Coletiva

Damares convoca entrevista, fica em silêncio e depois diz que foi encenação

Ministra disse que a simulação foi feita para mostrar como as mulheres são silenciadas

A ministra Damares Alves (Família, Mulher e Direitos Humanos) convocou a imprensa para uma entrevista coletiva, não respondeu a perguntas, abandonou o local sem falar com jornalistas e depois admitiu se tratar de uma encenação. O episódio ocorreu na tarde de segunda-feira (25) no Palácio do Planalto. No local, autoridades participaram em seguida de evento em razão do Dia Nacional de Enfrentamento da Violência contra a Mulher.

Damares chamou jornalistas às 15h e chegou ao local, no segundo andar do Planalto, com trinta minutos de atraso. Diante do primeiro comentário e das perguntas iniciais do jornalistas, deixou o local sem dar nenhuma declaração.
Antes, fez um gesto de negação com a cabeça, ao movimentá-la de um lado para o outro, e levantou as mãos para o alto, aparentando estar emocionada e impedida de falar.

A cena durou 30 segundos. Após a realização do evento, do qual participou o presidente Jair Bolsonaro, Damares disse que a simulação foi feita para mostrar como as mulheres são silenciadas. As explicações foram dadas apenas após o fim da cerimônia, em que Damares prometeu ampliar o atendimento de mulheres vítimas de violência ao acrescentar às delegacias do país “salinhas pintadas de rosa”. “Eu fiquei em silêncio para que vocês sintam como é difícil uma mulher ficar em silêncio. Quando eu queria falar tanto para vocês hoje, dizer dessa campanha belíssima, eu preferi o silêncio. É muito ruim tirar a voz de uma mulher. Era esse o recado que eu queria dar, e obrigada por terem participado voluntariamente e involuntariamente da campanha. Que todas as mulheres tenham voz”, disse a ministra em entrevista ao final da cerimônia.

Ela disse haver já orçamento previsto para a ação, mas não soube dizer o valor. Isso, segundo Damares, deve começar a ser feito a partir de janeiro de 2020. Damares disse que a ideia de criar salas rosas nas delegacias comuns não quer dizer que ela vá acabar com as unidades especializadas em atender as mulheres. “Não, nós vamos ter mais delegacia das mulheres e nos lugares em que não tiver delegacia da mulher vai ter um serviço especializado de atendimento até chegar a delegacia da mulher lá. O que não podemos é deixar a mulher sem um atendimento especial em todas as delegacias”, disse.

Segundo ela, os agentes começarão a ser capacitados no começo do ano que vem. “Nós vamos procurar que o governo federal, num primeiro momento, arque com o treinamento. Mas claro, vai ter um momento que vai precisar trazer o estado, e os municípios também para este curso, para esta capacitação.”

Durante o evento, que contou com a participação do presidente Jair Bolsonaro, foi lançada a campanha #Vctemvoz. De acordo com a Secom (Secretaria Especial de Comunicação), o custo total foi de R$ 11 milhões. Entre os materiais divulgados está um videoclipe da dupla sertaneja Simone e Simaria, que cantou uma música chamada “Amor que dói”.

Bolsonaro fez uma breve fala e disse que todos sentem quando uma mulher é agredida. “Quando uma mulher sofre uma agressão física ou moral todos nós sentimos, mas nós temos que criar meios para dissuadir os agressores. Criar novas leis que os façam sentir, que os façam cada vez mais se arrependerem de seus atos”, disse. Ele ainda disse que espera que as ações de seu governo ajudem a proteger sua filha no futuro. O presidente é pai de Laura, 9, e de quatro filhos homens.”O que eu faço hoje, o que a Damares faz hoje, o que nós fazemos, será revertido em benefício para essa minha filha. Eu não consigo imaginar ela sofrendo agressão um dia”, disse.