Delação indica esquema de arrecadação ilegal de Crivella por apoio de Romário
Delator afirma que pedido de “ajuda” do prefeito ocorreu em reunião na Igreja Universal
A delação premiada de um empresário do setor de iluminação pública indica que um esquema de arrecadação ilegal de recursos para a campanha do prefeito Marcelo Crivella, em 2016, foi usado para convencer o senador Romário (Pode-RJ) a apoiá-lo ainda no primeiro turno da eleição. O depoimento faz parte da investigação do Ministério Público do Rio (MP-RJ) que apura a existência de um esquema de corrupção na Prefeitura do Rio.
Paulo Roberto de Souza Cruz, então sócio da Compillar Entretenimento Prestadora de Serviço, disse que foi procurado em 2016 por um outro empresário do setor. O objetivo seria marcar um encontro com o tesoureiro da campanha de Crivella, Mauro Macedo, que estaria arrecadando R$ 1,5 milhão com empresas interessadas em futuros contratos na RioLuz. A doação empresarial em campanhas já estava proibida em 2016.
O colaborador reconhece que manifestou interesse em fazer parte do esquema, o que gerou uma segunda reunião, esta com Crivella. O encontro, segundo o depoimento, ocorreu no estacionamento da Igreja Universal de Alcântara, em São Gonçalo – depois de Macedo, Crivella e o empresário assistirem ao culto.
Na delação, Cruz disse que, ao apresentá-lo a Crivella, Macedo disse ao prefeito que o empresário era um dos que estavam “ajudando a gente com a RioLuz”. Em seguida, ainda de acordo com o depoimento, Crivella teria agradecido. “Meu querido, obrigado pela sua ajuda, porque estamos precisando da ajuda de vocês para resolver o apoio do Romário”.
Não há citação no depoimento sobre a data exata em que os encontros teriam ocorrido. O apoio de Romário a Crivella na eleição de 2016 foi tornado público no dia 21 de setembro. O apoio do senador chegou a ser disputado também pelo MDB, que lançou a candidatura do deputado federal Pedro Paulo na ocasião. O PSB, partido de Romário na época, apoiava formalmente a candidatura de Indio da Costa (PSD). Romário não é investigado no procedimento do Ministério Público do Rio.
A colaboração premiada de Cruz foi homologada em 2018, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso – como a revista Época revelou no ano passado, os depoimentos citam também a possível participação de deputados federais.
“Dos documentos juntados ao presente pedido é possível constatar que há elementos indicativos de possível envolvimento de autoridades detentoras de prerrogativa de foro perante esta Corte, a exemplo dos deputados federais Dejorge Patrício, Marcelo Delaroli, Rosângela Gomes e Walney Rocha, o que atrai a competência do Supremo Tribunal Federal para homologação do acordo”, escreveu Barroso em despacho.
A reportagem está tentando ouvir as versões do prefeito Marcelo Crivella e de Romário sobre o caso.