Entrei para tirar Boulos do caminho, e Nunes não é compatível com Bolsonaro, diz Marçal
Marcando de 7% a 9% no Datafolha, dependendo do cenário, Marçal foi reconhecido por um eleitor na rua e fez piada com o andar do escritório: 13º
CAROLINA LINHARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Eram 11h33 desta sexta-feira (7) quando Pablo Marçal (PRTB) pousou de helicóptero na sede da Prefeitura de São Paulo, o edifício Matarazzo. Não, ele não é o prefeito, mas quer ser. O empresário, investidor, influencer e, segundo ele, ex-coach, se desloca pela cidade pelo ar e foi assim que chegou à entrevista com a Folha na sede do PRTB, no centro da capital.
Marcando de 7% a 9% no Datafolha, dependendo do cenário, Marçal foi reconhecido por um eleitor na rua e fez piada com o andar do escritório: 13º. O pré-candidato anda cercado de seguranças e assessores, cuja principal preocupação é arranjar helipontos para seus trajetos.
Marçal, que evita rótulos entre esquerda e direita, diz ter crenças parecidas com Jair Bolsonaro (PL), de quem gostaria de ter apoio, e se declara conservador.
Em Brasília nesta semana, ele esteve na votação do Conselho de Ética da Câmara em que Guilherme Boulos (PSOL) votou para livrar André Janones (Avante) da acusação de “rachadinha” e se encontrou com o ex-presidente, que reforçou apoiar o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Com 50% de conhecimento e 25% de rejeição no Datafolha, Marçal diz ter um alcance de 55 milhões nas redes.
PERGUNTA – O sr. corrige a imprensa quando é chamado de coach, mas o sr. já disse que, entre 2017 e 2018, foi coach de empresários e artistas.
PABLO MARÇAL – Assim como já fui atendente. Ninguém chama o Lula de metalúrgico. Eu não respondo por isso mais, não faço essa função. Hoje eu sou CVO [Chief Visionary Officer] do nosso grupo.
P. – Está entrando na disputa para ajudar Ricardo Nunes contra Guilherme Boulos?
PM – Não tenho nenhum tipo de acordo com ele. Dificilmente a gente vai ter. Não tem chance de eu ser vice dele, nem de ninguém, nem de desistir.
P. – O que acha da gestão Nunes?
PM – Ele parece ser uma pessoa muito boa. Olhando o que ele está fazendo, está muito bom agora. O problema é que não é assim o tempo todo. Nesses últimos tempos, ele acelerou e está usando o caixa todo de uma vez para mostrar que está fazendo serviço.
P. – Lula venceu Bolsonaro na capital paulista em 2022. Boulos tem chance de vencer neste ano?
PM – Zero. São Paulo não vai errar nunca mais. Não faz sentido colocar demagogo aqui. Promete acabar com a fome, mas não acaba. As pessoas com internet na mão -e isso vai ajudar a resolver essa eleição- não são bobas mais.
P. – Como vai conquistar o eleitor da esquerda?
PM – O povo não está nem aí para esquerda e direita. Vocês, da mídia, e os esquerdistas é que ficam falando disso. Eu não estou nem de um lado nem do outro. As pessoas querem comida, emprego, casa, esgoto tratado. Parece que alguém de esquerda é do social e alguém de direita é da gestão. Aqui, pela primeira vez, vai ter um pré-candidato que é gestor social. Vai tratar a pobreza como calamidade pública.
P. – Entre Nunes e Boulos, quem escolhe no segundo turno?
PM – Só se for um segundo turno imaginário.
P. – Vai fazer campanha pelas redes?
PM – O próprio Boulos está ajudando [a divulgar ao chamá-lo de “coach picareta”]. Ele está certo: eu sou uma picareta, no feminino, que é uma ferramenta de trabalho para remover essa pedra do caminho. Eu só entrei nessa pré-campanha para tirar ele do meio do caminho.
P. – O sr. foi ao Conselho de Ética da Câmara para viralizar?
PM – Desde que eu sou criança, não sei o que é, aonde eu chego sempre chamo atenção. Mas eu fui lá para ver um corrupto sendo cassado. E o que eu vi? Um cara que quer governar um PIB de R$ 1 trilhão sendo um passador de pano e institucionalizando a “rachadinha”.
P. – Quer o apoio do Bolsonaro?
PM – Quem não gostaria?
P. – No encontro com ele, o sr. disse que não pediu apoio. Como foi?
PM – A gente tem uma certa amizade e um respeito da minha parte por tudo que ele fez. Eu não pedi nada. Ganhei três conselhos, já estou na fase de conclusão do primeiro.
P. – Quais conselhos?
PM – É segredo.
P. – O sr. disse querer o apoio do Bolsonaro, mas também disse que é até bom que ele apoie o Nunes. Como assim?
PM – Bolsonaro deu uma granada sem pino na mão do Nunes. Não tem com ter o apoio do Bolsonaro se o vice não for o coronel [Ricardo] Mello. O problema é que o Nunes não assume ele [Bolsonaro] porque eles não são compatíveis ideologicamente.
Até mandei para o Bolsonaro o vídeo de uma senhora falando com Nunes: não é contraditório você ter apoio do Bolsonaro? Ele fala: não, eu que sou o prefeito. O barco do Nunes não aguenta o peso do motor do Bolsonaro.
