Exoneração de Weintraub foi publicada quando ele já estava nos EUA
Decisão foi assinada pelo presidente; no cargo, o agora ex-dirigente da pasta tinha direito ao passaporte diplomático
O presidente Jair Bolsonaro publicou neste sábado a exoneração de Abraham Weintraub do cargo de ministro da Educação. Weintraub saiu do Brasil na sexta-feira, ainda com as prerrogativas de ministro de Estado, rumo aos Estados Unidos.
A publicação, em edição extra do Diário Oficial da União, ocorreu horas depois de o irmão de Weintraub, Arthur Weintraub, e a assessoria de comunicação do Ministério da Educação (MEC) confirmarem a chegada dele aos Estados Unidos.
A exoneração foi adiantada pela coluna do jornalista Lauro Jardim, do GLOBO. A informação de que o agora ex-ministro da Educação deixou o país e viajou aos EUA foi primeiramente divulgada na manhã deste sábado por seu irmão, Arthur Weintraub, assessor especial da Presidência da República.
Posteriormente, a pasta confirmou que o dirigente, demitido na quinta-feira, havia viajado aos EUA em um voo de carreira. Ainda de acordo com o MEC, Abraham Weintraub deixou o Brasil na sexta-feira, partindo de São Paulo. Em seu lugar, ficou, de forma interina, o secretário-executivo da pasta, Paulo Vogel.
Segundo publicações de Weintraub no Twitter, ele se encontra na cidade de Miami, na Flórida. Ontem, o ex-ministro publicou nas redes sociais que pretendia deixar o país “o mais rápido possível”.
Weintraub responde a investigações no Brasil por racismo e no inquérito que apura ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A demora na publicação da exoneração de Weintraub pode tê-lo ajudado a entrar nos Estados Unidos, que está com as fronteiras fechadas para a maioria dos brasileiros.
Como viajou na sexta-feira e ainda era, oficialmente, ministro de Estado, ele pode ter utilizado uma das brechas na determinação do governo americano que fechou as fronteiras do país a brasileiros por conta do novo coronavírus. Isso porque ela permite que funcionários governamentais possam entrar nos Estados Unidos, com o passaporte diplomático.
Além disso, como indicado do governo brasileiro a uma vaga no Banco Mundial, ele poderia alegar seu enquadramento na categoria de funcionário de organismo internacional. Nessa condição, no entanto, Weintraub poderia ser questionado pelo fato de sua ida ao banco ainda não ter sido oficializada.
Abraham Weintraub já havia feito, na manhã deste sábado, duas postagens no Twitter indicando que sua localização era a cidade de Miami. Às 8h17 e às 8h37 ele fez publicações nas quais a cidade americana aparecia como sendo a sua localização atual.
A ida de Weintraub para os Estados Unidos foi aventada ao longo de toda a semana e confirmada por ele em um vídeo na quinta-feira em que ele se despediu do cargo. Apoiadores diziam que sua saída do país se devia ao temor de ele vir a ser preso como consequência dos inquéritos nos quais ele é investigado.
Em sua despedida, contudo, Weintraub disse que “passaria o bastão” para o próximo ministro a ser escolhido e que participaria do processo de transição no MEC. Apesar da promessa, o novo comando da pasta não foi anunciado e nenhuma transição foi feita até agora.
Na última sexta-feira, Weintraub havia reforçado a intenção de deixar o Brasil, sem explicar as motivações, em uma publicação direcionada ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Nesta manhã, o ex-ministro publicou uma mensagem comemorando a marca de 900 mil seguidores no site, mas não comentou seu paradeiro.
“Aviso à tigrada e aos gatos angorás (gov bem docinho). Estou saindo do Brasil o mais rápido possível (poucos dias). NÃO QUERO BRIGAR! Quero ficar quieto, me deixem em paz, porém, não me provoquem!”, escreveu na última sexta-feira.
Inquérito no STF
O economista, que chegou a ocupar um cargo na Casa Civil de Jair Bolsonaro antes de substituir Ricardo Vélez Rodriguez no MEC, é investigado no inquérito das fake news. O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, na última quarta-feira, manter o agora ex-ministro na investigação após um recurso protocolado pelo ministro da Justiça, André Mendonça. Weintraub responde por seis infrações, incluindo crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social e difamação contra os juízes da Corte.
Na reunião ministerial de 22 de abril, cuja gravação foi liberada por decisão do ministro do Supremo Celso de Mello por ocasião do inquérito instaurado pelas acusações do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro de interferência política na Polícia Federal pelo presidente Bolsonaro, Weintraub defendeu a prisão de ministros do STF. No vídeo, ele afirma que apoia a prisão de “vagabundos, começando pelo STF”, apontando para a Praça dos Três Poderes.
No último final de semana, o ex-ministro compareceu a uma manifestação antidemocrática organizada por apoiadores de Bolsonaro. Desrespeitando um decreto do governo do Distrito Federal por circular sem máscaras, Weintraub foi gravado reiterando suas críticas ao Supremo. O episódio acelerou sua saída do ministério, que já era aventada desde o acirramento da crise entre o Executivo e o Judiciário.