BRASÍLIA

Deputado colhe assinaturas para instalar “CPI do Viagra” na Câmara

Forças Armadas adquiriram 35 mil unidades do medicamento usado para tratar disfunção erétil

Deputado Bira do Pindaré colhe assinaturas para instalar "CPI do Viagra" na Câmara (Foto: Câmara dos Deputados)

Líder do PSB na Câmara, o deputado federal Bira do Pindaré (Maranhão) começou a coletar assinaturas para tentar instalar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar a compra de 35 mil unidades de Viagra, medicamento que costuma ser usado para tratar disfunção erétil, pelas Forças Armadas. Ele precisa do apoio de 171 deputados.

Na justificativa, o deputado propõe apurar também a aquisição outros bens supérfluos, que eventualmente possam ter indícios de superfaturamento, por órgãos e entidades vinculados ao Ministério da Defesa. Ele cita as compras de picanha e filé mignon reveladas recentemente por reportagem do jornal O Globo.

Pindaré diz:

“A relevância constitucional e legal dos fatos é inegável e decorre das mais elementares premissas que devem reger a Administração Pública. A exemplo disso, a nova Lei de Licitações, que em atenção ao princípio da eficiência e da moralidade, estabelece expressamente que os itens de consumo adquiridos para suprir as demandas das estruturas da Administração Pública deverão ser de qualidade comum, não superior à necessária para cumprir as finalidades às quais se destinam, vedada a aquisição de artigos de luxo”.

Compra de Viagra

Dados do Portal da Transparência e do Painel de Preços do governo federal mostram que oito pregões foram realizados por unidades ligadas aos comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica para aquisição de Viagra. As informações obtidas pelo deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) mostram que os processos de compra foram homologados em 2020 e 2021 e seguem válidos neste ano.

Nos processos de compra, o medicamento é identificado pelo nome do princípio ativo Sildenafila, composição Sal Nitrato (Viagra), nas dosagens de 25 mg e 50 mg. O maior volume, de 28.320 comprimidos, tem como destino a Marinha. Outros cinco 5 mil comprimidos foram aprovados para Exército e outros 2 mil, para Aeronáutica.

Elias Vaz apresentou ao Ministério da Defesa um requerimento no qual pede explicações sobre os processos de compra do medicamento.

— Precisamos entender por que o governo Bolsonaro está gastando dinheiro público para comprar Viagra e nessa quantidade tão alta. As unidades de saúde de todo o país enfrentam, com frequência, falta de medicamentos para atender pacientes com doenças crônicas, como insulina, e as Forças Armadas recebem milhares de comprimidos de Viagra. A sociedade merece uma explicação — disse o parlamentar.

Questionada pela coluna, a Marinha e a Aeronáutica informaram que as licitações visam ao tratamento de pacientes com Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP), “uma síndrome clínica e hemodinâmica que resulta no aumento da resistência vascular na pequena circulação, elevando os níveis de pressão na circulação pulmonar”.

A Marinha afirma que a síndrome “pode ocorrer associada a uma variedade de condições clínicas subjacentes ou a uma doença que afete exclusivamente a circulação pulmonar”.

A Marinha declarou que se trata de uma “doença grave e progressiva que pode levar à morte”. O Exército não respondeu aos questionamentos da coluna.

Picanha, filé e salmão

Na semana passada, a coluna trouxe à tona um levantamento feito por Vaz que mostra a aprovação de processos de compra de mais de 1 milhão de quilos de picanha, filé mignon e salmão entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2022, na gestão do ex-ministro da Defesa, Braga Netto. Os pregões somam o valor de mais de R$ 56 milhões.