Em meio à pandemia, aliado de Bolsonaro convoca ato para ‘encher o Palácio do Planalto’
Uma das principais recomendações da OMS e de epidemiologistas é a redução do contato social, evitando aglomerações
Em meio à pandemia do novo coronavírus, o secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia, convocou por WhatsApp uma reunião para “encher o Palácio do Planalto” de produtores rurais na próxima semana.
A mensagem de áudio foi encaminhada na quinta-feira (26) a um grupo de lideranças do agronegócio. Nele, Nabhan, um dos mais próximos auxiliares de Bolsonaro, diz que acabou de falar com o presidente, que quer receber os produtores “de braços abertos”.
“As portas do Palácio [do Planalto] estão abertas para quem trabalha, produz e carrega o Brasil nas costas. E é para semana que vem já”, diz o secretário no áudio.
Nabhan pede então para que os produtores já comecem a se mobilizar. “Estão convidados, de Mato Grosso, do Brasil inteiro. Quem produz, seja soja, milho, algodão, leite, carne, coco, eucalipto, seja o que for. A cana de açúcar, enfim. O presidente recebe com maior prazer o setor produtivo”, diz.
“[Bolsonaro] já me garantiu aqui agora, mandou dizer que recebe vocês com o maior prazer. Já me deu essa função de coordenar. Vamos começar a mobilizar e vamos encher esse Palácio do Planalto aqui semana que vem de produtor rural brasileiro e mostrar que o Brasil tem rumo, sim, e nós estamos juntos com o nosso presidente Bolsonaro.”
Com o avanço do novo coronavírus no país e no mundo, uma das principais recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e de epidemiologistas é a redução do contato social, evitando aglomerações. Ambientes com muitas pessoas –explicam os sanitaristas– são propícios para a disseminação do vírus.
O número de mortes pelo novo coronavírus no Brasil subiu para 92 nesta sexta, segundo dados do Ministério da Saúde. Até quinta (26), eram 77 óbitos. No Distrito Federal, há 230 casos confirmados. Há ainda pelo menos 25 pessoas próximas ao presidente Bolsonaro que testaram positivo para o Covid-19 –a maioria integrou a comitiva oficial que acompanhou o mandatário à Flórida (EUA), no início de março.
Procurado para comentar o teor do áudio, o Palácio do Planalto não se manifestou. Questionado nesta sexta-feira (27), Nabhan disse que o áudio é uma conversa de WhatsApp e que usou a expressão “encher o Palácio do Planalto” por ser uma “maneira cabocla” de falar.
“Isso é coisa de WhatsApp. Ninguém nem sabe se vai ser no Planalto. Isso é uma coisa de WhatsApp. A imprensa adora fazer… É uma conversa que a gente teve com algumas lideranças, de WhatsApp”, disse o secretário à reportagem.
“[É] maneira de dizer só. Primeiro que quem define onde vai ser e onde não vai [o ato] é a Presidência da República, e não nós. É maneira cabocla de falar, eu sou caipira, eu sou caboclo”, afirmou. Sobre o fato de, no áudio, ele dizer que planeja o ato para a próxima semana, Nabhan afirmou que está apenas intermediando um pleito das lideranças rurais e que ainda não há data para o evento.
Ele justificou ainda que o ato só deve ocorrer após o fim da validade do decreto do Distrito Federal (5 de abril), que, justamente para evitar aglomerações e reduzir o número de pessoas nas ruas, estabeleceu uma série de restrições de movimentação para a população, entre elas a proibição de eventos e o fechamento de comércio, bares e restaurantes.
“Eu não estou organizando nada. Estou recebendo pedidos aqui. Eu sou secretário especial do Ministério da Agricultura, estou licenciado de uma entidade ruralista e estou recebendo todos os dias pedidos de produtores querendo uma audiência com o presidente. Estou só intermediando esse pedido de vários segmentos produtivos, de Norte a Sul, de Leste a Oeste.”
Nabhan afirmou que vai esperar o término do prazo estabelecido pelo governo do Distrito Federal. “Mas que vai ter esse encontro vai ter”, disse.
Desde o seu pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, na terça-feira (24), Bolsonaro radicalizou o seu discurso sobre a Covid-19. Ele tem insistido que as pessoas voltem à normalidade.
A orientação do presidente contraria medidas adotadas por governadores, que têm aplicado regras de distanciamento social para tentar conter a disseminação da doença.
Bolsonaro, por outro lado, passou a defender que apenas as pessoas do grupo de risco sejam isoladas e o restante da população retorne ao trabalho, para, na visão do mandatário, evitar uma situação de caos e de colapso da economia.