RETORNO

CPI da Covid: senadores avaliam novo depoimento de Marcelo Queiroga

Primeira participação de ministro da Saúde foi considerada evasiva; semana terá novos depoimentos na comissão

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Senadores da CPI da Covid dizem que o natural avanço dos trabalhos deverá levar a uma nova convocação do ministro Marcelo Queiroga (Saúde) que na semana passada prestou um depoimento considerado evasivo e pouco esclarecedor.

O desempenho de Queiroga na última quinta-feira (6) irritou integrantes do colegiado.

O ministro tentou driblar perguntas sobre o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro na pandemia, recusou-se a dar sua opinião sobre o uso da hidroxicloroquina (medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid) e evitou avaliar as condições do ministério e as ações de enfrentamento à pandemia no momento em que assumiu o cargo.

Conforme a coluna Painel mostrou, o senador Humberto Costa (PT-PE), titular da comissão, vai apresentar à CPI requerimento para reconvocar Queiroga por causa de uma portaria assinada pelo ministro sobre fiscalização e cobrança de valores transferidos pelo Ministério da Saúde a estados e municípios.

“É bem provável que ele deva voltar. Isso em condições normais, ainda mais levando-se em consideração o depoimento dele, que foi extremamente evasivo, contraditório, com muita informação truncada.”

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), confirma a possibilidade de chamar o ministro novamente.

“O Queiroga é que está no ministério hoje, então é natural que a CPI queira saber porque ele falou números diferentes sobre entrega de vacinas, por exemplo. Vamos conversar essa semana com a Pfizer para saber como andam as negociações.”

CONVOCADOS NA CPI DA COVID

  • Antonio Barra Torres, da Anvisa (terça-feira, 11.05)

  • Fabio Wajngarten (quarta-feira, 12.05)

  • Ernesto Araújo (quinta-feira, 13.05)

  • Presidente da Pfizer no Brasil (quinta-feira, 13.05)

  • ​General Eduardo Pazuello (quarta-feira, 19.05)

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), suplente do colegiado, também avalia que novas informações que surgirão dos documentos solicitados trarão a necessidade de novos depoimentos.

“Era previsível um depoimento defensivo e insuficiente. Queiroga ainda está na fase de tentar ignorar ou ocultar as dificuldades que os seus antecessores relataram.”

Vice-presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) qualificou o depoimento de Queiroga como “péssimo”. “Se o avançar das investigações requisitar um novo depoimento no ministro da Saúde, nós o faremos.”

Randolfe acrescenta que “não se pode convocar por convocar”. “Se convoca em decorrência para onde os fatos apontam. Vamos aguardar e observar a necessidade que a investigação requer”, afirma.

A defesa de que Queiroga seja novamente ouvido a depender dos rumos da CPI também é feita pelo senador Otto Alencar (PSD-BA). Segundo ele, no depoimento dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich ficou clara a imposição da vontade de Bolsonaro no protocolo do Ministério da Saúde.

“Isso aí ficou claro. Os dois não aceitaram, o [general Eduardo] Pazuello aceitou e ficou ministro por quase um ano. E agora o Queiroga não deu respostas que pudessem ser consideradas respostas convincentes.”

O senador avalia que Bolsonaro ainda não tomou decisões para “encampar aquilo que é necessário que o governo faça agora, que é a compra de vacinas.”

Ele critica também declarações feitas pelo presidente da República neste sábado, ocasião em que afirmou que vai divulgar um vídeo em que seus ministros vão fazer propaganda da hidroxicloroquina.

“Não tem cabimento uma coisa dessa. Até onde eu sei, o conhecimento do presidente da República em doença infectocontagiosa é zero”, diz. “O que eu aconselho o presidente é ele fazer um cursinho rápido de medicina, em doença infectocontagiosa, e montar um consultório Dr. Bolsonaro”, ironizou.

Um dos aliados de Bolsonaro na comissão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) diz não ver necessidade de novo depoimento do ministro.

“Eu acho que é a mesma coisa de nós estarmos no meio do 11 de Setembro convocando paramédicos e bombeiros para prestar depoimento, em vez de as pessoas estarem socorrendo os feridos lá. É como eu acho isso se convocarmos novamente o ministro. Uma falta de sentido e uma falta de bom senso.”

Em videoconferência realizada no sábado, o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), destacou que, em seu depoimento, o ministro Queiroga “visivelmente defendeu uma estratégia para não responder as perguntas objetivamente, e consequentemente não falar a verdade.”

Na transmissão, Renan disse ainda esperar que o presidente da República não tenha responsabilidade pelo agravamento da pandemia no Brasil, mas, se tiver, “ele será responsabilizado sim”.

O senador ressalta que cabe ao governo negar os fatos apurados. “Se conseguir, ótimo, facilita o nosso trabalho. Mas se o governo não conseguir isso, paciência. Nessa condição, ele terá que ser responsabilizado sim.”

A CPI deve ouvir na terça-feira (11) o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. No dia seguinte, será a vez do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten. Na quinta-feira (13), comparecerão o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e representantes da farmacêutica Pfizer.

Para Otto Alencar, o diretor-presidente da Anvisa precisa esclarecer questionamentos sobre a vacina russa Sputnik V.

“Foi uma das primeiras vacinas solicitadas para avaliação e apreciação, e, depois de muito tempo postergando a avaliação, já agora no fim avalia de forma preliminar, superficial e diz: “Olha, tem adenovírus replicante”?”, critica. “Na nossa opinião, a análise não foi feita de acordo com o que necessita ser feito.”

Otto também destaca o comparecimento de Wajngarten. “Ele estava no governo e disse que teve incompetência do Pazuello. É preciso saber quais são as provas que ele tem a respeito disso”, afirma. “E uma coisa estranha também é que não é normal o secretário de comunicação da estrutura governamental se envolver tão intensamente na compra de vacina.”

A ida de Pazuello à CPI está marcada para o dia 19, na semana seguinte.

Na avaliação do senador Rogério Carvalho (PT-SE), é importante ouvir ainda os representantes da Pfizer. “Esperamos que haja uma confirmação das reiteradas tentativas da empresa de vender a vacina para o Brasil, e o descaso do governo Bolsonaro, mesmo diante do risco de mais mortes por Covid”, afirma.

“O desprezo e o desinteresse por vacinas sempre aconteceram com a intenção de colocar em prática a tese da imunidade de rebanho, uma ação deliberada que levou o Brasil a mais de 420 mil mortes.”