CPI DA COVID

Ernesto sabia atuar de forma técnica, mas optou por ideologizar pasta, diz jurista

No sétimo depoimento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, o ex-chanceler e testemunha…

No sétimo depoimento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, o ex-chanceler e testemunha Ernesto Araújo demonstrou que tinha capacidade de ter atuado de forma técnica, disse a presidente da Comissão de Direito Internacional da OAB-GO, Fernanda Siqueira de Almeida. Para ela, o ex-ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro (sem partido) optou por agir de forma ideológica nas relações diplomáticas.

“O comportamento dele foi uma surpresa, se posicionando quase que de forma contrário ao que dizia quando era chanceler. Quando era ministro, usava o conhecimento diplomático para defender um viés ideológico no governo, mas na CPI utilizou das mesmas técnicas para evitar um resultado que não gostaria, mas só gerou irritação aos senadores”, observou.

Desta forma, para ela ficou clara uma posição de passividade, assustada, voltada à contenção de danos.

Principais pontos

Durante a oitiva, Ernesto disse que jamais provocou desavenças com o governo Chinês, apesar de já ter classificado o novo coronavírus de “comunavírus” e discutido com embaixador Chinês, pedindo que ele se retratasse por responder Eduardo Bolsonaro, quando o filho do presidente Bolsonaro culpou o país pela pandemia. O senador Omar Aziz, presidente da CPI, alertou Araújo sobre o compromisso de dizer a verdade. Para Erneste, contudo, a atuação diplomática dele foi boa. “Nada do que eu tenha feito pode ter levado a qualquer percalço no recebimento de insumos.”

“Jamais promovi nenhum atrito com a China, seja antes, seja durante pandemia, de modo que o resultado que obtivemos na consecução de vacinas e outros aspectos decorre de uma politica externa de acordo com nossos objetivos, mas não era de alinhamento aos Estados Unidos nem de enfrentamos com a China (…) Nunca tive discussões e atritos com o embaixador da China”, disse o ex-ministro, que também alegou não se tratar do governo chinês o artigo que citava “comunavírus“.

Já em relação a decisão de aderir a cota mínima de 10% no consórcio Covax Facility para aquisição de vacinas, o titular do ministério das Relações Exteriores responsabilizou o Ministério da Saúde – como fez com a importação de cloroquina.

“Jamais fui contra a iniciativa Covax. Assim que o Covax tomou forma, no começo de julho de 2020, após coordenação interna do Brasil, eu mesmo assinei carta dizendo que Brasil tinha interesse em entrar”, disse. O Itamaraty, porém, confirmou a intenção de participar somente em setembro, perto do fim do prazo final da OMS.

Cloroquina

Questionado pelo relator Renan Calheiros por esforços de na compra de cloroquina da Índia, Ernesto disse: “Naquele momento, em março, havia uma expectativa de que houvesse eficácia no uso da cloroquina para o tratamento da Covid, não só no Brasil. Havia notícias sobre isso de vários lugares do mundo. Houve uma grande corrida aos insumos da hidroxicloroquina e baixou precipitadamente o estoque de cloroquina. Fomos informados por isso pelo Ministério da Saúde no Brasil.”

Segundo Renan, naquele momento a OMS já tinha interrompido os testes com a cloroquina.

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello fala à CPI nesta quarta-feira (19). Já secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, na quinta-feira (20).