Estagnada nas pesquisas, Marina Silva redesenha estratégia de campanha
Com campanha de recursos escassos, ela depende de voos de carreira para se locomover pelo país.
A campanha da candidata da Rede, Marina Silva, tem redesenhado a estratégia para tentar fazê-la chegar ao segundo turno pela primeira vez, em sua terceira tentativa nas eleições presidenciais. A candidata apareceu estagnada na última pesquisa Ibope, divulgada na quarta-feira (5), com 12% das intenções de voto.
A ex-senadora passará a selecionar alguns eventos, como sabatinas e debates, e deverá priorizar as agendas de rua, principalmente no Nordeste do país. Marina pode se beneficiar do voto dos eleitores que ficaram órfãos da candidatura do ex-presidente Lula –embora ela diga oficialmente que “não trata voto como herança”.
Apesar de o foco da campanha ter sido ir ao encontro do povo desde o início, a agenda carregada de entrevistas concentradas no eixo Rio-São Paulo e em Brasília acabava engessando a mobilidade da candidata.
Com campanha de recursos escassos, ela depende de voos de carreira para se locomover pelo país.
Um dos fatores que também pesaram para a mudança foi o crescimento de Ciro Gomes (PDT), que subiu de 9% para 12% e empatou numericamente com Marina. Segundo a campanha, esse movimento já era visto como uma possibilidade.
Ex-governador do Ceará, ele tem boa entrada na região Nordeste e também briga pelos votos de Lula.
A estratégia já teve impacto na agenda da candidata nesta semana. Na quarta-feira (5), ela desistiu de participar de entrevista fechada em Brasília para fazer agenda aberta em Belém, no Pará. Também abriu mão de entrevista marcada para segunda-feira (10), quando irá a Salvador.
Na próxima semana, a presidenciável deve fazer um intensivo na região: além de Salvador, tem previsão de passar por Alagoas e Sergipe. Ainda assim, na terça (11), irá ao Rio para participar de sabatina.
A quantidade de convites para encontros fechados cria um dilema: Marina não gosta de se ausentar dos principais debates nem de perder a oportunidade de falar com lideranças empresariais e formadores de opinião, mas também deseja aumentar o volume de atos de rua e encontros com apoiadores.
Na primeira fase da campanha, com apenas 21 segundos de televisão, a candidata avaliava que o ideal era aumentar ao máximo a exposição na mídia. Para isso, a presença em eventos televisionados era fundamental.
“Agora já se consolidou a presença da Marina. As pessoas já sabem que ela é candidata”, afirma o coordenador político da campanha, Pedro Ivo Batista.
Além disso, a equipe quer explorar a boa recepção do vice Eduardo Jorge (PV) entre os eleitores. A ideia é fazer um maior número de agendas casadas e expor o ex-deputado nas transmissões ao vivo da campanha.
Na primeira fase da campanha, Eduardo era enviado para representar a chapa em entrevistas e eventos sempre que possível, mas sem Marina. As viagens solo devem continuar, mas agora a imagem do vice deve ser mais colada à da candidata.
O primeiro exemplo do protagonismo que o verde está ganhando foi a viagem dele a Roraima, no fim de semana passado, para ver de perto a crise dos imigrantes venezuelanos. Eduardo disse que a candidata pediu a ele para ir ao estado.
Na volta, ele fez um relato detalhado para ela e sugeriu propostas que podem ser incorporadas ao discurso de ambos.
Uma das estratégias traçadas pelos colaboradores, desde o planejamento inicial, inclui a presença de Marina em locais que tenham conexão com suas principais bandeiras.
Isso ocorreu, por exemplo, na ida a uma fazenda considerada ambientalmente sustentável em Goiás, na reunião dela com mulheres empreendedoras da periferia de São Paulo e na visita dela a uma escola de futebol para crianças carentes no Rio.
Além de reforçar compromissos com os setores, os encontros servem para rechear o conteúdo das propagandas e das redes sociais da ex-senadora.
Geralmente acompanhados pelas emissoras de TV, os atos também rendem imagens diversificadas para a cobertura dos telejornais sobre os presidenciáveis.
Nos últimos dias, por exemplo, Marina apareceu em vídeos e fotos andando em ruas de comércio popular, conversando com feirantes e chutando uma bola em direção ao gol.