LEALDADE

CPI da Covid ouve coronel que atuou como escudeiro de Pazuello na Saúde

Depoimento de Elcio Franco estava originalmente marcado para 27 de maio, mas foi remarcado após ele contrair a Covid

Depoimento de Elcio Franco estava originalmente marcado para 27 de maio, mas foi remarcado após ele contrair a Covid (Foto: Pedro França/Agência Senado)

A CPI da Covid ouve nesta quarta-feira (9), a partir das 9h, o coronel Antônio Elcio Franco Filho, ex-número dois do Ministério da Saúde durante os dez meses de gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello. A demissão dele ocorreu em março deste ano, mesmo mês que o general deixou o comando da pasta.

O depoimento de Elcio Franco estava originalmente marcado para 27 de maio. O adiamento da fala foi autorizado depois que o militar alegou estar em recuperação da infecção pelo novo coronavírus. Ele comparece à comissão na condição de testemunha convocada, isto é, com presença obrigatória e o compromisso de falar a verdade.

Segundo membros da CPI, um dos pontos de interesse em relação ao trabalho de Elcio Franco no Ministério da Saúde diz respeito ao processo burocrático para a aquisição de vacinas e insumos, além de suspeitas de mau uso de recursos federais repassados pela União a estados e municípios no combate à pandemia.

Como ex-secretário-executivo da pasta e escudeiro do general Eduardo Pazuello, o coronel deve ser indagado ainda sobre a demora nas negociações com a farmacêutica Pfizer e o atraso do governo federal para aderir ao consórcio de vacinas contra a covid-19 Covax Facility.

No depoimento à CPI, no mês passado, Pazuello afirmou que o contrato com o consórcio internacional trazia “riscos” ao país, pois não estabelecia prazos de entrega. Além disso, houve divergência em relação ao preço que o Brasil considerava ser justo para importação de imunizantes.

As declarações do ex-ministro foram duramente criticadas por parlamentares da oposição, que argumentaram que a questão financeira era irrelevante naquele momento frente à possibilidade de salvar vidas.

A convocação de Elcio Franco foi requerida pelos dois lados da comissão, oposição e defensores do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Por esse motivo, a tendência é que ocorra uma queda de braço entre as partes durante a formulação dos questionamentos.

Enquanto os membros da oposição e da ala independente, porém crítica ao governo, vão priorizar o tema das vacinas, aliados a Bolsonaro devem aproveitar a presença do ex-secretário-executivo para cobrar informações que possam ser usadas contra governadores e prefeitos.

O vice-presidente da CPI e líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que Elcio tem “muito” a relatar, “até mais do que o Pazuello”.

Quem é Elcio Franco e o que pensa o governo

Elcio Franco virou secretário-executivo do Ministério da Saúde quando Pazuello assumiu como ministro interino da pasta, em junho do ano passado. O cargo é considerado o mais importante após o próprio ministro. Antes era secretário-executivo adjunto.

Sua chegada ocorreu num momento de alta de militares em cargos de confiança no primeiro escalão do ministério. Ele é coronel da reserva e atuou em diversos postos quando na ativa, sem foco na área médica. Em 2019, por alguns meses, foi secretário de Saúde de Roraima.

Atualmente, Elcio é assessor na Casa Civil da Presidência da República, no Palácio do Planalto. Interlocutores do Planalto afirmam que Elcio foi um dos principais responsáveis na defesa e preparação do Pazuello para a CPI.

No Planalto, a expectativa é que o depoimento de Élcio seja similar ao primeiro dia de participação de Pazuello, com o militar “dominando” os senadores. O coronel tem a confiança do núcleo militar e foi levado ao Planalto justamente para construir a estratégia de defesa do governo na CPI.

Elcio já era auxiliar do ministro da Casa Civil, inclusive, quando Ramos decidiu enviar aos ministérios um documento que listou 23 acusações contra o governo na pandemia.

A estratégia, depois de revelada pelo UOL, criou um desgaste na equipe de Bolsonaro, até mesmo com rusgas palacianas sobre os caminhos que o governo deve adotar.

Elcio é apontado como um militar leal, mas há entre alguns auxiliares o receio de que o fato de o coronel ter tido covid, e segundo assessores, algumas complicações em razão da doença, possa deixá-lo mais sensibilizado.

Expectativa de votação de quebra de sigilos

Randolfe disse ontem ainda ter a expectativa de que uma série de quebra de sigilos de pessoas envolvidas de alguma maneira com a gestão do combate à pandemia seja aprovada até amanhã (10), como os integrantes do suposto “gabinete paralelo” de assessoramento a Bolsonaro na crise sanitária.

O senador informou haver entre os membros da CPI eventuais divergências relacionadas a quais e quantos sigilos devem ser quebrados. Ontem já havia essa expectativa de votação, que acabou não se concretizando. No entanto, espera haver uma pacificação sobre o assunto após reuniões.

O senador Humberto Costa (PT-PE) anunciou ontem que irá pedir a convocação e a quebra do sigilo de Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, auditor do TCU (Tribunal de Contas da União) apontado como o responsável por elaborar suposto estudo que apontaria que metade das mortes por covid-19 no país, na verdade, não seria por causa da doença. O suposto relatório foi citado a apoiadores pelo presidente Jair Bolsonaro, que foi desmentido pelo TCU.

Questionado sobre uma possível quebra de sigilo do vereador do Rio e filho do presidente Bolsonaro, Carlos Bolsonaro (Republicanos), Randolfe declarou não haver ainda todos os elementos para acreditar ser preciso a quebra de sigilo dele e buscou ressaltar que os senadores estão sendo criteriosos.

“O requerimento está sobrestado. Quando tivermos elementos e considerarmos necessário, nós o faremos [votação]. Nenhum dos requerimentos que está sendo proposto à apreciação deixa de ter a fundamentação necessária.”

Ex-secretário já esteve no Senado

Esta não será a primeira vez que Elcio Franco comparece ao Senado para prestar esclarecimentos sobre o seu trabalho desempenhado durante a pandemia da covid-19.

Em março deste ano, ele participou de uma audiência temática da Casa na qual defendeu a atuação do governo na execução do PNI (Plano Nacional de Imunização) e a implementação de estratégias de combate ao novo coronavírus.

“É muito salutar evitar a velocidade da disseminação da doença. Todos nós temos que ter essa consciência. Se nós olharmos as mídias sociais, as páginas, algumas campanhas têm sido divulgadas, inclusive na televisão e no rádio, nesse sentido, e também da importância da vacinação, da conscientização de que todos busquem se vacinar”, disse.

Próximos depoimentos previstos:

  • 10 de junho: Wilson Lima (AM)
  • 11 de julho: Natalia Pasternak, microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo, e Cláudio Maierovitch, médico sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz e ex-presidente da Anvisa
  • 29 de junho: Helder Barbalho (PA)
  • 30 de junho: Wellington Dias (PI)
  • 1º de julho: Ibaneis Rocha (DF)
  • 2 de julho: Mauro Carlesse (TO)
  • 6 de julho: Carlos Moisés (SC)
  • 7 de julho: Antonio de Almeida (RR)
  • 8 de julho: Waldez Góes (AP)