CPI ouve CEO da Pfizer para detalhes sobre recusa do governo a vacinas
CPI busca entender o que fez com que Bolsonaro recusasse a oferta para adquirir 70 milhões de doses
A CPI da Covid no Senado Federal ouve nesta quinta-feira (13), a partir da 9h, o ex-presidente da Pfizer no Brasil Carlos Murillo, que estava à frente da companhia no período de articulações junto ao governo brasileiro para aquisição de 70 milhões de doses da vacina produzida pela farmacêutica.
Atualmente, Murillo ocupa a função de CEO da empresa para a América Latina. No Brasil, ele foi substituído por Marta Díez, que também foi convidada a prestar esclarecimentos na CPI. No entanto, ela está fora do país e não será ouvida nesta quinta-feira (13).
Segundo parlamentares que integram a comissão, um dos objetivos da oitiva é descobrir detalhes da negociação e verificar se houve, de fato, algum tipo de negligência por parte do Ministério da Saúde ao não realizar a compra do lote que havia sido ofertado.
As conversas entre o governo Jair Bolsonaro (sem partido) e a Pfizer ocorreram durante o segundo semestre do ano passado.
Nesse período, a vacinação no país ainda não era tratada como uma prioridade do Executivo federal, que dava ênfase ao chamado “tratamento precoce” —incentivo ao uso fora da bula, sob prescrição médica, de remédios sem eficácia comprovada no tratamento do coronavírus, como a cloroquina e hidroxicloroquina. O assunto foi, inclusive, objeto de duas campanhas publicitárias oficiais feitas pela Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social do Planalto), sendo uma em agosto e outra em novembro.
No fim de 2020, a Pfizer ofereceu a possibilidade de aquisição imediata de 70 milhões de unidades da vacina, com entrega agendada a partir do mês de dezembro. No entanto, o Ministério da Saúde —à época comandado pelo general Eduardo Pazuello— impôs uma série de exigências.
A negociação acabou se arrastando por meses, e o acordo com a farmacêutica só foi firmado em março deste ano. O primeiro lote (com 1 milhão de doses) chegou no fim do mês seguinte. Uma remessa complementar, com mais 1 milhão de doses, começou a ser distribuída na última segunda-feira (10).
Anteontem, o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou a compra de mais 100 milhões de doses do imunizante. A carga deve começar a chegar em setembro.
Carta pode reforçar tese de erro do governo
Para senadores da CPI que são críticos ao governo e ao ideário de Jair Bolsonaro, o governo errou ao não efetivar a aquisição de vacinas da Pfizer. A tese ganhou ainda mais força depois do depoimento do ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten, ontem (11), marcado por bate-boca e ameaças de prisão do publicitário.
Wajngarten afirmou aos parlamentares que a farmacêutica enviou uma carta ao governo com uma oferta de prioridade na compra dos imunizantes, porém o documento acabou ficando dois meses engavetado, sem que ninguém se preocupasse em dar uma resposta.
O documento teria sido endereçado a membros do governo, inclusive Jair Bolsonaro (sem partido), o vice Hamilton Mourão (PRTB), e três ministros. Ainda assim, Wajngarten buscou isentar Bolsonaro de qualquer culpa por eventuais omissões e minimizar a quantidade doses que supostamente foram oferecidas nas primeiras conversas com a farmacêutica —500 mil doses, disse.
Segundo o relato, insatisfeito com a situação, o publicitário teria tentado assumir a dianteira das negociações —por acreditar que era o melhor para os interesses do país. Ele confirmou ter aberto “as portas do Planalto” para as conversas com a Pfizer —informação que ele já havia revelado em entrevista à revista Veja, na qual disse também que a gestão do governo da pandemia é “incompetente”.
Os senadores questionaram se ele julgava ter sido a melhor decisão, já que era chefe da pasta de comunicação do governo, sem nenhuma relação com o Ministério da Saúde. O depoente disse que havia se sensibilizado com a situação de vítimas da covid e que entendia ser uma iniciativa correta. Ao longo das explicações, ala de senadores enxergou contradições e mentiras por parte de Wajngarten.
Quem já prestou depoimento à CPI
- Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde
- Nelson Teich, ex-ministro da Saúde
- Marcelo Queiroga, ministro da Saúde
- Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa
- Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência
Próximos depoimentos previstos
*Nem todas as convocações já foram aprovadas, e as datas ainda podem sofrer alguma alteração.
- Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores: 18 de maio
- Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde: 19 de maio
- Mayra Pinheiro, do Ministério da Saúde, conhecida como “capitã cloroquina”: 20 de maio
- Representante do Instituto Butantan: 25 de maio
- Representante da Fiocruz: 26 de maio
- Representante da União Química: 27 de maio