Censura no ensino

Colégio demite professor após blogueiro apontar “doutrinação” em questão de sociologia, em Goiânia

Alunos protestaram contra o desligamento com gritos e exposição de mensagens durante o intervalo

Prova de Sociologia do Colégio Visão (Foto: Reprodução)

Um professor de uma escola particular de Goiânia foi demitido após aplicar uma lista de exercícios com charge que critica violência policial para alunos do Ensino Médio. Desligamento ocorreu depois que o blogueiro bolsonarista Gustavo Gayer expôs o documento em rede social alegando que o profissional fazia “doutrinação” no ensino. Alunos da instituição, porém, usaram o intervalo das aulas para protestar contra a demissão e em apoio ao educador.

Na avaliação, o professor Osvaldo Machado pediu que o aluno respondesse “qual elemento do Estado que está sendo retratado na tira abaixo?”, aponta a questão 11 do exame. A imagem, produzida pelo artista André Dahmer, mostra um personagem fazendo comentários durante a leitura de um jornal: “Mais um assalto em São Paulo. Ainda bem que temos a polícia para combater a violência em prol…da barbárie”, diz a tirinha.

“A resposta era que o Estado é o único que pode usar a força. É só isso”, explicou Machado. Questão compunha lista de exercícios destinada a alunos de recuperação do Colégio Visão, instituição voltada à aprovação de estudantes em vestibulares, situada no Setor Bueno.

“Doutrinação”: críticas nas redes

Imagens do exercício, no entanto, acabou nas mãos de Gustavo Gayer, que além de blogueiro bolsonarista é  pré-candidato a deputado federal. Ele publicou a questão em uma vídeo no Instagram, com críticas por “doutrinação no ensino”. “O professor de sociologia ensinando nossos filhos que a polícia causa a barbárie. Odeia a polícia, mas ama os bandidos”, diz no vídeo.

Para o professor, que se manifestou por meio de áudio, o influenciador descontextualizou o discurso da charge usado na avaliação. “Era uma lista de recuperação. Ele fala que é uma prova”. “Nunca pedi em sala-de-aula para que avaliassem se policiais ou bandidos estavam certos. Com certeza você sabe”, disse Osvaldo em resposta a uma aluna.

“Censura”: alunos defendem professor

Diversos alunos se manifestaram a favor do professor. “Vai censura mais quantos?”, “sociologia não é ideologia política”, dizem mensagens postadas pela escola. “Como aluna, posso dizer que Osvaldo sempre nos ensinou que a formação do senso crítico dos alunos vem do ensinar outras realidades, o respeito e justiça, sempre nos ensinando a enxergar a vida com outros olhos”, publicou outra estudante.

Chargista comentou o caso

O próprio autor da charge, André Dahmer, defendeu o professor nas redes sociais.  “O Colégio Visão não sabe, mas meu trabalho aparece com frequência em concursos públicos e vestibulares. Em 2011, um dos meus quadrinhos foi tema de redação do Enem”, publicou.

Em resposta ao Mais Goiás o Colégio Visão respondeu: “A escola possui um Código de Conduta que veda manifestações políticas, partidárias ou ideológicas em ambiente escolar. A direção do Colégio mantém um canal de diálogo aberto com alunos e familiares, sempre pautando suas ações no Código de Conduta.”