Deputados goianos veem Bolsonaro refém do Centrão após troca de líder
"Bolsonaro ganha uma 'sobrevida' de alguns dias ou meses”, diz Otoni; “reforça compromisso com o Centrão”, comenta Elias Vaz
O presidente Jair Bolsonaro destituiu o deputado federal Major Vitor Hugo (PSL) do cargo de líder do governo na Câmara e escolheu o parlamentar Ricardo Barros (PP-PR) para assumir a função. Antes até que a mudança seja oficializada, mas alguns congressistas goianos que fazem parte da oposição já têm a sua avaliação.
Para o petista Rubens Otoni, a troca de líder demonstra que “o governo se tornou gradativamente refém do Centrão”. Ele afirma que “Bolsonaro tenta sobreviver politicamente entregando ao Centrão espaços estratégicos de poder. É o tradicional ‘toma lá dá cá’”.
Questionado o que muda em termos de articulação, ele dispara: “Bolsonaro ganha uma ‘sobrevida’ de alguns dias ou meses, justificando os votos do Centrão em matérias de seu interesse.”
Compromisso com o Centrão
“O presidente reforça, com essa medida, o seu compromisso com o centrão”, declara o deputado federal Elias Vaz (PSB). Para ele, a escolha de Ricardo Barros é mais uma forma de aproximação com esses deputados na velha política do toma lá, dá cá.
Segundo ele, essa troca de líderes será vigiada e fiscalizada de perto. “Não fazemos parte desse grupo, não aceitamos a política que coloca interesses pessoais acima dos interesses da sociedade”.
O pessebista aproveita, ainda, para elogiar Vitor Hugo. “O deputado goiano Vitor Hugo teve um bom diálogo com a Câmara e, inclusive, com a oposição, apesar das diferenças ideológicas”.
Vitor Hugo
Pelas redes sociais, na quarta, o parlamentar agradeceu ao presidente “pela confiança em mim depositada durante esses quase 19 meses à frente da liderança do governo na Câmara. Muitos desafios superados e grande amadurecimento”. Ele também desejou sorte ao substituto.
Nesta quinta-feira (13), ele retomou o assunto: “Muitos dias e noites dedicados ao País na Liderança do Governo na Câmara, defendendo o projeto de Brasil do nosso presidente Bolsonaro. Agradeço aos líderes partidários, vice-líderes e todos amigos que torceram por nós. A guerra continua em outros fronts.”
Já Ricardo Barros publicou: “Agradeço ao presidente Jair Bolsonaro pela confiança do convite para assumir a liderança do governo na Câmara dos Deputados com a responsabilidade de continuar o bom trabalho do Líder Vitor Hugo, de quem certamente terei colaboração. Deus me ilumine nesta missão.”
Barros
Além de ministro da Saúde no governo Temer, Ricardo Barros é vice-líder do governo no Congresso. Em setembro passado, junto com a bancada de deputados do Paraná ele se reuniu com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, para discutir a indicação cargos ao governo.
Em dado momento, após cobrar espaço e verbas para aprovação da reforma da Previdência, Barros fez uma intervenção e disse: “Se precisar demitir o presidente nós demitimos, ele não pode demitir o Congresso. A palavra final é nossa, ele é que tem que querer estar de bem conosco. Se ele não quer, está ótimo para nós. O Congresso está vivendo um ótimo momento com essa independência — disse Barros à época.”
Segundo ele, o comentário não foi em tom de ameaça. À época, o deputado também relatou que a conversa com o ministro foi boa e que Ramos estava aberto ao diálogo.