2018, Bolsonaro anda de colete à prova de balas, mas, apesar de às vezes demonstrar preocupação de ser atacado novamente, costuma não seguir à risca as recomendações de sua segurança pessoal, o que obriga o reforço na equipe que faz a proteção ao presidente.
O GSI, chefiada pelo ministro Augusto Heleno, não divulga o número do efetivo que acompanha o presidente, mas a equipe já vem sendo reforçada com a proximidade da campanha eleitoral.
Temendo tentativas de ataques ao presidente durante atos públicos, a recomendação é que Bolsonaro cumpra agenda em locais restritos, mas o presidente costuma insistir no contato direto com apoiadores, a exemplo do que faz em motociatas e Marchas para Jesus.
A preocupação com a segurança pesou na decisão de fazer no Maracanãzinho, no Rio, no final deste mês, a convenção para oficializar a candidatura de Bolsonaro à reeleição. A campanha quer fazer o evento em local fechado e seguro.
Também há preocupação da pré-campanha de Ciro Gomes (PDT) com a segurança do pré-candidato, principalmente diante dos recentes ataques contra o ex-presidente Lula e o juiz que mandou prender o ex-ministro Milton Ribeiro. Por ora, o pedetista conta com um contingente reduzido, mas aguarda o início do período eleitoral para reforçar a equipe de segurança. O ex-ministro também vai contar com o apoio da Polícia Federal, assim como demais presidenciáveis.
No início do ano, Ciro passou a contar com a segurança feita por três agentes da Polícia Militar do Ceará, efetivo ao qual tem direito por ter sido governador do estado. Ele solicitou o serviço por receio de uma escalada de tensão causada pela eleição. Ontem, o pedetista usou as redes socais para pedir que os recentes ataques fossem investigados e repudiados.
Em nota, a coordenação da pré-campanha à Presidência da senadora Simone Tebet (MDB-MS) afirmou que repudia veementemente a escalada de ataques em eventos de pré-campanha e quaisquer outros atos que afrontem a democracia e ponham em risco as pessoas. A pré-campanha de Tebet cobra que as autoridades investiguem com rigor e rapidez todos os casos para que novas tentativas de intimidação sejam coibidas.
Ainda de acordo com a coordenação da pré-campanha, a senadora segue todos os protocolos para assegurar sua proteção pessoal. E, após convenção partidária, passará a seguir as instruções normativas estabelecidas pela Polícia Federal. Nas últimas semanas, a PF designou um delegado do Mato Grosso do Sul, estado natal de Tebet, para chefiar a equipe de segurança da senadora.
Aliados demonstram preocupação com a escalada de tensão na pré-campanha, mas avaliam que o foco dos ataques deve se dar entre as candidaturas que representam a polarização e não na terceira via — a menos que esse campo se viabilize eleitoralmente nos próximos meses.