Deltan se filia ao Podemos e diz que STF institucionaliza impunidade dos corruptos
O ex-coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, filiou-se nesta sexta-feira (10) ao Podemos. A…
O ex-coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, filiou-se nesta sexta-feira (10) ao Podemos. A cerimônia de filiação ocorreu num hotel em Curitiba e contou com a presença do ex-juiz dos processos da operação, Sergio Moro, que também aderiu ao partido no mês passado e foi tratado no evento como candidato à Presidência em 2022.
O hotel da filiação já havia sido local de entrevistas de Deltan quando ele ainda era o procurador da República chefe da Lava Jato. Numa praça em frente ao espaço, enquanto ele falava num auditório para cerca de 150 pessoas, uma dezena de apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), denunciado por Deltan, realizava um ato contra o ex-membro do MPF (Ministério Público Federal).
Uma faixa trazida pelos manifestantes dizia que Deltan usou o Ministério Público para perseguir políticos, como o próprio Lula.
Deltan, por sua vez, defendeu seu trabalho e repetiu algumas vezes em seu discurso seu compromisso no combate à corrupção. “Ela não é o único problema do Brasil, mas é um problema central do nosso país”, disse. Afirmou que o Brasil passa por um momento de retrocesso no combate a esse problema e que isso precisa mudar. “Se não nos mexermos, quando acordarmos, teremos retrocedido 30 anos no combate à corrupção.”
Em seu discurso, aproveitou para criticar o STF (Supremo Tribunal Federal). “Nós vimos o fim da prisão em segunda instância, a decisão do STF que institucionalizou a impunidade dos corruptos no Brasil. Vimos essa decisão desestimular as colaborações premiadas e a devolução do dinheiro que tinha sido desviado. Vimos a criação de novas regras desastrosas pelo STF, como a regra que dá competência à Justiça Eleitoral para casos de corrupção política quando parte do dinheiro vai para a campanha dos envolvidos”, disse ele, lembrando que essa decisão culminou na anulação de pelo menos duas condenações do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Deltan não concedeu entrevista a jornalistas. A apoiadores anunciou o lançamento de uma campanha para que candidatos a cargos públicos nas próximas eleições se comprometam com a defesa da democracia, preparação política e também com o combate à corrupção.
Ele afirmou que sua campanha é suprapartidária. Ele espera que 200 candidatos em 2022 assinem uma carta compromisso na qual constam os três princípios de atuação. Como procurador, Deltan trabalhou na Lava Jato de 2014 a 2020. Em novembro, ele pediu exoneração do MPF dizendo que pretendia continuar trabalhando contra corrupção de outra forma.
Moro, que discursou antes de Deltan, disse que o novo colega de partido é uma pessoa comprometida e disposta a sacrificar sua carreira no Ministério Público para entrar na política em prol do bem comum.
“Nossa turma é que a gente pode se orgulhar. Não somos a turma do mensalão, petrolão, rachadinha”, disse Moro, criticando o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governo de Lula. Deltan não declarou se vai sair candidato a algum cargo público na eleição do ano que vem. O senador Álvaro Dias, presente na filiação do ex-procurador, afirmou que ele será candidato a deputado federal pelo partido no Paraná.
O Podemos, agora com Deltan e Moro, fortalece sua imagem de “partido da Lava Jato”. Sua bancada de congressistas posiciona-se em defesa de pautas favoráveis à operação há anos. O senador Dias, por exemplo, é um dos grandes entusiastas do projeto de lei que possibilita a prisão de condenados em segunda instância.
Em outubro, os três senadores do Paraná –Dias, Flávio Arns e Oriovisto Guimarães, todos do Podemos– publicaram uma nota conjunta em apoio ao procurador Diogo Castor de Mattos, que foi subordinado a Deltan na Lava Jato. Naquele mês, o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) determinou a demissão de Mattos do MPF porque ele pagou um outdoor em defesa da operação instalado nos arredores de Curitiba.
Em discurso no Senado, Dias qualificou a decisão do CNMP como “surreal” e defendeu que ela seja revista. Castor de Mattos esteve no ato de filiação de Dallagnol, mas não quis conceder entrevista à Folha.
Dias, aliás, prestou depoimento a Moro e Castor de Mattos em um dos processos da Lava Jato em 2017. Na época, ele foi questionado sobre um suposto acordo para que a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras, instaurada em 2009, não aprofundasse apurações sobre casos de corrupção na estatal em troca de propinas.
Dias negou ter participado desse suposto acordo e ter recebido qualquer propina. Ele nunca foi denunciado por membros do MPF sobre o caso.