CÂMARA

Comissão da Câmara convoca Braga Netto para explicar suposta ameaça às eleições

Comparecimento deve ocorrer em 17 de agosto; ministro da Defesa teria condicionado pleito de 2022 à aprovação do voto impresso pelo Congresso

Ministro da Defesa, Braga Netto (Foto: Reprodução / Folha de S. Paulo)

Uma comissão da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (3) a convocação do ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, para dar explicações sobre as supostas ameaças às eleições de 2022 caso o voto impresso não seja aprovado pelo Congresso.

O requerimento, do deputado Rogério Correia (PT-MG), foi aprovado pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. O general deve comparecer no colegiado no próximo dia 17.

O objetivo é que Braga Netto esclareça “as supostas afirmações feitas a interlocutores, conforme publicação do jornal O Estado de S. Paulo, edição do dia 22 de julho de 2021, condicionando a realização de eleições à adoção do voto impresso como forma de promoção de auditoria da referida eleição”.

“O ministro da Defesa não pode chantagear uma nação, nem mesmo deixar dúvidas sobre o processo democrático, e insinuar que isso pode ser substituído por um fechamento autoritário, especialmente sendo ele um general da reserva”, disse Correia. “O Parlamento brasileiro não pode também deixar que essa dúvida paire sobre a cabeça do povo.”

“Se pairar dúvida sobre isso, ele tem que simplesmente sair, porque ele não seria digno de ocupar um Ministério da Defesa, que, em outras questões, precisa também defender a democracia no nosso país”, afirmou o deputado.

Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo publicada em 22 de julho afirma que o ministro teria mandado um recado por meio de um interlocutor ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que, sem a aprovação do voto impresso, não haveria eleições em 2022.

De acordo com o jornal, Lira teria dito ao interlocutor que não participaria de nenhuma ruptura institucional.

Em nota no mesmo dia, o general fez coro com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e afirmou que existe no país uma demanda por legitimidade e transparência nas eleições.

Segundo ele, mais uma vez levantando uma bandeira bolsonarista, a discussão sobre o “voto eletrônico auditável por meio de comprovante impresso é legítima”.

“Acredito que todo cidadão deseja a maior transparência e legitimidade no processo de escolha de seus representantes no Executivo e no Legislativo em todas as instâncias”, afirmou o militar.

“A discussão sobre o voto eletrônico auditável por meio de comprovante impresso é legítima, defendida pelo governo federal, e está sendo analisada pelo Parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema”, disse Braga Netto na nota, em um recado indireto a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

O tema tem sido usado insistentemente por Bolsonaro para fazer ameaças golpistas contra o pleito de 2022. Ele já afirmou, várias vezes, que, se a mudança não ocorrer, não haverá eleições.

Em live no último dia 29, após três anos denunciando supostas fraudes nas eleições brasileiras, Bolsonaro trouxe apenas teorias que circulam há anos na internet e que já foram desmentidas anteriormente.

Ao longo de sua fala, Bolsonaro mudou o discurso e admitiu que não pode comprovar se as eleições foram ou não fraudadas.

“Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas. São indícios. Crime se desvenda com vários indícios”, declarou. Ao final da exposição, Bolsonaro foi questionado por jornalistas se havia mostrado suspeitas ou provas. Respondeu: “Suspeitas, fortíssimas. As provas você consegue com a somatória de indícios. Apresentamos um montão de indícios aqui”.

A comissão que analisa a PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso deve apreciar o novo relatório do deputado Filipe Barros (PSL-PR) nesta quinta-feira (5). A expectativa é que o texto seja derrotado na votação no colegiado.