Dinheiro é público?
Governos federal e estadual enfrentam problemas que envolvem dinheiro, eleição e reputação.
Dois fatos dominam o noticiário por aqui neste momento. Por aqui, um novo escândalo, envolvendo desvios na Saneago. Em Brasília, o início do julgamento no Senado do afastamento da presidente Dilma Rousseff. Duas crises instaladas, a partir de investigações feitas por policiais e procuradores. Também instaladas pelo verdadeiro fracasso que é a relação envolvendo homens, campanhas e dinheiro público.
Em Brasília, Dilma Rousseff sempre esteve atrasada neste processo. Lula teria que ser o seu coordenador político desde o início do segundo mandato, quando era patente a sua falta de habilidade política e a necessidade de manter uma relação estável com o Congresso. Assim como a própria presidente teve a chance de girar um botão e estabelecer um novo patamar nas relações políticas. Em 2013, após as grandes manifestações, ela fez cinco compromissos para ouvir o clamor das ruas. A única colocada em prática foi o Mais Médicos, que virou um dos seus cartões de visita na campanha política.
Agora, Dilma vai chegar ao Senado já com a fadiga de uma defesa, que cansou de bater na imprensa, nos políticos e na tese do golpe. O que já causa uma tensão com o próprio Judiciário, uma vez que seria o único golpe no mundo, com o aval do Legislativa e do Judiciário.
Mas Dilma vai ao Senado defender de própria voz seu mandato e sua trajetória. Já fez isso antes. E se deu bem. A ausência normalmente é combustível para discursos inflamados. A decisão de ir pessoalmente deveria ter sido tomada antes. Agora, serve apenas para cumprir o rito.
Feliz ou infelizmente, o que se discute é o que virá depois da decisão do Senado, tida como certa, em afastar Dilma.
É preciso esquecer pedalada ou decreto orçamentário. Dilma caiu por absoluta inanição política, embalada pela série de fatos denunciados na Operação Lava Jato.
Por aqui, o caso Saneago mostra que estamos longe do fim no combate aos desvios. Reputações são destruídas, estruturas inteiras colocadas em risco. Tudo pela relação nada franciscana entre homens e dinheiro públicos, sempre tendo eleições e ambição no meio.
Isso tem que mudar. Mas não muda.