Controversia

Deputado quebra corrente em terra indígena e grava vídeo para Bolsonaro

Com uma motosserra, um alicate e gravando um vídeo dirigido ao presidente Jair Bolsonaro, o…

Com uma motosserra, um alicate e gravando um vídeo dirigido ao presidente Jair Bolsonaro, o deputado estadual Jeferson Alves (PTB-RR) quebrou e levou embora nesta sexta-feira (28) uma corrente utilizada para controlar o acesso noturno à terra indígena Waimiri-Atroari, em Roraima, que é atravessada pela rodovia BR-174.

“Essa corrente nunca mais vai deixar o meu Estado isolado. Presidente Bolsonaro, é por Roraima, é pelo Brasil. Não a favor dessas ONGs que maltratam meu estado”, disse o deputado, que serrou a base de madeira usada para prender a corrente.

A corrente era levantada diariamente das 18h30 às 6h00 em um trecho de 123 km da rodovia com o objetivo de preservar a vida de indígenas e animais. Mais de 2,1 mil indígenas vivem na região. A passagem de veículos em situação de emergência, como ambulâncias, é autorizada mesmo à noite.

O uso da corrente para controle do trânsito foi iniciado ainda nos anos 70 pelo próprio Exército, responsável pela construção da rodovia, que liga Manaus (AM) a Boa Vista (RR), e depois assumida pelos indígenas.

Em 2011, o Programa Waimiri Atroari da Eletronorte calculou que de 70 a 150 animais, incluindo pacas, jacarés, antas e até onças morriam atropelados na rodovia todos os meses apenas no período diurno.

Segundo o advogado Harilson Araújo, da Associação Waimiri-Atroari, o grupo liderado pelo deputado estadual abordou, “constrangeu e colocou num canto” dois adolescentes indígenas que estavam próximos da corrente nesta manhã.

“Não existe nenhuma ordem judicial que impeça o uso da corrente. Ações judiciais estão tratando sobre a corrente, mas o deputado estadual resolveu não aguardar a palavra do Judiciário e foi fazer justiça com as próprias mãos, a manu militari [pela força]”, disse o advogado. “A situação agora é bastante tensa entre os indígenas, estamos tentando acalmar os ânimos”, completou.

A Procuradoria da República foi acionada pela associação para atuar no caso.