Entenda por que a divulgação do resultado da eleição atrasou no domingo
Pela primeira vez desde o início das votações com urnas eletrônicas no país, houve atraso…
Pela primeira vez desde o início das votações com urnas eletrônicas no país, houve atraso na divulgação dos resultados das eleições.
Segundo o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, a demora se deu por causa de um problema técnico no sistema que processa a totalização de votos, sem relação com ataques de hackers sofridos pelo tribunal durante o domingo (15).
As falhas na divulgação alimentaram uma rede de boatos e notícias falsas nas redes sociais, que colocam em dúvida a segurança das urnas eletrônicas. Barroso assegura que os votos não foram comprometidos.
Além de serem auditáveis, as urnas não estão conectadas à rede de internet, o que inviabiliza ataques diretos que possam comprometer a votação.
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Entenda os problemas que aconteceram durante o primeiro turno da eleição.
O que provocou o atraso?
O presidente do tribunal, ministro Luís Roberto Barroso, explicou que a demora na divulgação dos resultados foi causada por uma falha em um dos núcleos no supercomputador que processa a totalização dos votos.
Para evitar que o sistema da Justiça Eleitoral fosse atingido por ataques de hackers, como ocorreu na primeira semana de novembro com a rede do STJ (Superior Tribunal de Justiça), o TSE resolveu desligar um de seus dois servidores da rede.
A medida, que era para reforçar a segurança do sistema do tribunal, acabou sobrecarregando o segundo servidor do órgão.
“Obviamente, houve um subdimensionamento ou problema técnico, sobretudo causado pelo desligamento de um dos servidores, uma coisa que não queria que tivesse acontecido, mas ocorreu. Tivemos uma dificuldade e vamos consertar já para o segundo turno”, afirmou Barroso.
Os votos foram comprometidos?
Barroso garantiu que o episódio não afetou os votos registrados nas urnas. “Não há nenhum risco de o resultado não expressar o que foi votado”, afirmou ele por volta das 21h deste domingo.
“As urnas não estão em rede, portanto não são vulneráveis a esse tipo de ataque. Não há nada sobre isso que possa interferir no processo eleitoral”, acrescentou o ministro.
O TSE sofreu ataques de hackers?
Sim. Durante o domingo, um grupo de hackers expôs dados do TSE em links para download.
A ação foi reconhecida pelo tribunal, mas os especialistas ouvidos pelo projeto Comprova –coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos– foram unânimes em avaliar que se tratam de dados administrativos antigos ou mesmo informações públicas, disponíveis no Portal da Transparência. Os bancos de dados acessados não teriam, portanto, nenhuma relação com as eleições.
Segundo Barroso, a tentativa de ataque à rede do TSE foi totalmente neutralizada com a ajuda de empresas de telefonia e também assegurou que não há relação com o atraso na divulgação dos resultados.
O presidente do tribunal disse que os ataques partiram do Brasil e de outros dois países. Houve “um grande volume de tentativas”, mas que não causaram danos.
“O ataque de hoje [domingo] foi totalmente inócuo. Sofrer ataques não é privilégio do site do TSE, isso vale para o Supremo [Tribunal Federal], Pentágono, Nasa. Ele veio de sucessivas tentativas do Brasil, Estados Unidos e Nova Zelândia. Foi um ataque distribuído.”
Como foram os ataques?
A organização SaferNet, que trabalha em parceria com o Ministério Público Federal no monitoramento de fraudes eleitorais cometidas pela internet, aponta que os ataques sofridos pelo TSE neste domingo foram uma “operação coordenada” para “desacreditar a Justiça Eleitoral”.
O tribunal foi alvo de negação de serviço (DDoS) contra os seus servidores.
Às 9h25 deste domingo houve vazamento de dados antigos obtidos de um banco de dados com informações desatualizadas sobre o sistema de recursos humanos da Justiça Eleitoral. O ataque que deu acesso aos dados, no entanto, foi feito antes de 23 de outubro, segundo a Polícia Federal.
“Apesar de o ataque ter sido feito antes de 23 de outubro, deixaram para publicar o vazamento dos dados na manhã de hoje [domingo], para causar mais impacto”, disse o presidente da SaferNet, Thiago Tavares.
“Em paralelo, deflagraram um ataque de negação de serviço [às 10h41] para tirar do ar o site e alguns serviços da Justiça Eleitoral”, acrescentou.
Tavares disse que os IPs usados em ataques de negação de serviço geralmente integram as chamadas “redes zumbis”, formadas por computadores infectados, que podem estar localizados no exterior e serem coordenados daqui.
O TSE afirmou que os IPs dos hackers que invadiram os sistemas do tribunal seriam de Portugal ou coordenados por um cidadão português.
Tavares também acrescentou que não há relação entre os ataques e o atraso na divulgação do resultado das eleições.
A urna eletrônica é segura?
O TSE afirma em seu site que, em 24 anos de eleições com uso de urnas eletrônicas, as suspeitas de fraude foram frequentes, mas que “nenhum caso, até hoje, foi identificado e comprovado”, e que órgãos como o Ministério Público e a Polícia Federal “têm a prerrogativa de investigar o processo eleitoral brasileiro e já realizaram auditorias independentes”.
Segundo o tribunal, há diversos mecanismos de auditoria e de verificação dos resultados que podem ser efetuados pelos candidatos, pelas coligações, pelo Ministério Público, entre outras entidades.