P. – O sr. é compatível ideologicamente com Bolsonaro?
PM – Não concordo nem 100% com a minha esposa. Agora, a gente tem um sistema de crença muito parecido. Bolsonaro tem o estilo dele, eu sou mais ponderado, ele é mais explosivo. Não posso assinar embaixo da ideologia dele. Eu não sou comunista, não sou capitalista, eu sou governalista. Eu quero ver o povo levantando.
P. – O sr. diz que quem faz a coisa andar e traz prosperidade são os empresários e não o Estado. E quer deixar de ser empresário para ser prefeito?
PM – Para administrar a riqueza que é tomada. Uma chapa com dez partidos, já loteou tudo. O PIB está todo comprometido com politicagem. O que fez São Paulo chegar aonde está foi a mentalidade das pessoas do passado. Colocar um prefeito de esquerda aqui, extremista, meio que quase um maníaco, a potência dessa cidade vai cair. Fico imaginando as pessoas do passado, que deram a vida para construir isso aqui, ver uma merda dessa acontecendo.
P. – Sobrevoando a cidade, consegue ver os problemas que estão lá embaixo?
PM – Consigo. De um ponto a outro, você vai de carro, é uma hora e meia. Eu vejo só o seu farol ligado lá, uma fileira de carros. Eu tenho um novo sonho: não usar mais helicóptero em São Paulo. Falta inteligência no tráfego. Uma coisa que funciona: o sinal está vermelho, poder virar à direita. Isso não vai gastar milhões. Para as nove entradas que tem de rodovias na cidade, vamos criar bolsões de grandes estacionamentos e para fazer grandes eventos. Para quê? Ficar lá fora da cidade.
P. – Como resolver a cracolândia?
PM – Se eu não resolver o o problema da cracolândia, eu renuncio a tudo que estou fazendo aqui. O maior problema são prefeitos de outras cidades embarcando gente sem parar para cá. Isso é uma denúncia que estou fazendo.
P. – Sua proposta é mandá-los de volta?
PM – Não é mandar de volta. O problema é que é infinita a entrada [de pessoas]. E não existe tratamento forçado para quem não quer.
P. – Como diminuir a distância entre Morumbi e Paraisópolis?
PM – A gente tem que promover a mente da pessoa. O que está acontecendo hoje nas comunidades? Muitas entidades estão ensinando empreendedorismo. É a única forma de libertar alguém. Por que tem gente desempregada? Porque não estamos promovendo a mentalidade do povo. [Se for prefeito] Toda e qualquer tipo de instituição vai virar braço de ensino. De igreja a ONG, todo mundo. Para treinar financeiro, empreendedorismo, inteligência emocional, tecnologia.
P. – Vai bancar sua campanha com seu patrimônio de R$ 97 milhões?
PM – Não vou pôr um real do meu dinheiro. A última vez que eu coloquei, a Polícia Federal foi lá em casa me acusar de coisa que eu nunca vi.
A acusação é de que o sr. usou dinheiro da campanha para contratar empresas suas.
Eu usei minhas próprias aeronaves. Com o meu próprio dinheiro. Sou perseguido político.
P. – Por que o sr. diz que não é capitalista? Pega mal?
PM – O modelo capitalista é bom para quem dá conta. Mas não é para todo mundo. Tem um problema: não dá para promover o povo. Eu quero que todo mundo cresça.
P. – Está dizendo que o capitalismo explora as pessoas?
PM – Não, o capitalismo não explora ninguém. A pessoa vai até onde ela quer. Para ir mais longe, eu tenho que te libertar.
P. – Quando o sr. fez aquela expedição no Pico dos Marins (SP) e foi resgatado…
PM – Eu não fiz expedição. Vocês acreditam no que a mídia escreve, isso que é o problema do Brasil.
P – O que aconteceu então?
PM – Eu não promovi isso, eu subi por último. Pedi ajuda dos bombeiros porque eu perdi a comunicação com o grupo que estava abaixo. Tomei essa decisão para ninguém correr perigo. Não teve um resgate. A gente desceu com os pés que a gente subiu [acompanhados dos bombeiros]. A maioria das pessoas que estavam lá eram sócios, amigos meus. Estava ventando muito. Foi um grande aprendizado.
P – O sr. está preparado para administrar São Paulo ou vai ter que chamar os bombeiros?
PM – A montanha que tem aqui é de corrupção. São Paulo não é esse grande problema que todo mundo fala. Tenho um monte de experiência frustrante, já fiz muita merda na vida e já aprendi demais.
P. – Já teve alguma experiência na administração pública?
PM – Nenhum dos políticos que estão concorrendo colocaram mais dinheiro na máquina do que eu, porque eu pago milhões em impostos. Eu gero emprego. Isso é uma forma de administrar o público. Tem tanta coisa que eu não preciso conhecer, eu estudo. Quem ensinou o astronauta a ir para a Lua nunca foi lá.
P. – A AGU (Advocacia-Geral da União) acionou o sr. por fake news na questão dos caminhões de ajuda ao RS.
PM – A Rede Globo criou uma mentira, de que o caminhão não foi parado, eu provei. Eu mandei 144 carretas para lá, as duas primeiras foram paradas.
Pablo Marçal, 37
Nascido em Goiânia, é bacharel em direito pela Universidade Paulista. Empresário, investidor e influencer, tem mais de 10 milhões de seguidores só no Instagram. Notabilizou-se pela atividade como coach e pelo resgate pelos bombeiros de uma expedição sua ao Pico dos Marins (SP) em 2022. Pelo Pros, tentou concorrer a presidente e deputado federal em 2022, chegando a ser eleito no segundo caso, mas as candidaturas foram derrubadas pela Justiça devido à disputa pelo comando da legenda. É pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB.