Deputados divergem de opinião sobre adiamento de decreto de Caiado
Apesar disso, presidente da Casa, Lissauer Vieira preferiu não comentar tema antes de conversar com o governador Ronaldo Caiado
“Não vou baixar nenhum decreto letra morta”, disse Ronaldo Caiado (DEM) em entrevista em entrevista à Rádio Sagres 730 nesta quinta-feira (14). A frase sinaliza um recuo da publicação de novo decreto relativo a medidas de isolamento social no Estado de Goiás. Aliado do governador, o deputado Chico KGL (DEM) vê a postura como acertada e afirma que não foi baseada em pressão, mas no entendimento que a situação do Estado não é tão grave e que o decreto de 20 de abril já é rigoroso o suficiente. Lissauer Vieira, presidente do parlamento goiano, preferiu não comentar antes de falar com o chefe do Executivo estadual.
Como KGL, o deputado estadual Zé Carapô (DC), vice-líder do governo, vê o adiamento como decisão acertada. “O momento é grave, uma vez que foi-se instalado uma dicotomia entre saúde e economia no País. Quando na verdade os dois aspectos têm que ser tratados de forma paralela. O discurso que sobrepõe a importância de um sobre o outro é inconsequente e incendia o país. Da oposição, Adriana Accorsi (PT) que afirma que com concorda com a atitude democrática do governador de chamar os setores para dialogar, mas afirma que ele deveria ter tomado a decisão de emitir o decreto, uma vez que o número de casos de infectados pelo novo coronavírus têm aumentado exponencialmente..
Vale destacar que, na última quarta-feira (13), o Estado confirmou 1.225 casos de coronavírus, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES). Foram 110 infectados nas últimas 24 horas, o maior número de casos registrados em um dia desde o início do monitoramento. Na data, havia 61 óbitos pela Covid-19.
Posições
Segundo Chico KGL, o governador ficou até a madrugada acordado, monitorando os números, antes de resolver não emitir um texto mais rigoroso. Para ele, Goiás está bem comparado a outros Estados.
Segundo dados do site Covid.Saúde, Goiás tem incidência de infecção de 16,2 por 100 mil habitantes e mortalidade de 0,9 pelo mesmo número. Também na região, Mato Grosso tem incidência de 19 e mortalidade de 0,6. No Distrito Federal, o número é de 105,9 de incidência por 100 mil habitantes e mortalidade de 1,6. A média é 33,2 e 0,9.
Na região sudeste, que compreende os estados de São Paulo, Espírito Santo, Rio e Minas, a média é de 89,3 de incidência e 7,4 de mortalidade. No Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), 29,2 (incidência) e 1,0 de mortalidade. No Nortes, 108,2 e 6,7; e no Norte, 184,9 (incidência por 100 mil habitantes) e 12,8 (mortalidade por 100 mil habitantes).
Desta forma, ele reforça que o adiamento não foi por pressão. “Ele viu que os números não estavam tão graves.” Porém, segundo Chico, caso as pessoas não respeitem o atual decreto, ele irá endurecer. “Ele é médico, conhece a situação de quem precisa trabalhar, mas sabe que a vida precisa ser preservada”, afirma complementa: “Ele pensou e tomou medida acertada, depois de olhar os números e falar com os prefeitos. Está vigiando. Não liberou, manteve o decreto do dia 20, que é duro.”
Zé Carapô afirmou que economia e saúde devem ser tratadas de forma paralela. Segundo ele, é natural que o governador, como médico, tenha um olhar diferente para a saúde, mas a mensagem que está sendo passada não é do governador, mas da situação que se impõe. “E claramente há uma divergência na sociedade. Mas o meu sentimento é de que a maioria das pessoas não querem um isolamento radical”, avalia.
Questionado sobre o que espera, então, de um novo decreto – que pode ou não vir por agora –, Carapô pensa que este deve levar em consideração os vários segmentos e a opiniões diversas, sendo construído junto com a sociedade e seus representantes. “O problema da saúde é muito sério, ninguém tem dúvidas, mas tão importante quanto isso, é sabermos que nesse momento há muitos pais e mães de família desesperados e sem recursos para alimentar seus próprios filhos”, afirma.
Oposição
“Embora concorde com a atitude democrática do governador em chamar setores para dialogar, ele deveria ter tomado essa decisão [de emitir o decreto]. O número de casos do novo coronavírus têm aumento exponencialmente, no Estado”, afirma a deputada estadual Adriana Accorsi. Para ela, esse recuo de Caiado influencia a população, o que agravará a situação.
Segundo a petista, ele deveria ter feito o certo, o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que seria endurecer a quarentena, e garantir o isolamento de, pelo menos, 50% da população. “Alguns setores precisam permanecer isolados ou retornar ao isolamento. Além disso, é preciso ocorrer a fiscalização. Estamos com o pior isolamento do País”, desabafa.
Accorsi diz, ainda, que Caiado cedeu a pressões, sobretudo daqueles que estão mais preocupados com a economia do que com a vida. “Principalmente o empresariado, que fica em casa, mas quer que os funcionários trabalhem. Então, eu esperava dele, como médico, que começou bem quanto as medidas de isolamento, que emitisse o decreto.”
Pressão
Diversos prefeitos já tinham adiantado que achavam o fechamento total uma medida drástica, como Gustavo Mendanha (MDB), de Aparecida; e Vinicius Luz (PSDB), de Jataí. Além disso, em reunião com o Fórum Empresarial, Sandro Mabel, presidente da presidente da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), expôs que o setor se manifestou contra a medida.
À época, ele disse ao Mais Goiás que Caiado afirmou não se importar com a opinião do grupo e que fecharia tudo com o novo decreto. O trecho não foi confirmado por Marcelo Baiocchi, representante do fórum no Comitê de Combate ao Novo Coronavírus e presidente da Federação do Comércio do Estado de Goiás (Fecomércio). “Ele ouviu todas as nossas sugestões e até anotava o que falávamos. Mas disse que estava decidido”, disse o empresário. Aparentemente, não estava.