A urna eletrônica passa por processo auditoria pré e pós-eleição e lacração dos sistemas. No dia da votação, o TSE promove um sorteio de urnas eletrônicas que serão fiscalizadas. A ação é para verificar a autenticidade e demonstrar a integridade do processo eleitoral “para eleitores sem conhecimentos específicos em tecnologia”, como afirma o site do tribunal.
As urnas sorteadas são encaminhadas para os TREs (Tribunais Regionais Eleitorais), onde é feita uma simulação de voto. “Cédulas em papel são preenchidas e depositadas em uma urna de lona, para que os participantes digitem esses votos tanto na urna eletrônica quanto em um sistema específico que computará os votos consignados em paralelo”, explica o TSE.
Também no dia da eleição, cada urna eletrônica emite um comprovante com os votos recebidos, chamado de BU (Boletim de Urna). Esse documento é impresso pelos mesários e se torna público logo após o fim da votação –qualquer pessoa pode verificá-lo, inclusive no celular, com o aplicativo Boletim na Mão, desenvolvido pelo TSE.
“Além disso, os sistemas podem ser requisitados para análise e verificação, não somente no período de seis meses que antecedem o pleito, mas a qualquer tempo e pelo prazo necessário para se proceder a uma auditoria completa”, informa o tribunal.
O que garante a segurança da urna eletrônica?
O TSE afirma que as urnas eletrônicas são dispositivos isolados que não têm nem o hardware necessário para fazer uma conexão a uma rede com ou sem fio –o que inviabiliza um ataque virtual externo.
Para a contagem dos votos, um arquivo é retirado da máquina após o encerramento do período de votação e da impressão do boletim com o resultado daquela urna. Este arquivo é, então, enviado a um pólo de transmissão, que enviará os dados para que o TSE faça a totalização no seu sistema. Este, por sua vez, é conectado à internet.
Isso significa que, para invadir uma urna, uma pessoa teria de ter acesso a ela fisicamente –e efetuar a má conduta uma a uma.
“A urna funciona independentemente da internet. Todas as urnas são zeradas antes do início das votações, com a impressão da zerésima (relatório da urna), que comprova que nenhum voto foi digitado até aquele momento. A partir daí, todo voto dado é registrado”, explica o tribunal eleitoral.
O TSE também faz testes com os equipamentos antes das eleições para averiguar a inviolabilidade da urna. Neste ano, dos 13 planos de ataque feitos pelas entidades que participaram dos testes, apenas dois conseguiram obter sucesso parcial, sem chegarem ao resultado final.
Peritos da Polícia Federal conseguiram romper uma das diversas barreiras de proteção, mas não conseguiram alterar os dados de eleitores e de candidatos.
Quais mudanças o TSE fez em seu sistema de divulgação neste ano?
As eleições realizadas neste domingo foram as primeiras em que os os dados saíram diretamente das seções eleitorais para serem totalizados no TSE. Isso pode ter contribuído para a demora da apuração.
Segundo Barroso, essa mudança no modelo de apuração foi realizada antes de ele assumir o comando do tribunal, em maio.
“De fato houve uma alteração e a totalização passou a ser centralizada no TSE. Essa não foi uma decisão minha. Eu tomei posse em maio e o sistema já havia sido alterado dessa forma”, afirmou.
De acordo com o tribunal, os dados foram remetidos normalmente pelos TREs e recepcionados pelo banco de totalização, que estaria somando o conteúdo de forma mais lenta que o previsto.
Quais outros problemas ocorreram no dia das eleições?
Além do problema na totalização dos votos, o e-título, aplicativo que substitui o título de eleitor, localiza as seções e permite justificar a ausência, apresentou instabilidade durante o domingo, e eleitores não conseguiram acesso.
“Responsabilidade minha eu assumo. Portanto, o sistema tinha que estar preparado para receber todos ao mesmo tempo. Mas mencionamos que nas últimas 24 horas houve 3 milhões de downloads do aplicativo”, afirmou Barroso neste domingo.
Quais boatos foram disseminados nas redes após os erros?
O atraso na apuração, além das informações sobre os dois ataques contra o TSE, inflamaram uma campanha nas redes sociais com questionamentos à integridade do sistema eleitoral e dos resultados da eleição.
Perfis bolsonaristas e de outros políticos passaram o dia divulgando mensagens apontando para supostas fraudes eleitorais e falta de credibilidade do TSE.
O Twitter chegou a rotular uma postagem da deputada federal e candidata à Prefeitura de São Paulo Joice Hasselmann (PSL), que afirmou: “Fraude? Será? Tem todo o cheiro”. O tuíte recebeu o alerta
“Essa reivindicação de fraude eleitoral é contestada”.
O voto impresso seria uma opção mais segura?
Não, e isso já foi descartado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
“O STF descartou a possibilidade. Geraria um problema, todo candidato que perdesse pediria conferência e judicializaria o processo eleitoral, que deixaria de ser simples e seguro e passaria a ser uma convulsão judicial”, afirma Barroso, acrescentando que em 24 anos de uso nunca houve fraude nas urnas.
Além das auditorias antes e após as eleições, os boletins de urna são impressos ao final da votação em diferentes vias. Em caso de qualquer ataque ou suspeita de interferência externa, há provas autenticadas que permitem uma checagem segura dos votos.