Eleições 2018

Entre as mulheres, 51% ainda estão sem candidato a presidente

Quase 40 milhões de eleitoras estão indecisas ou pretendem votar em branco ou nulo

A duas semanas do primeiro turno, o número de mulheres sem candidato a presidente é elevado: na pesquisa Datafolha da última quinta-feira, ao responder de forma espontânea à pergunta “em quem você vai votar?”, 51% delas afirmaram ainda não saber (38%) ou pretender votar nulo ou branco (13%), o que corresponde a 39,4 milhões de eleitoras. Na ponta do lápis, para cada homem sem candidato, há duas mulheres na mesma situação. A pedido do GLOBO, o Datafolha mapeou seu perfil socioeconômico. O resultado revela que 45,3% moram no Sudeste e 54% ganham até dois salários mínimos por mês.

Este grupo, que totaliza 27% de todo o eleitorado, pode definir quais candidatos irão para o segundo turno, o que vai exigir dos postulantes à Presidência esforço redobrado para conquistar sua confiança na reta final. Na avaliação de cientistas políticos, os dados detalhados da pesquisa refletem a frustração com os políticos e o pragmatismo do eleitorado feminino de baixa renda, que ainda não conseguiu identificar entre os candidatos uma resposta a seus anseios.

Tradicionalmente, o eleitorado feminino costuma decidir seu voto mais perto do dia da votação, na comparação com os homens. A mesma pesquisa espontânea do Datafolha que apontou percentual de 51% das eleitoras indecisas ou que votarão branco ou nulo, revelou que, entre os homens, o índice era de 29% (20,2 milhões). Em junho, esse percentual era de 80% entre as eleitoras e 58% entre o público masculino.

— É um dado que certamente será observado pelos candidatos e deve orientar discursos de quem busca os indecisos. Há uma enorme concentração nas mulheres de faixa de renda mais baixa, para as quais pesam questões práticas da vida, ainda mais num momento de crise econômica. O preço do gás de cozinha, a creche para os filhos, o endividamento pessoal… — analisa o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio.

Quanto menor a renda, é maior o número de mulheres que não indicaram um nome na pesquisa espontânea do Datafolha. Do total de mulheres indecisas ou que votarão branco ou nulo, 87% têm renda mensal de até cinco salários mínimos. São poucas as que ganham entre cinco e dez salários (4,6%) e menos ainda as que estão na maior faixa de renda, com ganho mensal superior a dez mínimos (1,6%).

Na radiografia por região, o Nordeste vem em segundo lugar (26,4%), acima da região Sul (14,2%), e das regiões menos populosas, Norte (7,6%) e Centro-Oeste (6,3%). Se observado o grau de urbanização das cidades onde as “sem voto” estão, a pesquisa indica que 60% estão no interior e 40% nas capitais e outros municípios de regiões metropolitanas. Um sinal, para o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da UFMG, de que o discurso dos candidatos não chega às cidades pequenas e médias, onde ainda impera a desinformação.

A auxiliar de loja Ana Carolina Pinheiro, de 24 anos e moradora do Rio, é uma das indecisas. Conta que não vê nos candidatos boas propostas, principalmente para a educação. Ela descarta anular o voto. Já sua namorada, Raiane Meireles, que está desempregada, decidiu que não vai votar em ninguém.

— Não quero ter peso na consciência depois. Já tive isso no passado. Ninguém mereceu meu voto.

Para o cientista político Carlos Pereira, da FGV-Rio, a falta de identificação dessas mulheres com Jair Bolsonaro, candidato do PSL, contribui para o elevado número de indecisas.

— Há uma barreira grande para que (muitas mulheres) votem em Bolsonaro. Por isso, preferem esperar até o último minuto para se decidir — avalia Pereira, embora Bolsonaro cresça neste segmento.

Questões relacionadas às mulheres e como elas se relacionam com o candidato líder nas pesquisas voltaram a ganhar protagonismo nos últimos dias. Semana passada, o general da reserva Hamilton Mourão, vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, causou polêmica ao afirmar que o Brasil vivia uma crise de valores e que famílias nas quais não há pai ou avô, “são fábricas de elementos desajustados”.