CPI da Covid ouve médica que deixou o governo pouco depois de assumir cargo
Infectologista Luana Araújo ficou apenas 10 dias à frente do Ministério
Em audiência marcada de última hora, a CPI da Covid ouve nesta quarta-feira (2), a partir das 9h30, a infectologista Luana Araújo, que ocupou a cadeira de secretária extraordinária de combate à Covid-19 durante pouco mais de uma semana. O desligamento da subpasta do Ministério da Saúde ocorreu em 22 de maio deste ano, dez dias após o anúncio da nomeação.
Luana será questionada a respeito dos motivos de sua saída e sobre a convivência com outras áreas do governo federal, em especial o Palácio do Planalto.
Segundo reportagem da revista Veja, a infectologista entregou o cargo ao ministro Marcelo Queiroga após não aceitar condições que teriam sido estabelecidas pelo comando do Executivo federal em relação às políticas de enfrentamento à pandemia. Desde então, ela se mantém em silêncio.
Senadores de oposição e independentes críticos ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) entendem que a desistência por parte da profissional de saúde pode estar relacionada a divergências em relação ao chamado “tratamento precoce” (estímulo ao uso de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da covid-19, como cloroquina e hidroxicloroquina).
O Ministério da Saúde até hoje não informou se a ex-secretária pediu para sair ou se ela foi demitida do cargo. O perfil dela é considerado “técnico” e “pautado na ciência”, de acordo com observações feitas por integrantes do órgão antes da nomeação.
Ao confirmar a saída de Luana, a pasta informou, em nota, que buscaria a reposição com as mesmas características.
“O Ministério da Saúde informa que a médica infectologista Luana Araújo, anunciada para o cargo de secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, não exercerá a função. A pasta busca por outro nome com perfil profissional semelhante: técnico e baseado em evidências científicas.”
Vacinação e medidas restritivas
Luana já se declarou publicamente como defensora da vacinação em massa, favorável a medidas restritivas e contra o “kit covid”, mesmo para pacientes com sintomas leves.
A infectologista afirmou também que “todos os estudos sérios” demonstram a ineficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina —medicamentos dos quais o presidente da República é entusiasta— e que a ivermectina é “fruto da arrogância brasileira” e “mal funciona para piolho”.
Divergências entre o Palácio do Planalto e o comando técnico do Ministério da Saúde são recorrentes desde que o novo coronavírus começou a se espalhar pelo país, entre fevereiro e março do ano passado. O impasse já levou, inclusive, à queda de ministros, como os ex-titulares do cargo Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.
Oitiva marcada de última hora
O depoimento de Luana Araújo foi marcado na noite de segunda-feira (31) e pegou senadores governistas de surpresa. Isso porque a agenda da semana havia sido definida com um painel de debates entre especialistas para o dia de hoje.
A ideia era ouvir médicos, pesquisadores e profissionais de saúde com posições divergentes a respeito do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. De acordo com o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Omar Aziz (PSD-AM), uma audiência com tal finalidade deve ser remarcada no futuro.